Temos pequenos acumuladores de energia em nosso corpo. Esses acumuladores que nos permitem realizar as tarefas cotidianas de nossa vida. Tarefas que não exigem muito além de cumprir rotinas das quais nos submetemos. No entanto, é necessário acessar fontes maiores de energia para realizar algo especial, principalmente para trabalhar em você. E isso é possível porque também possuímos um grande acumulador de energia. A energia dos pequenos acumuladores não é suficiente para realizar seu crescimento interior e os esforços necessários de quem está comprometido com o caminho da evolução. Assim, devemos aprender a conectar diretamente com o grande acumulador nos nossos centros. Nos falta energia quando falhamos em realizar tal conexão. Por isso caímos em sono antes de produzir algum resultado duradouro.
Antes de mais nada, devemos aprender a conectar ao centro emocional. Quando o centro emocional é “violentamente envolvido” é que essa conexão com o grande acumulador ocorre. Todavia, podemos aprender a fazer isso de forma intencional. Portanto, é por meio do centro emocional que alguém consegue mobilizar a energia necessária para sua evolução futura. Assim como tornar-se capaz de assumir os superesforços necessários para vencer os obstáculos do caminho. Isso inclui aqueles esforços que abrem caminho para o desenvolvimento das partes superiores de seu centro intelectual. Afinal, tal abertura não pode ser realizada apenas pelo centro intelectual. Por isso muitos falham no caminho por confundir busca pelo conhecimento com sabedoria e desenvolvimento do ser.
O centro intelectual superior somente se abrirá com a correta nutrição, ou seja, com o correto fluxo de energia oriunda e transformadas em outros centros. Os centros são transformadores de energia. Já discuti esse tema em outros artigos que podem ser vistos aqui. Cada centro tem sua capacidade de absorver e transformar uma certa qualidade de energia.
Cada centro é também um aparelho transmissor em virtude das funções que lhe são exigidas para desempenhar na vida interior ou exterior do indivíduo. Finalmente, cada centro tem sua própria memória. Ligados à sua parte transmissora-receptora estão aparelhos de gravação feitos de matéria sensível, que seriam comparados hoje a e memórias de computador, mas que Gurdjieff comparou a cilindros vazios de cera.
Tudo o que nos acontece, tudo o que vemos, ouvimos, fazemos e aprendemos, está registrado nessas memórias (nesses rolos). Cada evento interno e externo deixa uma impressão nesses rolos. Na verdade, trata-se de impressões que podem ser profundas ou superficiais. Também podem ser passageiras e desaparecer muito rapidamente sem deixar vestígios. Além disso, essas inscrições ou impressões gravadas nos rolos dos diferentes centros estão ligadas entre si, no nível da mente comum, por associações.
Essas associações são muito importantes para entender o funcionamento da máquina. A máquina é construída de tal forma que, em certas condições, o registro das impressões dos rolos cria automaticamente uma tendência para que alguns deles se conectem. Dessa forma, quando uma memória é evocada, todas as demais memórias associadas a esta também serão lembradas. Essas associações são produzidas principalmente em dois conjuntos de circunstâncias:
- primeiro, quando as impressões são recebidas juntamente por um ou vários centros e são inscritas simultaneamente nos rolos correspondentes;
- segundo lugar, quando as impressões gravadas no mesmo rolo ou em rolos de centros diferentes têm certa semelhança (de modo que são mutuamente despertadas por um fenômeno análogo à ressonância).
Entender esses dois processos automáticos de associação permite usar a sua máquina em favor de sua evolução. Quanto ao primeiro tipo de associação, as impressões tornam-se fortemente ligadas quando diferentes impressões são recebidas em um ou mais centros simultaneamente. Por consequência, podem ser facilmente relembradas de uma só vez.
Isso faz com que uma pessoa comece a entender um certo grau de unidade em si. Dessa forma, todas as impressões recebidas de uma só ocasião, por diferentes centros, tornam-se ligadas e permanecem ligadas em sua memória. Esse processo auxilia em estabelecer essa unidade (unidade em si).
No segundo processo de associação, impressões interiores evocam respostas de outras impressões similares. Esse processo de ressonância cria um registro mais profundo das impressões. Assim, a inter-relação é automaticamente estabelecida quando impressões similares são repetidas no mesmo centro. Contudo, essas são as mesmas bases do condicionamento e hábitos mecânicos da vida ordinária. No entanto, ao se tornar mais consciente, as relações de similaridade tornam-se mais súbitas e mais completas.
Quando uma pessoa está absorta pelo estado das funções exteriores, estará totalmente em um estado de identificação. Dificilmente notará os eventos que geram impressões em seus centros. Eventualmente, poderá notar algo. Porém, as impressões são rapidamente depositadas em seu inconsciente e desaparecem antes das mesmas serem avaliadas e associadas. Com isso não há memória, não há lembrança de si.
Dessa forma, uma pessoa não reconhece conscientemente suas ações. Ao mesmo tempo, sua noção de “eu” está aprisionado a um padrão de repetição da qual ela acredita piamente ser sua totalidade. Então, um de seus três principais centros inferiores (mental, emocional ou instintivo) impõe a ela uma resposta inconsciente sobre os demais centros. O fato de se identificar com essa resposta como sendo “eu” faz com que ela rejeite tudo o que nega a essa reação. Por fim, esse padrão não só cria uma resposta de identificação como também de desassociação com sua unidade.
Então,não é raro ver pessoas irem buscar essa tal unidade em um “reino espiritual”. Dessa forma, o caminho de desenvolvimento espiritual se torna mais um engodo de identificação e desassociação. É uma grande armadilha que muitos acabam por cair. Devo ser honesto que também fui vítima desse processo por falta de orientação e correto entendimento. Não há como desenvolver uma verdadeira unidade espiritual enquanto não tiver construído em si a capacidade de associar e unir suas próprias energias.
Para tanto precisamos observar atentamente a ação de nossos três centros pela ação de suas funções. O primeiro estágio exige observar as funções, reconhecendo em tudo suas manifestações exteriores. Mais tarde se torna possível observar tais manifestações dentro de si através do esforço de reconhecer e entender suas tendências fundamentais que criam as manifestações exteriores. Em suma, é preciso VER o que você faz para poder buscar compreender o PORQUÊ você faz. Se você não notar que existe em ti um comportamento totalmente desarmonioso não consegue mover para a segunda etapa que exige compreender suas motivações interiores.
O conhecer a si mesmo passa por conhecer como sua máquina funciona, como seus centros funcionam e como as impressões recebidas associam automaticamente com respostas associativas. Respostas que levam a uma repetição de padrões de comportamento. Padrões de resposta do corpo, pensamentos recorrentes e aos mesmos sentimentos. Portanto, é necessário uma vontade maior de evoluir, de se conhecer. Caso não tenha essa vontade ardente de ver em ti a verdade dos seus comportamentos, sentimentos e pensamentos recorrentes, não é possível realizar essa observação desidentificada de sua falsa personalidade.
Assim, retornamos ao ponto sobre a importância de se conectar ao centro emocional superior. Esse centro não está identificado e não julga o que acontece. Está além de ilusões e conjecturas. Somente nesse estado não identificado que se faz possível a conexão com o grande acumulador. A primeira reação da falsa personalidade ao notar que está sendo observada é colocar o observador para dormir. O que você observa lhe julgará ou justificará seus motivos. Nada disso importa. O que importa é perceber o padrão. Porém, isso só é possível se há algo superior e pelo menos uma unidade embrionária. Caso contrário o efeito pode ser ainda mais danoso criando uma briga interna, mais cisão e identificação com o nível da falsa personalidade.
Estamos protegidos quando agimos motivados pelo centro emocional superior. Nada de ruim pode acontecer. Não criamos danos em nossa estrutura interior. Temos a capacidade de absorver nossa própria dor ou simplesmente ser o que é. Sem sofrer desnecessariamente.
Continuaremos depois sobre as funções dos centros. Uma ótima semana de estudos para todos.
Lauro Borges
Esse artigo faz parte de uma série sobre trechos, notas e comentários sobre o livro Toward Awakening: An Approach to the Teaching Left By Gurdjieff” de Jean Vaysse.
Eu fico pensando se só vou avançar do ponto que estou estagnada há um tempo quando tiver certeza que tudo, absolutamente tudo que sinto físico e psicológico é tudo alguma parte do meu eu e não sofre influência externa. Porque sempre que começo avançar sinto ataques energéticos que sei que não não deveria ter na condição que alcancei com meu esforço disciplinado naquele momento, no entanto, capto, absorvo e sofro coisas que estão fora de mim e me sinto impotente com isso.
Mas é preciso ter força continuar até conseguir.
Precisamos exercitar mais isso e conversar mais intensamente sobre isso.