Redescobrindo o Amor no Trabalho.

O amor é um tema que muita gente acha clichê. Ou brega. Tem também as pessoas que simplesmente desistiram, acham que até existe, mas é raro ou impossível de encontrar. Fato é que, existe escolas e escolas de mistérios, mas as que perduram os séculos são, definitivamente, as linhagens de compaixão e caridade, seja no oriente ou ocidente.

Tudo que fazemos há uma certa tendência mecânica. Isso acontece porque a gente se afastou da grande Chama do Amor. Por isso que em certas ordens iniciáticas, existe os chamados Os Guardiães da Chama.

No ocidente, se associou no passado ao corpo da guarda da chama, do fogo do Amor Universal, um ente feminino que chamaram de diversos nomes, mais conhecida como Hestia, ou Vesta. Essa entidade, que no mundo materialista, frio, contemporâneo, onde a manipulação de massas impera cegando os incautos a respeito da beleza e do assombro do natural e do além do natural, nesse mundo onde finge-se que a magia da vida não existe e qualquer pessoa que tenha um sopro de vida é ridicularizada, nesse mundo gélido no mal sentido, chamam estes entes, essas entidades, de arquétipos. Um corajoso ou outro tem a ousadia de dizer que os símbolos são vivos e se manifestam de forma real no nosso universo concreto, tem até escolas de psicologia, mas são raros e são mal compreendidos.

Ainda existe ordens de mistérios que guardam esse simbolismo, através de seus rituais e estudos, onde o símbolo arquetípico de Vesta é vivido através de pessoas que dedicam suas vidas, ao menos parte delas, ao serviço que chamamos de serviço das Vestais do Templo, guardando a Chama Sagrada, onde deve viver o Fogo do coração. Pasmem senhoras e senhores, isso ainda existe enquanto lhes falo no ano da graça de 2021. Considerando milênios de opressão do ente feminino em geral, de forma mal explicada pela história formal, temos que considerar que esse conhecimento deveria ter desaparecido. Por que não foi aniquilado?

Alguém ou algo, que provêm do Amor, poderia aniquilar o amor, poderia aniquilar a si mesmo?

Em tradições de linguagem mais moderna, esse fogo é chamado de Chama Trina. Infelizmente o conhecimento da chamada nova era foi se popularizando de forma a perder o senso de sagrado, mas a chama trina, a questão do trino, não é um conhecimento de hoje e sim vem da sabedoria dos séculos guardada no coração dos homens e mulheres de real boa vontade, passada de lábios a ouvidos e penso que talvez, continue sendo assim por séculos e séculos, devido a volatilidade dos sentimentos por certo ainda muito mecânicos do ser humano.

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Nada mais caro, precioso ao Universo e á sua conexão interior, do que prestar a atenção pura e simplesmente ao que lhe acontece. Sem nenhuma pretensão, totalmente abandonado ao seu trabalho interior. Como uma criança. Como algo que você nunca deveria ter deixado de ser. De Ser.

A entrega é um dom do ser humano. Curiosamente, digo assim porque não compreendo os porquês de nada, me satisfaço em saber que não sei e continuar investigando, sabe-se que são os entes arquetípicos femininos em geral que nos ensinam a capacidade interior de entrega. Mãe Maria entrega seu filho Jesus ao grande sacrifício pela humanidade. É algo muito grande esse simbolismo, essa grande Demeter. Mas isso existe dentro de nós, é tão simples. É prestar atenção, é entregar-se a si mesmo de momento a momento. Por que você não tenta?

Alguns chamam isso de atenção consciente, atenção plena, estar presente, ou dentro do misticismo cristão chamam de orar e vigiar, porque o Espírito é forte, mas a carne é fraca.

Vontade e disciplina. Que possamos trazer para dentro de nossos corações, cheios de amor, a Vontade e disciplina da afirmação do sagrado masculino, a entrega da atenção consciente do feminino da Graça da Deusa, para criar nosso trabalho, o Filho.

Nossa terceira força no trabalho interior.

Mas prestai atenção, que o Filho e a Filha sejam animados pelo Santo Espírito. A sabedoria interior, a auto maestria, o poder de decisão conectado com a Essência jamais é mentiroso. Nossa consideração externa é profundamente amorosa para com nossos semelhantes, mas sobretudo, é profundamente sábia. Chamam essa entidade, que hoje se vê como arquétipo, de Palas Athena.

Athena não poderia ser vencida nem pelo deus da guerra, Ares.

Porque é da estratégia do coração com sua sabedoria profunda que se vence a ignorância dos séculos, não pela barbárie. Ela veio da cabeça de seu pai. Novamente vemos a conciliação masculino feminino, dentro de nosso trabalho interior.

Através da nossa capacidade amorosa de conciliar os opostos, podemos olhar com uma compaixão do tamanho do mundo por nós mesmo, olhar para cada dor com a coragem de uma Palas Athena e ousadia de um Ares, olhar de verdade, sem desviar desse abismo interior, sem fingir que não conhece o ‘terror da situação’ como diz o querido mestre G., olhar para nosso sofrimento diário talvez de séculos de prisão da alma e a consideração interna se torna plácida como um lago, calmo, escuro, profundo, sereno, limpo. Veja que não é necessário mentir e sim ter compreensão das faces a serem usufruídas com bom senso, responsabilidade, amor verdadeiro. Você vai precisar da sua face de Zeus, você vai precisar conversar de peito aberto com você e com as pessoas, seu Hermes atuando, você vai precisar da estratégia de Athena.

Assim sendo, agora utilizando com muita coragem as ferramentas que lhe foram dadas pela Graça da Caridade Universal, pelo amor da Deusa, pela ação crística bondosa do Pai, você começa a observar com claridade como o mundo realmente é. Agora você começa a viver com sabedoria.

Salve a coruja de Palas Athena.

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Sabendo que precisa ser quente, ou frio. Os mornos serão vomitados já diz um livro sagrado ocidental. Escolhendo ser Guardião da Chama, ser amoroso, agora você presta atenção, finalmente você está vivo de verdade. Assim sendo, haverá momentos de grande desânimo, dias cinzentos sem graça, sem ‘graça’, entende? Nesses momentos é que a Chama do Amor está se apagando. Dizem por aí, de forma que muita gente critica quando houve alguém se expressando assim num texto ou forma oral que se refere a assuntos ‘sérios’, porque essa não é uma expressão de gente ‘séria’, mas a verdade é que você terá momentos em que perde o tesão. A vontade, o desejo interior de liberdade. O prazer de viver.

Normal.

Acontece nas melhores famílias.

Nesse momento, você só vai conseguir ser transcendente, sacrificar a tua dor, se você for humilde e souber seus limites hoje. Amanhã, se você acordar vivo, tudo bem, você pode ser melhor, mas hoje, você precisa ter a honestidade crua de saber o quanto você é capaz de sacrificar. Você não vai dar seu filho para ser crucificado na cruz e ainda agradecer a Deus. Você não tem esse nível de Demeter em seu coração, poucos homens e mulheres são capazes desse supremo amor incondicional, Deus não é um crossfiteiro de plantão, não existe um concurso de sofrimento com medalha no final. Você precisa ser honesto, se sofre, sofra, só não faça disso um prazer, não fica masoquista, sabe? Só o necessário, o resto você sacrifica sem reprimir, por favor, para de reprimir a sua dor fingindo que trabalha sobre si, faz só oque é verdadeiro em ti.

Essa verdade de conhecer o próprio prazer, conhecer seus limites, alimentar a si com prazer, alegria, libido, desejo de viver e ser a si mesmo de forma a transbordar do peito pela garganta até explodir pela cabeça, uns acham que é uma técnica do oriente, a Kundalini, outros de viés materialista acham que é a força amorosa que move o mundo todo, a libido de Freud. E ainda, outros que não perderam a visão da magia da vida, sabem que se trata de um ente, uma entidade feminina chamada Afrodite. Algumas culturas chamam de Vênus.

Quando você olha para si mesmo com honestidade, sabe que por dormir na consciência, às vezes causa sofrimento ao próximo. Tendo essa atenção no seu trabalho interior, sacrificando com honestidade seu sofrimento, não há perigo de você se tornar frio e egoísta, mascarado de trabalho interno. Você não vai ser egoísta e distante de quem precisa de você, porque tu tens a Vênus, nascida da espuma do mar, representada por uma concha. Ela é a Rainha do Mar, das pérolas, da beleza de ver uma criança e uma pessoa velha com o mesmo assombro.

A vida é magnífica. Se você olha no espelho e vê a beleza eu não disse se você se acha bonito não, por favor me entenda direito, eu disse que, se você se olha no espelho e vê a beleza, você entendeu seu Trabalho. Você está dentro de você. Você está dentro da sua consideração interna serena, a pesar de todos os sofrimentos que vem da convivência com pessoas que sofrem ainda de forma ignorante e infelizmente te fazem sofrer, te arrastam nessa lama.

Esse é um mundo muito difícil, tem gente ruim nesse mundo, mas digo a você, se tu és capaz de ver a beleza em ti, no outro, na vida, tu tens uns um autêntico trabalho interior.

Você deve aprender a dizer eu te amo.

E esse foi o ensinamento de Afrodite.

*

Um lugar cheio de lodo, frio, escuro. Já vimos essa cena em filmes, tem até livro sobre regiões obscuras, onde há sofrimento.

Sobretudo, essa lama fria e essa escuridão representa algo comum nesse nosso mundo de hoje, o abandono.

De que serve teu conhecimento de atenção, se não serve ao outro. Se não és capaz de dedicar ao outro ao menos a tua capacidade de ouvir o sofrimento do mundo, se for muito, o sofrimento daqueles aos quais você cativou o coração. Por compaixão.

Porque o que tira uma pessoa, uma forma pensamento, uma holografia ou sei lá o nome que vocês queiram dar, oque tira alguém do lodo do abandono, é um olhar quente e amoroso, de profunda aceitação e acolhimento.

Não é preciso muito diploma nem muita técnica, mas se tiver tudo isso e não tiver a a capacidade de olhar com amor, com verdadeira conexão pelo outro, a gente não sai do lodo, a gente não tira ninguém do lodo.

De forma que, vejo o legado do querido mestre G. como um ato de confiança em mim.

Você compreende o que é compaixão? Desde que o outro queira, é um ato de confiança no outro. Um olhar quente, penetrante, de vitória, de acolhimento. Um silêncio que diz tudo.

Assim se sai imediatamente do lodo, do pranto e do ranger de dentes, assim se limpa purgatórios, infernos e todas as ‘salas e antessalas’ de maldições criadas pelos homens e mulheres vítimas de sua própria ignorância.

Amar é um ato de sabedoria e você precisa ter sabedoria para saber amar.

De posse dessa capacidade de compaixão, então chega o momento da realeza interior. De ser como Hera, uma autêntica rainha, com poder de comando de si, de suas faces. Que os raios de Zeus dentro de nós sejam para rasgar a noite da escuridão da alma com luz e não por descontrole e intenções que trazem sofrimento ao próximo, caindo no poder pelo poder.

*

O momento perigoso do Trabalho, quando se é antigo, que se acha que acha alguma coisa, que sabe alguma coisa, que o outro não sabe nada, que se sabe mais.

Por isso que Hades o acolherá e te mostrará o teu inferno interior criado pela tua soberba, fruto da tua falta de verdade, falta de olhar no espelho de Afrodite, e ver a si completo, com luz e sombra. Ah não, eu sou só luzinha, sou o alecrim dourado do rolê.

O momento em que a vida vai bem, todo mundo te aplaude, supostamente te ama. Ai de ti se acreditar. Porque o amor é silencioso. Não que as pessoas que reconhecem ao outro e fazem festa e barulho sejam mentirosas, não é isso não, mas vamos ter cuidado com o sucesso, com o fracasso, com o suposto acolhimento, com o suposto abandono. Onde você deve estar? Aconteça o que for, esteja dentro de você, na tua bondade, dentro do teu Cristo interno. Seja bom para ti, seja bom pro outro, se concentre, não se distraia com fracasso, prolongados, não se distraia com sucessos que parecem não ter fim. Preste atenção…prestai atenção estudante de si…há muitas armadilhas…

Se você prestar atenção aos opostos, você então conhece ela.

Ela, Perséfone, a rainha do Submundo. Se você entendeu que tudo é uma ilusão, um jogo que não tem jeito, você precisa jogar para sair dele, você desceu aos infernos de Hades e Perséfone. Até o bondoso Jesus desceu a mansão dos mortos, para depois ressuscitar ao terceiro dia. Esteja atento ao seu terceiro dia, esteja atento às três forças do trabalho, concilia, harmoniza, cria seu quarto caminho o quanto antes. Despertai.

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E para terminar nossa jornada da Deusa, chegamos em Ártemis, Diana a deusa virgem caçadora. A autêntica pureza interior.

 Sem prestar atenção a um palmo na frente do seu nariz, como vai trabalhar sobre si? Se não tem vontade com alegria, não tem prazer em trabalhar na construção de tua alma, como ousas dizer que tens uma? Se olha para o outro perdido no lodo e vê como um problema dos outros, se és frio e egoísta, como vai trabalhar no sacrifício da tua dor, porque tu não tens compaixão, tu já és o lodo. Como vai ter vontade e disciplina, como vai ter poder de mando em si mesmo, se não reconhece as próprias fraquezas?

Todos nós podemos ver nosso trabalho interior como um caminho. Provável que seja um caminho difícil, sim eu não vou mentir para você. Mas eu posso dizer que, se você se mantiver corajoso e amoroso, talvez a gente se encontre, sempre em frente. Haverá momentos de perdas, de grandes decepções. Mas isso virá porque você precisa ver a verdade.

Quando a torre for fulminada, você verá a verdade.

E isso não tem preço.

Gisele é musicoterapeuta e musicista. Esse artigo foi escrito como parte de um processo de diálogos, estudos e trabalhos que foram desenvolvidos tendo como base o Eneagrama e uma adaptação da jornada do heroi para uma jornada da Heroína.

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