Vida orgânica e a escala cósmica

A nossa localização na escala cósmica começa inevitavelmente na vida orgânica. Somos seres vivos e de base orgânica. Isso significa que fazemos parte de uma escala que exige certas condições especiais. Além disso, possui suas próprias características. Os astros, planetas e sois de todo o universo observável seguem regras matemáticas e leis físicas para surgirem.  No entanto, não há uma lei matemática para o surgimento da vida orgânica. O motivo de sua existência é um grande mistério.

Deus joga dados?

Alguns teorizam que, assim como o universo, a vida orgânica é só uma questão de probabilidade. Uma vez que se junta todos os elementos, observada uma certa condição, essa vida surge espontaneamente. Se considerar as bilhões de estrelas e planetas , uma hora haverá essa condição. É uma questão de tempo e tentativa. E tempo é uma das coisas mais difíceis de realmente entender.  Afinal é uma medida basicamente humana. Em um universo infinito, com duração infinita, uma hora por acidente algo acontece.

Essa tese, apesar de ser difícil de refutar, ainda não explica o porque esses organismos evoluem. Porém, ainda podemos esticar a tese de que tempo, tentativas, acidentes e mudanças de ambiente forçam que a vida orgânica se adapte. Essas adaptações e mutações  criam a possibilidade da evolução. Todavia, uma característica interessante dos seres orgânicos é que esses participam de sua própria evolução ou transformação. A vida possui um impulso próprio de persistir e de existir. Portanto, podemos chamar isso de vontade e esforço.

DNA, a biblioteca da vida orgânica

Hoje sabemos que a grande mola propulsora da vida orgânica tem mesmo um formato de mola: a molécula de DNA. E como podemos definir o que é a vida? Uma definição simples é dizer que um organismo vivo é aquele que tem a capacidade de reprodução e manutenção. Ou seja, tem a capacidade de se preservar o máximo possível. Um organismo vivo terá de se alimentar de algo externo a si. Isso é, precisa de obter recursos externos, digerir e fazer disso materiais que possam ser usados para a própria manutenção de sua vida.

Todavia, algo define uma data de fim, uma vida útil para todos os organismos vivos. Assim, a manutenção do próprio organismo fica comprometida. Porém, essa vida orgânica aprendeu um truque para alcançar a imortalidade. Ela aprendeu a se reproduzir. A fazer cópias de si mesmo e assim permitir que essa vida coletiva perpetue por muito mais tempo que a própria vida do organismo.

Então, a vida orgânica é uma máquina de repetição. De um constante “cópia e cola”. Algumas teorias irão então dizer que nesse processo de copiar e colar, uma hora irá acontecer acidentes. Em outras palavras, mutações acontecem e criam algo diferente. E esse algo diferente gera uma diversidade de soluções. Mais uma vez, em um espaço e tempo infinito, uma hora alguma dessas soluções irá se tornar mais complexa que a própria vida orgânica. Isso aconteceu com alguns mamíferos. Esses animais criaram uma relação social complexa entre eles que permitiu gerar ganhos para a vida coletiva. Dentre todos os mamíferos, os primatas e dentro dos primatas os hominídeos e dentro dos hominídeos os sapiens.

Camadas orgânicas

Cada um desses grupos foram criando camadas de evolução que permitiu um salto extra para a nova geração. No entanto, a vida orgânica ainda exige uma simbiose. Nós dependemos de vírus e bactérias para a digestão de nossos alimentos. Somente a vida orgânica vegetal tem a capacidade de transformar luz e alimentos minerais em matéria orgânica. Então, não podemos ignorar a existência de toda a base da vida. Essa base é mais do que um passado. É ainda presente em tudo que a vida se manifesta.

Contudo, os sapiens e seus primos foram os únicos que obtiveram êxito em criar algo além do básico de se manter e reproduzir. Criaram uma cultura onde foi possível desenvolver uma psique além da vida orgânica. Para viver essa vida orgânica não  é necessário muita coisa. Basta viver como um cão. Isso é, não há muitas exigências além de manter-se e reproduzir. Basta viver como os seres de dois cérebros. Assim, comer, dormir e sexo são realmente o que importa.

O medo da morte é mais uma repulsa do mecanismo de manutenção da vida que um medo do desconhecido. Não há receio sobre uma vida após a morte porque a vida é a própria morte. Também é a própria ressurreição. Afinal, a vida é um reflexo do universo de que tudo se alimenta de algo e o transforma. Não há necessidade de se preocupar com nenhum conceito esotérico, religioso ou filosófico. Afinal não há um “eu” que se identifica muito além desse eu coletivo.

A lei do acidente anda junto com a evolução

No entanto, estamos em um grau de complexidade tal que não mais vivemos imersos na natureza. Contudo, mais um acidente aconteceu. Em um determinado momento algo nos colocou mais conscientes em relação a esses mistérios da vida. Em algum momento surgiu a primeira pergunta filosófica de todas: o “por quê”. Por quê temos de morrer? Por quê a vida evolui Em direção ao mais complexo? Por que o ser humano precisa perguntar o porquê? Junto com isso vem o conceito do indivíduo que não é o coletivo. Que teme sua própria morte e teme a natureza.

Nesse último acidente, um ser de três cérebros surgiu. Juntamente, uma nova cultura que agora não visa somente transmitir o básico e necessário para se manter e sobreviver. Contudo, uma cultura que transmite também conhecimento e compreensão sobre a vida e o universo. Esse mundo psíquico está em outro plano além do plano da vida orgânica. Depende da vida orgânica para existir como ser vivo. No entanto, essa psique está além disso. Ela busca se libertar da sua própria criação inferior. Daí surgem entendimentos como os deuses e deusas que criaram o mundo e os seres humanos a sua imagem e semelhança. Logo, o ser humano é posto no centro do universo.

Para Gurdjieff, esse entendimento do ser humano no centro do universo é um erro sobre o entendimento do raio da criação.  Afinal o ser humano está em uma condição em que não é nem mais um animal e nem está além disso. Essa é a condição intermediária do ser humano. Um ser que dialoga com essas forças superioras e inferiores. Logo, está no centro de um universo “criado para ele”. Definitivamente, o ser humano está fadado as mesmas leis do universo que lhe impõe a manutenção, cópia, adaptação e evolução.

Somos um sucesso?

Quando olhamos o ser humano como vida orgânica, dentro dos critérios da evolução, podemos concluir que esse é um caso de sucesso. Basta ver o número de sua população e presença global. Quanto mais se partimos do conceito que tudo começou com um pequeno grupo de hominídeos saindo da África. No entanto, por que essa afirmação não parece ser tão fácil de ser aceita como verdade? Não seria porque a nossa cultura progrediu além da vida orgânica? Dessa forma, essa outra vida transcendental ao animal não pode achar que basta viver para ser um caso de sucesso. E essa “outra vida” exige muito mais que uma simples existência animal.

Ao observar a evolução pelo raio da criação, não há uma exigência de uma presença de Deus. Muito menos de um deus de barba branca apontando o dedo para todos os seus erros. Por outro lado, também permite dizer que a vida surge através dessa dinâmica universal. Uma dinâmica que

  • Está sujeita a lei do acidente e necessita dos acidentes para provocar o novo
  • Possui um esforço e vontade contínua
  • Vive de se alimentar de materiais externos a si e os utilizam para transformação
  • Desenvolve por camadas de complexidade dentro de uma incrível simbiose
  • Vence a morte pela capacidade de reproduzir, ou seja, copiar e colar

Todavia, essa dinâmica não exclui a existência de uma força inteligente e criadora. Assim, ela não refuta e nem comprova a interferência de qualquer força divina nessa relação evolutiva. Contudo, Deus pode ser substituído por todas essas diferentes perspectivas evolutivas desse animal humano sobre ele mesmo. Logo, o conceito do que é divino evolui juntamente com a nossa compreensão sobre a vida e sobre o universo. Dessa forma, todos os seres humanos que viveram ou ainda vivem, contribuíram e contribuem para essa evolução desse corpo além da vida orgânica. Porém, essa evolução coletiva dita um ritmo a nossa evolução própria evolução. De uma certa maneira, você sempre estará descontente com o tempo (era) que se vive. Principalmente porque essa vida, desse corpo coletivo não orgânico, ainda não atingiu sua maturidade.  

Qual a velocidade da evolução?

Eventualmente você se questiona de o porquê não ser possível fazer essa evolução acontecer mais rápida. Entretanto, será que não é possível ou é por que a maioria das pessoas não estão dispostas a pagar esse preço? Será que as pessoas estão realmente dispostas a contribuir mais do que o mínimo exigido pela natureza de sua própria existência? Daí, você pode perguntar para si se realmente você está disposto ou disposta a contribuir mais para isso. Logo, se você for sincero realmente irá observar o tanto de sacrifício que isso lhe exige. Assim, você pode ponderar que isso é realmente algo grande a lhe ser exigido. Portanto, não devemos criticar ninguém (do ponto de vista do Trabalho) se também não conseguem contribuir com mais.

No texto anterior sugeri ponderar sobre o raio da criação e a escala cósmica. Talvez você tenha observado como despejamos nossas frustrações e expectativas em cima de todos os outros seres humanos. Como julgamos nossos pais e antepassados pelos seus erros. Mas veja que pela escala cósmica, tudo está certo. Não há problema no mundo, somente experiência. Contudo, a pergunta é se a experiência humana está indo bem ou se ela precisa de correções para continuar existindo por mais um tempo. Afinal, essa experiência precisa existir até ter completado o seu próximo ciclo: o da criação da próxima estrutura que permitirá a perpetuidade do Ser. Mas isso fica como assunto para a próxima semana.

Uma excelente semana de estudos para todos vocês

Lauro R. Borges

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5 comentários em “Vida orgânica e a escala cósmica”

  1. Relendo pensei uma nova consideração, a principal dificuldade está em enxergar com compreensão o que é a evolução do ponto de vista humano, enquanto a evolução for individualizada como aprendemos e herdamos crenças de que é o que devesse ser, não há evolução possível porque o rumo seguido é oposto do rumo da verdadeira evolução mesmo orgânica.

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  2. Acho que o homem evoluiu, tomou decisões que propiciou formar pensamentos complexos, cálculos matemáticos e entendimentos do funcionamento do universo….mas essa máquina não humana desviou-se do verdadeiro sentido de possuir tais aptidões e precisa urgentemente voltar pro caminho certo indicado e reconfirmado pelos mestres Jesus, Budha e todos os outros.?

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