Quando estudamos sobre nossa essência e personalidade, também devemos estudar sobre as diversas formas de Influências que recebemos. Acima de tudo, saber reconhecer nos permite discriminar as influências criadas na própria vida e as influências que vêm de uma fonte fora da vida. O caráter especial desse segundo tipo é o chamado para nos voltarmos a nós mesmos e a “compreensão”. Assim, para cada um de nós, tudo depende do nosso desejo de compreensão. Também da nossa capacidade de reconhecer, entre as diversas influências que nos atingem, aquelas que podem aumentar a nossa compreensão. Este é o papel que o centro magnético assume em nós. (veja parte 3 aqui)
O centro magnético
Muitas pessoas suspeitam da importância dessa distinção no início de sua vida. No entanto, param de perceber essa diferença depois. Todavia, se uma pessoa ainda é capaz de ser suficientemente sincero, ou ainda, se um choque inesperado desperta essa sinceridade, influências do segundo tipo despertam nele um novo interesse quando o tocam. Essa pessoa voltará por um momento para a essência. Reconhecerá o ser, e tudo o que diz respeito à compreensão do que ele é. Assim, seu centro magnético começa a agir nele por um momento. Todos somos sensíveis a essas influências. Portanto, vamos acumulando os resultados que elas induzem nas várias partes de nossa personalidade.
As influências são registras, associadas umas às outras, lembradas e, depois de cada novo choque, sentidas todas juntas. Não somos capazes de compreender claramente do que se trata. Não vemos o como ou o porquê. Inicialmente, todas as tentativas de explicar isso para si mesmo fracassam. Para começar, as pessoas chamam isso de “interesse especial”, “ideal”, “espiritualidade”, “filosofia” e assim por diante. Porém, o importante é que esse é o primeiro movimento de uma preocupação com o desenvolvimento de si mesmo. Logo, os resultados dessas influências que começaram a se acumular em ti aumentam e fortalecem progressivamente o centro magnético. Ao mesmo tempo, atrai todas as influências relacionadas a esse tema.
Dessa maneira, esse centro cresce e pouco a pouco vai tomando um lugar à parte. O centro magnético não pode ocupar este lugar em uma pessoa a não ser em detrimento de outros elementos de sua personalidade. Isso porque não é compatível com eles. O centro magnético está voltado para dentro enquanto tudo o mais está voltado para fora. É uma questão de um ou de outro. Segue-se uma luta entre esses dois aspectos da pessoa. Este é sempre um momento difícil e a luta pode ficar indecisa para sempre. No entanto, tanto esforço começa a despertar nessa pessoa o aparelho magnético, o que passa a influenciar sua orientação. No entanto, isso só é possível se
- O centro magnético de uma pessoa receber impressões suficientes.
- Os outros lados de sua personalidade, resultantes de influências criadas na vida, não oferecem muita resistência.
- Se há o desejo de despertar em vez de fazer uma boa aparência.
Contudo, esse resultado pode tornar seu principal interesse, obrigar a dar meia-volta e até levar a se dirigir à fonte de sua influência. A essência e o Ser entram em tudo isso apenas na medida em que estão misturados com a personalidade. Até este ponto, não temos meios próprios de distingui-los e de trabalhar neles. Mas, uma vez que seu centro magnético adquiriu força suficiente e está suficientemente desenvolvido, ele começa a compreender a ideia de um caminho para o desenvolvimento de seu Ser e a procurá-lo.
Buscar um caminho não é garantias de se chegar
Essa busca pelo caminho pode levar muito tempo e não levar a nada. Depende das condições, das circunstâncias. Também, da força do centro magnético e da força e direção de outras tendências que não estão absolutamente interessadas na busca. Assim, podem te desviar de seu objetivo. Principalmente no preciso momento em que se apresenta a possibilidade de encontrar o caminho. Estamos lotados de sabotadores. Esses logo irão se apresentar e dizer: “eu já sei isso”, “não preciso de ajuda”, “não quero acreditar nisso”, “eu consigo fazer sozinho(a)”, “não quero ver isso”, e por aí vai. No fim, o “trabalho” desvia para algo mecânico e não relevante e o que REALMENTE precisa ser feito é solenemente ignorado e sabotado.
Porém, todos podemos encontrar outra pessoa que conhece o caminho e está conectado com um centro que não está sujeito à lei do acidente. Tal pessoa pode estar conectada diretamente ou por intermediários a essa fonte das ideias que formaram o centro magnético. Essa lei da atração acontece
- Se seu centro magnético funciona bem,
- Quando realmente procura, independente de uma busca ativa,
- Havendo o tipo certo de sentimento.
Mesmo assim, ainda há muitas possibilidades que deixam todo o resultado em aberto. No entanto, acreditando que esse encontro é autêntico, é neste ponto que encontramos um terceiro tipo de influência: a influência direta, que é consciente, que só atua de uma pessoa para outra através da experiência vivida e da transmissão oral. A partir deste momento, o que se procurava pode virar um trabalho adaptado ao autodesenvolvimento e à realização do seu verdadeiro ser.
A má formação do centro magnético tem sérias consequências
Entretanto, o centro magnético pode ter sido formado erroneamente em seu crescimento. Com isso, pode incluir em si contradições e divisões internas. As influências vindas da vida podem ter entrado nela sob o disfarce de influências vindas de além-vida. Ou ainda, as influências superiores podem até ter sido pervertidas a ponto de se tornarem exatamente o oposto do que eram. Uma pessoa cujo centro magnético foi formado dessa maneira também pode estar em busca de um caminho de autodesenvolvimento.
Se tal pessoa encontra um guia autêntico ainda demandará um trabalho preparatório considerável antes que se possa seguir tal guia. É crucial neutralizar as malformações do centro magnético. Com isso, muitas vezes há o risco de que tal pessoa não ser capaz de aceitar sua condição perante o Trabalho. Além disso, tal pessoa, muito mais do que outros, é suscetível a trilhar caminhos e apegar-se a guias que por erro ou imaginação o levarão a uma direção totalmente diferente daquela que buscava. Assim, sem saber, essa pessoa pode ser levada para muito longe do caminho real. Então, obterá resultados diametralmente opostos aos que poderia ter obtido de outra forma.
Felizmente, isso raramente acontece as pessoas mais comuns. Todavia, é algo comumente observado em pessoas com maior grau de sensibilidade e sugestão. Tais pessoas confundem rapidamente o centro magnético e toda sua mistura de personalidade com o Trabalho. Há uma cristalização muito rápida e confusa. Não há uma “depuração” nesse processo por assim dizer. Ficam congelados em um ponto muito crítico, pois, acreditam já serem capazes de fazer. Ao mesmo tempo não reconhecem os problemas criados nesse processo. Tais pessoas não negam a existência do Trabalho. Não negam o contato com a essência e até possuem muitas vivências de contato com o Ser. Porém, o pior é requerido delas: retornar ao início em um longo e doloroso processo de descristalização.
Seu centro magnético não é garantia de que trilhará falsos caminhos
Existem muitos caminhos falsos, mas, a grande maioria dos casos eles não levam a lugar algum. Uma pessoa simplesmente anda pelo mato no mesmo lugar, pensando o tempo todo que está chegando a algum lugar. Reconhecer se um caminho é certo ou errado é sempre muito difícil. Reconhecer um caminho errado é impossível, exceto conhecendo o caminho certo. Aqueles que estão procurando gostariam de ter certeza de que o guia que encontraram está no caminho certo. No entanto, ninguém pode ver acima de seu próprio nível e um aluno nunca pode ver o nível real de seu professor. Esta é uma lei. Porém, a maioria das pessoas não sabe disso. Todos querem ser ensinados pelo mais alto mestre. Mas te pergunto, não teria os grandes mestres mais o que fazer?
Bennett dizia isso e ia além dizendo que devemos nos contentar com os mestres que nos são apresentados, pois, são os atuais que podemos lidar. No início, a única esperança de não ser levado para o lado errado não depende da apreciação do professor. Depende do seu próprio recurso: de uma consciência ainda intacta e a um confronto sincero entre ela e o que é apresentado. Se você não é capaz de tal sinceridade desde o início, haverá todas as chances de se perder.
O caminho certo é raro e há muitos caminhos errados. Assim como dizem os alquimistas: é preciso ter ouro para fazer ouro. Ao mesmo tempo em que um caminho correto visa te libertar da prisão de sua personalidade, também o leva à libertação das leis que regem a vida cotidiana. Tudo o que pertence à personalidade é governado pelas mesmas leis da vida comum: as leis da quantidade, sorte e acidente. Não existe um verdadeiro “destino” neste campo. Existem apenas circunstâncias fortuitas e pontos de encontro acidentais. A lei do acidente governa sua vida cotidiana e a torna em grande parte imprevisível. A única esperança para quem quer perseguir um objetivo ou seguir uma direção definida é escapar dessa lei. É libertar-se dela.
Liberte-se da lei do acidente
Em primeiro lugar, isso pressupõe que temos conhecimento dessa lei. Supõe ainda que entendemos como se livrar dela. Não estamos sujeitos apenas a acidentes individuais, mas também a acidentes coletivos, regidos por leis gerais. Nem todas as leis gerais são obrigatórias para uma pessoa. Assim, podemos nos libertar de muitas dessas leis. Para isso é necessário conseguir se libertar da imaginação e dos amortecedores. E para realizar tudo isso há uma condição fundamental: Se libertar da personalidade. Mas atenção! Se libertar da personalidade não significa não ter personalidade.
A personalidade encontra seu sustento na imaginação e na mentira. A própria personalidade logo enfraquece e deixa de exercer o controle quando as mentiras em que se vive são menores e a imaginação se torna mais fraca. Assim, o ser é libertado e tal pessoa pode então ficar sob o controle de seu próprio “destino”. Em outras palavras, poderá se submeter a uma linha de trabalho dirigida pela vontade de outra pessoa. Deste modo, tal pessoa ser levada ao ponto de se formar a verdadeira vontade. Uma vontade capaz de enfrentar tanto o acidente quanto o “destino” se necessário.
Seu destino está ligado a sua essência
O destino está ligado à essência e seu desenvolvimento. A essência de cada homem tem suas próprias características particulares ligadas às influências originais. Tais influências que formam seu “tipo” e governam suas principais tendências. Alguns podem dizer que essas influências são planetárias ou astrais. Diferentes combinações de influências formam assim as diferentes essências. Também regulam a sensibilidade às influências presentes no ambiente. Portanto, a sensibilidade e as influências mudam de acordo com leis precisas que podem ser experimentadas e conhecidas. No entanto, não devemos levar essa discussão excessivamente ao campo “esotérico”. Isso é perda de tempo e desvio de propósito. Nunca saberemos a verdade sobre as origens de tais influências. Definitivamente o que importa é a capacidade de percebê-las.
Concomitantemente, as tendências também mudam. Algumas se desenvolvem por si mesmas de forma mecânica. Sendo assim, uma vez que aparecem enfraquecem e atrofiam, a menos que sejam estimulados regularmente. O conjunto de nossas tendências possíveis e diferentes sensibilidades particular a cada tipo de influências, a lucidez e o método de evolução correspondente a cada tendência constituem o “destino”. Isso vale tanto para o seu destino individual quanto seu destino coletivo. Afinal, ele está ligado ao destino do todo ao qual pertence. O “destino” de uma pessoa geralmente não se cumpre porque seu Ser não está desenvolvido. A personalidade tomou seu lugar e nos colocou sob a lei do acidente. As “influências planetárias” (seja lá o que isso realmente significa) não são capazes de atingir a essência até que ela se liberte da personalidade.
Mas há destinos mecânicos?
Isso não impede que venha acontecer mecanicamente. É exatamente o que ocorre em comunidades, multidões e massas de pessoas quando as influências externas são predominantes. Afinal, cada indivíduo tem uma tendência natural a perder todas as características próprias. Mas somente quem se libertou de sua personalidade pode receber as influências com um efeito específico sobre si. Entretanto, geralmente só é possível através do trabalho de uma escola. Precisamos de adotar um processo. Isso não pode ser levado como um dogma. Principalmente, o desenvolvimento é cheio de armadilhas psicológicas. Assim, precisamos de revisões de pares e acompanhamento. Sem isso, é muito mais provável uma cristalização errada ou longos desvios improdutivos.
A parte que a lei do acidente ou a lei do destino assume na vida de uma pessoa depende da relação entre sua personalidade e sua essência. Isso acontece desde seu nascimento e muitas vezes da sua morte. Aqueles em quem a personalidade é muito forte estão inteiramente, ou quase inteiramente, sob a lei do acidente. As influências superiores só os atingem em momentos excepcionais ou indiretamente. Afinal, fazem parte de uma multidão. No entanto, algumas pessoas guiadas pelo seu modo de vida e mesmo sem a influência de uma escola ainda vivem muito mais em sua essência e possuem uma personalidade menos dominante. Essas pessoas recebem influências superiores muito mais diretamente e vivem muito mais sob a lei de seu destino.
Qual a melhor lei? Destino ou acidente?
Se é melhor viver sob a lei do destino ou sob a lei do acidente é outra questão. Isso depende, em primeiro lugar, do ponto de vista que se assume ao fazer tal avaliação. Do ponto de vista da vida comum, o destino pode ser melhor em certos casos e pior em outros. Assim, isso será de acordo com as qualidades úteis de sua essência (que lhe foi dada) e da personalidade (que foi formada). Na maioria das vezes o destino é melhor.
Do ponto de vista do ser e do desenvolvimento do ser, as mesmas alternativas existem. contudo, por razões inteiramente diferentes. Fugir da lei do acidente para retornar à lei do destino é obrigatório para qualquer pessoa que busca a autorrealização. Mas há alguns destinos que é melhor não viver. Ao mesmo tempo, assim que o Ser se dá conta disso surge um senso urgente de necessidade de mudar seu destino, de escapar dele. Isso não é impossível. Porém, requer um trabalho muito difícil e consciente em condições que nem sempre são realizadas. Ou ainda, não são realizadas por tempo suficiente para atingir o objetivo. No caso de tais seres que finalmente experimentam o fracasso e o conhecem, teria sido melhor permanecer sob a lei do acidente. Este é o verdadeiro significado de “inferno”.
Felizmente, tais situações são raras. Afinal, no caso dessas pessoas há obstáculos internos e externos tão fortes que raramente conseguem ir longe o suficiente no trabalho real.
O primeiro estágio do desenvolvimento normal é o desenvolvimento da individualidade e o aparecimento de um “eu” permanente. Isso resulta no crescimento da essência e no desenvolvimento harmonioso do ser e da personalidade. Este deve ser o objetivo da educação, principalmente da necessidade de se receber uma segunda educação quando adultos. Em outras palavras, de uma educação devidamente dirigida por professores conscientes do papel que lhes compete. Todavia, praticamente nunca é assim na sociedade contemporânea. Pessoas se tornam o que é chamado de “adulto” com um imenso desequilíbrio no desenvolvimento de suas várias partes. Tudo isso deve ser “re-harmonizado” antes que qualquer trabalho real de educação possa começar.
Seu centro magnético pode precisar de nova calibração e dificilmente você enxerga isso sozinho
Tal trabalho é praticamente impossível sem a presença de um guia e sem a influência de uma escola de trabalho sobre si mesmo. Pois, com isso cada pessoa pode chegar a uma visão de sua situação real, um conhecimento do que é e do que constitui o seu interior. Assim, poderá trabalhar para o autodesenvolvimento. Cada pessoa deve ser levada a compreender que é uma dupla: essência e personalidade. Deve ver que sua personalidade, sustentada por seu amor-próprio, usurpou injustamente todo o seu poder e expropriou completamente todas as suas funções para servir a seus próprios fins. Deve reconhecer que sua essência, a parte autêntica de si mesmo, foi deixada subdesenvolvida. Acima de tudo, deve se comprometer a restabelecer um equilíbrio correto em si mesmo.
Isso requer o enfraquecimento da personalidade para reduzi-la ao seu grau adequado de força. Ainda mais, deve levar a transcendência do estreito amor-próprio pessoal para o desenvolvimento de um senso de si harmoniosamente conectado com toda a vida. Portanto, isso exige ao mesmo tempo o desenvolvimento da essência. Assim como o resultado dos choques que a despertam quanto pelo tipo de trabalho que só é possível sob a direção de uma consciência superior. Um trabalho de ampliação do entendimento ao o custo das experiências vividas conscientemente.
Na vida comum, o centro de gravidade está na personalidade enquanto a essência dorme. Em um momento de consciência, essa polaridade interna é invertida. Assim, a personalidade fica de lado e o centro de gravidade está na essência que desperta. Isso permite que a essência descubra que para se expressar na vida tem à sua disposição um aparato completo na medida em que a personalidade se afrouxou. Em um momento de consciência, por mais breve que seja, restabelece-se a harmonia entre a essência e as funções, entre os centros e seus conteúdos, e entre a individualidade real e sua manifestação na vida.
Lauro Borges
Esse artigo faz parte de uma série sobre trechos, notas e comentários sobre o livro Toward Awakening: An Approach to the Teaching Left By Gurdjieff” de Jean Vaysse.
Errata, na segunda pergunta quis dizer centro magnético e não centro gravitacional, errei, sorry.
E por fim, com a quantidade de informações equivocadas de mestres equivocados ainda que sinceros, como entender os desafios que está passando, se tem
Relação com desenvolvimento d poder ser ajudado?
Todos podemos ser ajudados. O universo é próspero e abundante. O que tem de fazer é focar no seu trabalho. Sempre aparece uma pessoa ou algo que lhe ensina o que precisa. É um velho clichê espiritual, porém, verdadeiro
Oiii eu fiquei com dúvida sobre o que é o centro de gravidade aqui, porque entendia ser o lugar na escala do desenvolvimento em que você fica por mais tempo ainda que pendulando pra cima e pra baixo, mas no texto eu acho que interpreto errado esse significado, pode me esclarecer?
Pergunta 2: nem todos conseguem encontrar um bom mestre e acaba não evoluindo nada vida encarnada naquele
Momento?
Acho que não pq seria falta de misericórdia. Deus tem misericórdia.
O centro magnético é o que lhe atrai para seu desenvolvimento. Que te atrai da sua personalidade para sua essência. O seu nível de consciência será o tanto que consegue se aproximar de sua essência. Sem nenhum centro magnético a pessoa é pura personalidade. Mas sendo somente centro magnético também ainda está na personalidade mas é uma pessoa mais consciente