Sono e sonhos, o que isso revela sobre você?

Nesta semana vamos aprofundar sobre o tema sono sonhos e estados de presença. Transitamos ao longo de nosso dia pelos quatro estados de presença. Além disso, todos esses estados têm importância como funções de regulação de nossa máquina humana. No entanto, cada estado pode ser classificado pelo seu grau relativo de consciência. Porém, a alternância entre estados pode ser facilmente percebida com algum treino. 

Estados e níveis de consciência

Existe um certo grau de presença em cada um desses estados. A presença encontra suporte no corpo físico e em outros “corpos” que lhe permitem sua manifestação. Assim, é importante notar a ação dos três fatores fundamentais que manifestam a presença: consciência, atenção e vontade. Da mesma forma, essas três forças são reflexos de três grandes forças criadoras fundamentais: Força Ativa, Reconciliação e Receptividade.

Antes de mais nada, devemos lembrar que somos compostos de sete centros (mental, emocional, físico/instintivo/motor, sexual e os dois superiores emocional e mental). Cada centro possui sua própria inteligência e autonomia, apesar de suas conexões e relações. Assim, o estado de presença é um reflexo do quanto a mesma encontra-se ancorada nos sete centros. Além disso, do tanto que essas sete partes trabalham em harmonia. 

Podemos viver nos dois primeiros estados de presença com alguns contatos esporádicos ao terceiro nível e sem nunca conhecer o quarto nível. Ainda assim, iremos julgar e avaliar o que sabemos sobre os dois níveis superiores pelo entendimento inferior. Isso por si já é autoexplicativo do motivos de tantos conflitos no mundo. Portanto, é necessário esforço e trabalho interior para manter contato constante entre o terceiro e quarto estado de presença.

Os quatro estados são:

  • Sono – estado de pura passividade que passamos quase metade da vida.
  • Vigília – estado ativo para coisas da vida e no qual passa a outra metade da vida.  
  • Autoconsciência – estado de consciência do próprio ser.  
  • Consciência “objetiva” – não mais preso a subjetividades e ilusões  

O primeiro estado –  o sono

O primeiro estado é o sono. Um estado passivo no qual nada se pode fazer, exceto regenerar sua energia.  Passamos um terço ou mais de nossas vidas nesse estado de consciência passiva. Pode-se dizer que o sono recarrega os acumuladores de energia associados aos centros. Então, tem uma importante função biológica. Todavia, é um estado em que desconectamos do mundo externo enquanto mergulhamos em um mundo interno sem nenhuma atenção consciente. Ficamos cercados de sonhos enquanto as funções psicológicas trabalham sem direção. É um mundo de recortes de impressões, memórias e imagens subjetivas.

No entanto, o sono também possui várias camadas. Quanto mais profundas essas camadas, mais passivos nos tornamos. Logo, em sua camada mais profunda os centros param de responder ou até de receber impressões. Portanto, resta somente as funções instintivas reguladoras da máquina biológica que se encontram totalmente livres da influência dos demais centros. Então, é nesse estado que um rebalanceamento e reenergização dos centros acontece enquanto não se interrompe o sono profundo. Esse é o verdadeiro sono restaurador. Ou seja, o famoso “sono dos justos”. E porque deveríamos chamá-lo assim? 

O “sono dos justos” e os estados intermediários de sono

O que caracteriza o sono é que os centros estão desconectados uns dos outros e suas habilidades de manifestar ficam suspensas. Contudo, o que acontece com a maioria das pessoas é que essa habilidade de se desconectar não acontece de forma plena. Assim, um dos cinco centros inferiores podem ou não estar desconectados. Normalmente, existe uma certa ordem para essa desconexão. Primeiro o centro mental desconecta, seguido do centro físico. O último a desconectar até um determinado nível mínimo de manutenção é o centro instintivo. 

Essa falha de desconexão explica porque uma pessoa pode falar ou até andar enquanto dorme. Isso acontece porque um centro está totalmente desconectado (ex: centro intelectual) enquanto outro está parcialmente desconectado e ainda processando associações e impressões (ex: centro motor).

Por sua vez, o sono profundo nos leva a uma imersão completa ao mundo sem forma e sem desejos. Onde a individualidade coexiste com tudo em um campo de potencialidades. É o contato com um universo sem nenhum conflito ou atrito. Logo, é um estado de paz e serenidade. Um profundo contato da essência no estado não-individual em seu estado mais embrionário. É exatamente esse contato da essência individual com o universo não individual que revigora o Ser de sua vitalidade. Portanto, dormir profundamente é um excelente método de regeneração.

Contudo, este contato em sono com as forças fundamentais da vida, em pura essência,   perfeita harmonia, acontece passivamente em relação ao indivíduo. Acontece pelo abandono de toda manifestação própria e de toda expressão de sua individualidade. No sono profundo nossas forças de expressão encontram-se completamente suspensas. Em outras palavras, neste lugar nosso poder individual de atenção, consciência e vontade não exercem nenhum poder. Não exercemos nenhum poder além de uma existência em potencial que retornará a se manifestar quando acordar. 

Todavia esse é o contato mais profundo que podemos perceber com a realidade última. Talvez a melhor maneira de perceber as possibilidades dos terceiro e quarto estados de presença. Então, devemos deixar que este estado permeie toda a nossa realidade como o ponto de apoio de um compasso. Afinal, esse é o ponto central da expansão da consciência.

Os outros estágios do sono

O sonho é um fenômeno produzido pelos estágios intermediários entre o sono profundo e o despertar. Assim, um centro irá funcionar no estado de sono quando não se desconecta da memória e imaginação. Logo, o estudo dos sonhos pode nos dizer sobre esses distúrbios que são fortes o suficiente para impedir o descanso profundo de nossa máquina. Também nos conta sobre a natureza desses distúrbios. Dessa forma, esse centro ainda irá sofrer influências de associações e impressões ocorridas ao longo do dia, ancestralidades de sua existência ou quem sabe até de memórias de outras vidas.

Teoricamente, os sonhos podem ser divididos em três categorias principais: sonhos associativos (ou reativos), sonhos compensatórios e sonhos simbólicos (ou arquetípicos).  Mas existem muitos outros tipos, como sonhos premonitórios ou sonhos telepáticos. 

  • Os sonhos associativos correspondem à vida mecânica, 
  • Os sonhos compensatórios correspondem a um aspecto pessoal colorido pela emoção,
  • Os sonhos simbólicos podem oferecer vislumbres obscuros da vida do eu verdadeiro. 

Sono, sonhos associativos e compensatórios

Os sonhos simbólicos são apresentados quando o centro emocional superior consegue ter permissão de se fazer presente. Em suma, o centro emocional superior é capaz de se fazer sentir  devido a desconexão entre os centros inferiores. Portanto, os centros inferiores, por estarem desconectados, não podem esconder e inibir a presença do centro superior. Algo que fazem o tempo todo.

Uma pessoa parcialmente desenvolvida e desbalanceada terá mais sonhos que lhe remete a sofrimentos essenciais. Isso ocorre como um alerta sobre sua falta de harmonia interior. Ou ainda sobre a completa falta de algo. Normalmente, essa falta é uma ausência ou nenhuma conexão com sua essência, além dos momentos inconscientes de sono profundo. 

Por outro lado, uma pessoa cuja atividade diária é completa, harmonizada e satisfatória praticamente não terá sonhos. Nesse caso, a desconexão dos vários centros ocorre de forma harmoniosa, progressiva e completa ao adormecer. Ou seja, sem uma interrupção abrupta e sem impressões diferentes  o suficiente daqueles do estado de vigília. Nada forte o suficiente para ser capaz de lembrar.  

O sonho simbólico

Uma pessoa que atinge o terceiro estado de consciência exerce controle deliberado entre o centro emocional superior e os centros comuns. Ao ir dormir, utilizará de sua vontade para desligar as conexões que estabeleceu entre o centro emocional superior e os centros comuns. É dito que os grandes mestres Iogues são capazes de entrar em meditação e atingir níveis muito profundos de consciência similares ao sono profundo. O fato de estar consciente nesse estado profundo permite que escolham o exato momento de sua morte. 

Os sonhos simbólicos expressam uma grande conexão com o centro emocional superior. São sonhos curativos e transformadores. É a maneira da alma dialogar com a própria consciência. Por outro lado, sonhos agitados e confusos refletem o mau uso ou até o não uso da energia de algum centro. Enfim, são resquícios de energias má utilizadas ou não utilizadas em seus centros. 

Gurdjieff dizia que uma pessoa que realizou o seu trabalho de forma consciente irá receber o sono dos justos como pagamento. Cabe notar que o mesmo é dito popularmente: “durma com a sua consciência”, ou, “quero ver quando você botar a sua cabeça no travesseiro”. Afinal, por que tantas coisas emergem no momento em que vamos dormir? O centro que represa o conteúdo desconectou. Com isso conteúdos reprimidos podem agora emergir.

Então, observe a qualidade de seu sono e o que os seus sonhos lhe contam. Há aqui um entendimento mais sutil que consultar livros ou sites que desvendam significados de sonhos. Melhor é entender sobre como tem usado e trabalhado os centros em harmonia.

Na semana que vem continuaremos com o tema estado de presença.

Esse é o quarto artigo de uma nova série onde publico trechos, notas e comentários sobre o livro Toward Awakening: An Approach to the Teaching Left By Gurdjieff” de Jean Vaysse.

3 comentários em “Sono e sonhos, o que isso revela sobre você?”

  1. Já vi que dormir medicada estraga a festa, dormindo sem remédio meu inconsciente me conta coisas inacreditáveis….

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  2. Todo mundo pra dormir bem precisa entrar na fase REM onde sonhamos porque sonhar é natural para o cérebro. Lembrar do sonho é um exercício.

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