Quando exploramos os níveis de consciência e os níveis de Ser, podemos ter a falsa percepção de que há uma ordenação clara no universo. Assim, pensamos que uma tribo primitiva está em um nível inferior tanto quanto seus integrantes. Do mesmo modo, pode-se ter a ilusão de que pessoas habitando cidades ultramodernas e cosmopolitas estão associadas a níveis superiores. A verdade é que o universo é bem mais bagunçado do que percebemos. Dessa forma, o desenvolvimento tecnológico de uma sociedade não reflete automaticamente no desenvolvimento do nível do Ser de seus indivíduos. Se assim fosse não teríamos a primeira e segunda grande guerra a menos de um século atrás.
É importante perceber que uma pessoa habitando uma comunidade simples pode sim ter um alto grau de integração (ponto 9, Mestre do Caos). No entanto, uma pessoa da cidade talvez esteja na luta para viver (ponto 1, reativo/instintivo). Esse julgamento de conceito acontece principalmente pela dificuldade que temos em entender que conhecimento tecnológico não se traduz automaticamente como sabedoria. Além disso, por muitas vezes o nosso pensamento eurocêntrico “moderno” nega a existência de diferentes conhecimentos em todo mundo. Enfim, existem várias verdades e realidades existenciais.
Então, uma pessoa que busca se desenvolver deve buscar sabedoria e não conhecimento. A sabedoria é maleável a todas as realidades e pertence ao Ser. O conhecimento pertence à técnica. A técnica muda assim como muda suas explicações teóricas. No entanto, a sabedoria nunca muda. No entanto, o conhecimento deve andar junto com o do desenvolvimento do Ser. Afinal a sabedoria se forma pelo resultado do esforço de quando colocamos conhecimento em prática com a presença de nosso Ser.
Vamos então explorar a partir de agora mais um modelo. Esse modelo foi estabelecido por J G Bennett, proeminente aluno de Gurdjieff que posteriormente desenvolveu suas próprias teorias. Bennett era engenheiro e esteve na vanguarda do desenvolvimento da teoria de sistemas. Por isso ele traz uma visão mais ocidental e científica sobre a filosofia de Gurdjieff.
Para Bennett, a noção de níveis de realidade é de importância decisiva para educar nossa psicologia. Ele se baseia em muitas evidências para defender uma “estratificação da existência” geral. Existência essa que parte do menor grau de organização possível à total complexidade organizada do universo. Assim, Bennett associa doze níveis distintos de realidade. Cada um dos quais está associado a uma camada específica do ser. Logo, sugere-se que cada modo de ser corresponde a um tipo de experiência possível. Desta forma, cada um desses níveis pode ser tratado como uma “energia” característica.
Outra maneira de entender é como se o universo fosse composto por doze energias básicas. Como se fossem 12 tipos diferentes de “peças” ou funções que podemos usar para compor o universo. Cada energia é definida pelo símbolo “E” e seu número (E l, E2,. . . E12.). Assim, as energias criam três grupos associados: energias materiais, vitais e cósmicas. Dessa forma, Bennett acredita que esse esquema fornece possibilidades para a unir ciência e psicologia. A seguir estão os nomes das doze energias e suas propriedades distintas.
Grupo das Energías Cósmicas
E1 Energia Transcendente. É um nível, por hipótese, além de qualquer experiência humana possível. Está incluído no esquema para prover a continuidade do desenvolvimento desde a desorganização completa até a organização completa (hipotética) do cosmos.
E2 Energia Unitiva. Representa o limite superior da experiência (mística) possível da unidade de todos Seres. É universal e suprapessoal. No entanto, é considerada a energia associada com a suprema experiência pessoal de absorção mútua de dois seres humanos. Também pode ser considerado como a força motriz do processo evolutivo, o élan vital pelo qual toda a existência se move em direção à integração do ser.
E3 Energia Criativa. É o nível de energia mais alta que entra diretamente na experiência do ser humano comum. Portanto, pode ser estudada por técnicas psicológicas (distintas das espirituais). A energia criativa está associada às forças sexuais. Então, se faz presente em todas as formas de vida com reprodução sexual. Além disso, é capaz de ativar todas as funções do ser humano e o distinguir dos demais animais. A energia criativa é supraconsciente. Em geral, estamos cientes dela apenas por seus efeitos. Portanto, tem o caráter de aparente espontaneidade e imprevisibilidade em seu funcionamento. É considerada a energia responsável por toda atividade criativa na arte, ciência e em empreendimentos práticos.
E4 Energia Consciente. A quarta e menos coerente das energias universais ou cósmicas. Como o nome implica, é a fonte da verdadeira consciência no ser humano e corresponde ao nível mais alto de atividade mental. Isso não é normalmente organizado no ser humano. Todavia, ativa as funções de forma esporádica e geralmente de forma intermitente. No entanto, é capaz de se organizar e tal organização é uma marca decisiva da transformação psicocinética.
Grupos das Energias Vitais
E5 Energia Sensível. Essa energia é comumente confundida com a da consciência. É comum a todos formas de vida, embora em graus de organização muito diferentes.O padrão de sensibilidade é característico de todas as espécies orgânicas. A organização da energia sensível nas pessoas pode variar em limites muito amplos. Também possuem propriedades variadas correspondentes a diferentes tipos de consciência mental tais como sensação, sentimento, pensamento e instinto. A energia sensível recebe e retém imagens mentais e outros elementos da memória. É a principal energia ativadora das funções humanas de sensação, pensamento e sentimento. É a “energia mental”.
E6 Energia Automática. O nível subconsciente da experiência humana. Todas as operações reflexas no homem e nos animais, tanto inatos quanto condicionados, operam com energia automática. A energia automática é insensível Assim, produzem apenas uma vaga consciência mental nas funções que operam com essa energia. No entanto, é o fundamento da existência normal no homem e nos animais superiores, por regular e ativar todos os processos. Logo, quando treinado e condicionado por estímulo e resposta reiterados, é capaz de produzir
operações intrincadas e exatas. Nós não somos mentalmente cientes dos imensos processos complexos envolvidos na fala e outros poderes funcionais adquiridos. A região automática é a “mente subconsciente” da psicologia analítica.
E7 Energia Vegetativa. Essa energia é organizada principalmente por meio do sistema simpático e nervos vagos no humano. Provavelmente está associado à química do sangue. Embora esteja abaixo do limite de experiência subjetiva, desempenha um papel decisivo na manutenção da saúde e do vigor. É capaz de concentração e transferência por técnicas especiais. É a sede da “mente inconsciente” da psicologia analítica.
E8 Energia Construtiva. Toda vida tem poderes de nutrição, reprodução e autorrenovação. Esses dependem de uma organização complexa que está ausente na matéria não viva. A energia construtiva ocupa a interface entre matéria viva e não viva. É capaz de entrar em estruturas extremamente complexas como pode ser visto a partir dos elementos genéticos e de memória portadoras de código das moléculas de DNA e RNA.
Grupo das Energias Materiais
E9 Energia Plástica. Objetos materiais têm a propriedade notável de serem capazes de mudar de forma sem mudança de identidade. Esta propriedade – deformação plástica – está mais marcadamente presente nos organismos vivos mas não é em si uma marca de vida. É possuído por substâncias coloidais que geralmente são de origem orgânica: o exemplo típico é uma bola de argila úmida. Mesmo o mais rígido dos objetos é capaz de fluxo plástico. Logo, somente um tipo especial de energia torna isso possível. Pode ser que essa energia associa-se ao poder de produzir ordem nos sistemas materiais. A energia da plasticidade é importante para educação, pois, uma vez que influencia os músculos, o tônus nervoso e o fenômeno da fadiga.
E10 Energia Coesiva. Todas as agregações de matéria são mantidas juntas por forças que se desenvolvem a partir dos campos eletromagnéticos. Nenhum sólido nem líquidos se comportam como seria de esperar somente por suas propriedades físico-químicas. Atribuímos este comportamento especial à presença de uma energia característica, chamada coesiva porque não é tanto uma energia de ligação, mas uma influência estruturante. Pode ser considerado como a energia esquelética de todo o corpo, por meio da qual é a base da estrutura das energias, assim como organização dominante capaz de sustentar e transmitir tensões.
E11 Energia Direcional. Inclui gravitação, energia cinética, potencial e campo eletromagnético. É caracterizada sempre por direção e magnitude sem estrutura organizada. A direção pode ser considerada como uma propriedade pré-estrutural. Além disso, deve ser lembrado que nem movimentos nem forças podem ser observados na ausência de corpos rígidos. Assim como as medições também não podem ser feitas sem corpos deformáveis. Conclui-se que as energias direcionais influenciam a experiência humana apenas porque estamos incorporados em corpos organizados com energias construtivas e plásticas. A capacidade do homem de agir sobre seu ambiente depende do fato de que ele é capaz de produzir e controlar energias direcionais de vários tipos. Por isso essas energias são importantes em uma educação com visão integral.
E12 Energia Dispersa. A energia térmica está associada a todos os tipos de movimento aleatório. O calor é o estado básico da existência. Ordem e desordem, higiene e cuidado com o corpo são os principais fatores nos primeiros níveis de educação. No entanto, são estes fatores que formam a unidade com níveis de educação mais altos. No limite, organização e ordem se dissolvem em energia do calor. Entretanto, essa mesma energia é a condição para a reintegração. Sem calor, a energia adquire uma ordem perfeita, mas não tem princípio de organização. O calor torna a organização possível, mas não a produz.
Os quatro grupos de energia
Resumindo, temos os quatro grupos de energia com suas funções
- Energía Cósmica
- Transcendente: Deus, Todo Poderoso, Criador de mundos, Absoluto, Todo
- Unitiva: Lei de Três, integração eu, mundo e Absoluto
- Criativa: energia sexual, novas formas, realidades e vidas
- Consciente: mente superior, reflexão, autoobservação
- Energia Vital
- Sensível: consciência de estado inferior (vigília)
- Automática: inconsciente, automatismos e instintos
- Vegetativa: mantenedora do corpo
- Construtiva: transformação de material inorgânico em orgânico
- Energia Material
- Plástica: mobilidade, absorção e reação a forças
- Coesiva: união da matéria
- Direcional: forças atuantes sobre os corpos físicos
- Dispersa: calor, entropia
Somos compostos de energias de todos os quatro grupos. Assim como temos um corpo físico inferior (matéria química pura), também temos um corpo físico superior (corpo vivo orgânico). Esse corpo físico possui um corpo emocional inferior (sensível e automático) como também um corpo emocional superior (consciente e reflexivo). Por último temos uma mente inferior (reativa, automática e pré formada) como uma mente superior (criativa, unitiva e transcendente).
Na semana que vem vamos continuar a explorar o entendimento de diferentes níveis de energias em nossa psicologia.