Tipo do Eneagrama: você sabe qual é o mais evoluído?

Muitas pessoas quando entram em contato com o Eneagrama da personalidade se perguntam qual é o melhor tipo.  Perguntam se um determinado tipo de personalidade é mais humano ou mais sábio, ou seja, mais virtuoso. No entanto, devemos entender que existem níveis de consciência além dos tipos de personalidade.

Assim, estes níveis de consciência são mais importantes do que os traços de personalidade de uma pessoa. Claro que a personalidade pode ajudar uma pessoa em uma determinada situação. Ao mesmo tempo, a personalidade cristalizada em uma estrutura de um tipo também prejudica em outras situações. Todavia, o nível de consciência de uma pessoa define muito mais o seu grau de sabedoria do que seus traços de personalidade.

Tudo depende do seu nível de consciência

Em outras palavras, o nível de consciência de uma pessoa estabelece a relação de seu verdadeiro eu com seus “eus” mecânicos. Dessa forma, uma pessoa que possui um alto nível de consciência tem por vez os “eus” mecânicos submetidos a sua ação consciente.

Gurdjieff compreendeu profundamente este conceito. Assim, transmitiu em seus ensinamentos que existem sete níveis de consciência para o ser humano. Ao passo que os três primeiros níveis são basicamente mecânicos e independem dos traços de personalidade. Posteriormente, a consciência objetiva plena é alcançada como o último estágio de evolução.

“O homem número sete significa um homem que atingiu o pleno desenvolvimento possível ao homem e que possui tudo o que um homem pode possuir, isto é, vontade, consciência, eu permanente e imutável, individualidade, imortalidade e muitas outras propriedades que, em nossa cegueira  e ignorância, atribuímos a nós mesmos.”

Ouspensky cita Gurdjieff – Fragmentos de um ensinamento desconhecido

O legado de Gurdjieff

O atual uso do Eneagrama e as estruturas das personalidades não foi de conhecimento de Gurdjieff. Estes ensinamentos vieram posteriormente à sua morte. Este uso das estruturas dos traços de personalidade aos números do Eneagrama é oriundo da escola de Cláudio Naranjo e Ichazo. Igualmente influenciados pelos ensinamentos de Gurdjieff.

Mesmo assim, Gurdjieff reconhecia padrões psicológicos das pessoas. Sobretudo em relação aos três centros de inteligência: instinto, emoção e intelecto. Ele já reconhecia que somos seres de “três cérebros“, ou seja, possuímos três centros de inteligência. Estes centros atuam descoordenados. Acima de tudo, roubando energia de outros centros. Ou seja, trabalham a maior parte do tempo em desarmonia.

Desenvolvimento automático dos centros

Contudo, os três centros se desenvolvem automaticamente até o ponto de cristalização. Isso ocorre ao fim da segunda infância, por volta dos 12 a 15 anos. Neste desenvolvimento automático, um centro acaba por sobressair em relação a outro. Por exemplo, uma pessoa recebe mais impressões de sua cultura ou família que lhe estabelece uma relação maior com um dos três centros. 

Além disso, cada um de nós possui uma propensão natural. Ou seja, temos uma tendência, um certo dom ou facilidade em trabalhar melhor um dos três centros. Por outro lado, o desenvolvimento espiritual, ou verdadeira psicologia humana, só se desenvolverá a partir do momento em que os três centros aprenderem a trabalhar em harmonia. Isto é,  o centro predominante deve abrir espaço para as influências harmônicas dos demais centros. 

Sob o mesmo ponto de vista, uma pessoa que é instintiva deve aprender a pensar com o centro intelectual e a sentir com o centro emocional. Da mesma forma, uma pessoa intelectual deve aprender a agir com seu centro instintivo. E por assim vai. 

Gurdjieff nomeou esses níveis de homem 1 ao 7. Neste texto abordarei inicialmente o homem 1 ao 4. Posteriormente discutiremos os demais níveis. O termo homem utilizado por Gurdjieff é em relação ao Ser Humano, ou seja, pessoas independente de gênero. No entanto preferi manter essa denominação por uma questão de respeito ao termo original. 

Os três primeiros níveis do Ser são iguais

Ouspensky descreve no livro Fragmentos de um ensinamento desconhecido o que Gurdjieff teria lhe transmitido sobre esses níveis de evolução.

“O homem número um significa o homem em que o centro de gravidade de sua vida psíquica está no centro móvel.  Este é o homem do corpo físico, o homem com quem as funções motora e instintiva superam constantemente as funções emocionais e pensantes.”

“O homem número dois significa o homem no mesmo nível de desenvolvimento, mas o homem em que o centro de gravidade de sua vida psíquica está no centro emocional, isto é, o homem com quem as funções emocionais superam todas as outras;  o homem de sentimento, o homem emocional.”

“O homem número três significa o homem no mesmo nível de desenvolvimento, mas o homem em que o centro de gravidade de sua vida psíquica está no centro intelectual, isto é, o homem com quem as funções de pensamento ganham vantagem sobre as funções instintivas, motoras e funções emocionais;  o homem de razão, que vai em tudo desde teorias, desde considerações mentais.”

Somos seres de três cérebros

A maioria das pessoas estão em um grau de inconsciência elevado. Dessa forma acabam por não perceber a prevalência de um dos três centros em suas vidas. Muitos ainda nem percebem a existência dos outros dois centros. Outros são capazes de enxergar essa prevalência. Todavia, se tornam identificados em excesso com o comportamento do centro preponderante. Logo, acabam por confundir tal centro com sua verdadeira essência tripla.

Analogamente, podemos notar que o homem número 1 representa a tríade dos instintos 891 no Eneagrama da personalidade. Da mesma forma o homem número 2 representa a tríade das emoções 234 e o homem número 3 representa a tríade do intelecto 567

Tríades do Eneagrama
As tríades correspondem aos níveis de Ser de Gurdjieff: homem número 1, 2 e 3

Note que Gurdjieff deixa claro que há uma preponderância cujo centro de gravidade da pessoa está em torno de um dos três centros. Todavia, todos nós possuímos os três centros. De outra maneira, temos instinto, emoção e intelecto. Afinal, somos seres de três cérebros com potencial de evolução.

O seu tipo pouco importa

Assim, não importa o seu tipo e muito menos a sua personalidade. O que importa é a harmonia entre os três centros. Em outras palavras, saber agir com o corpo, pensar com o intelecto e sentir com as emoções de maneira apropriada e equilibrada. Nesse sentido, um centro informa o outro para que o mesmo atue em seu momento harmônico.

Dessa forma, a evolução espiritual começa a acontecer quando e somente se os três centros aprenderem a trabalhar juntos. Em suma, isso tem muito pouco a ver com a personalidade. Porém, tem tudo a ver com o senso de identidade. Afinal, quanto mais cristalizado em torno de um único centro, mais a pessoa faz desse pequeno pedaço o todo. E isso é identificar com a falsa personalidade.

A evolução possível

A evolução acontece a partir do momento que tomamos consciência dos três centros e agimos em harmonia. Para isso é necessário desenvolver os três centros. Pode acontecer de que um centro esteja atrofiado e outro hipertrofiado. Assim, a pessoa deve parar de dar tanta atenção ao centro hiperativo e mais ao centro inativo. Como resultado atinge-se o nível do homem número 4.

“O homem número quatro não nasce pronto.  Ele nasce um, dois ou três, e se torna quatro apenas como resultado de esforços de um caráter definido.  O homem número quatro é sempre produto do trabalho de uma escola.  Ele não pode nascer, nem se desenvolver acidentalmente ou como resultado de influências comuns de criação, educação e assim por diante.  

O homem número quatro já está em um nível diferente do homem número um, dois e três;  ele tem um centro de gravidade permanente que consiste em suas idéias, em sua valorização do trabalho e em sua relação com a escola.  Além disso, seus centros psíquicos já começaram a se equilibrar;  um centro nele não pode ter tal preponderância sobre os outros, como é o caso das pessoas das três primeiras categorias.  Ele já começa a se conhecer e começa a saber para onde está indo.

Ouspensky cita Gurdjieff – Fragmentos de um ensinamento desconhecido

Na próxima semana continuo a descrever os níveis de consciência de acordo com Gurdjieff.

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