Prática do esforço consciente em participar da vida

Você já teve dificuldade em entender uma situação na vida? E o que notou sobre isso? Você pode ter notado que a situação não seguia as regras de sua mente. Que para resolver essa situação lhe foi necessário um esforço.

Esforço simplificado

A vida não segue uma reta. Não é uma equação linear. Isso exige constante esforço consciente de nossa parte. Como engenheiro, dentro da atuação da minha profissão, é fácil notar dois tipos de problemas. Os primeiros são os mais simples, onde existe somente uma variável de controle. O outro conjunto de problemas são aqueles que possuem mais de uma variável de controle. Por vezes temos até inequações, ou seja, mais variáveis participando do problema que variáveis de controle. 

É fato que nosso cérebro não gosta de problemas complicados e soluções não lineares. Nossa cognição tende a seguir regras e padrões. Vou dar um exemplo simples. Imagina que o Sol ao nascer resolvesse se pôr de novo e depois de um tempo nascer mais uma vez. Isso seria uma quebra total de um padrão linear. Afinal, o Sol nasce e sempre se põe da mesma maneira desde que temos registros.

Dificuldade evolutiva

Porém, a cognição humana é avessa a mudanças de comportamento. O cérebro gosta de previsibilidade e de simplicidade. Pensar em problemas complexos com previsibilidade de comportamento errático exige um tremendo esforço de mental.

Da mesma forma, o simples fato de pensar já é um alto consumidor de energia. Nosso cérebro é responsável pelo maior gasto energético do corpo humano. Perdemos quase 50% de calor do corpo somente pela cabeça. Logo, quando alguém diz que está com a cabeça fervendo isso é mais do que uma expressão literal. É um fato realmente.

Assim, temos os seguintes pontos até aqui:

1) Pensar gasta muita energia

2) Nenhum organismo gosta de gastar energia. Gurdjieff chama isso de Lei da Manutenção.

3) Pensar em questões complexas é fugir de padrões lineares, de respostas óbvias. É fugir da dualidade.

Logo, pensar somente é possível quando temos energia e quando realizamos esforço voluntário. 

Rotas do menor esforço

O cérebro cria rotas de pensamento, condicionamentos e padrões de respostas. Age justamente como um robô, como uma máquina programada. Isso segue uma necessidade biológica e universal de economia de energia. Imagina se você tivesse de pensar todo dia se o Sol vai nascer pela manhã? Você nem precisa se preocupar com isso. Da mesma maneira seus condicionamentos criam rotas de respostas automáticas para preservar sua energia.

É como se o cérebro fosse simplificando e linearizando todas as respostas complexas ao nosso redor. Isso é extremamente útil para quase tudo na vida. Justamente por isso Gurdjieff diz que para viver basta ter um determinado nível de consciência. Assim, viver não requer questionar nenhuma resposta condicionada e linear de nosso cérebro. Ao contrário, sair das respostas automáticas é antinatural, exige esforço consciente e atenção.

Energia finita limita o esforço

Conforme vamos deduzindo, pensar além do padrão de condicionamento exige um gasto maior de energia. Contudo, somos limitados em energia. Temos uma capacidade temporal de energia. Ao mesmo tempo possuímos energias de qualidade distintas. Vou assim simplificar e dividir somente em dois grupos de energia. O primeiro grupo são as energias necessárias para manter o corpo vivo. Essas energias são obtidas pela ingestão de alimentos e sua respectiva digestão. Assim, os alimentos se transformam em energia que permitem manter o corpo vivo e funcional organicamente. 

No entanto, não basta simplesmente comer o dia inteiro para ter energia. O corpo cansa e se esgota. Mesmo assim é possível com algum descanso e choques obter uma “recarga de bateria”. Porém, no fim de um período, será necessário uma reposição maior através de um descanso. Normalmente fazemos isso dormindo ao fim do dia. O sono tem essa função orgânica de recarregar as baterias do corpo. Dessa forma, cada indivíduo possui um ciclo de uso de suas energias.

O outro grupo de energias faz parte de energias mais sutis. Vamos chamar essas energias de psíquicas. São energias que podem atuar em nossa consciência pelo questionamento, contraponto ou enfrentamento de um padrão. Da mesma forma que as energias do corpo, essas energias psíquicas também possuem acumuladores e limites. Como exemplo pode dizer que não adianta se esforçar o dia inteiro tentando resolver um problema. A cabeça se esgota e precisa de um descanso para repor sua capacidade de compreensão sobre uma determinada situação.

Durma bem na hora certa

Outra vez o sono é a grande ferramenta de recuperação das energias psíquicas, assim como do corpo. Então, temos de perceber que há um reservatório de energia mais densa e um reservatório de energia mais sutil. Logo, devemos usar bem nossas energias uma vez que se entende da necessidade das mesmas e de que essas são finitas. 

Portanto, para trabalhar em si, para desenvolver suas capacidades, precisamos fazer três coisas 

  • Parar de desperdiçar energias
  • Aprender a repor as energias
  • Aumentar a capacidade de nossos reservatórios de energias

Sim, é possível aumentar a capacidade de nossas energias. Quando se fala das energias mais densas isso fica mais evidente. Um exemplo é criar um condicionamento físico. Um corpo funcional possui prontidão para agir, move com maior eficiência e por isso consome menos energia. Por outro lado, um corpo cansado, esgotado e desleixado rapidamente esgota suas energias. Outro fato é que o corpo, ao esgotar as energias mais densas, também irá rapidamente consumir as energias mais sutis. 

Da mesma forma, uma pessoa que se dedica exclusivamente ao condicionamento e preparo físico de seu corpo poderá esgotar suas forças nessa empreitada. Assim não terá energia para desenvolver sua psique. Logo, a mesma se congela em uma atitude de faquir onde a capacidade de usar o esforço da vontade se limita ao bem estar e auto imagem do corpo. 

Esforço nos quatro caminhos

Quando Gurdjieff explica sobre o Quarto Caminho ele enfatiza a necessidade de atuar em todos os três caminhos tradicionais para o correto desenvolvimento harmônico do Ser. Entretanto, noto ser comum que pessoas buscadoras do desenvolvimento psicológico tornem isso um exercício mental com o abandono do corpo. Há também outro grupo que busca excesso de atenção ao corpo, sua atração, beleza e endorfina do movimento. 

Gurdjieff diz que não temos necessidade excessiva de fazer exercícios físicos. Porém, vivemos em uma época de grande sedentarismo. Então, investir uns 30 minutos diários em movimento intenso e moderado é algo necessário.

Porém, há outro ponto que ainda precisa ser abordado quanto às energias mais densas do corpo. Existe uma necessidade de aprender a habitar o corpo em sua totalidade. Logo, é preciso também dar mobilidade, vitalidade e integração a todas as partes de nosso corpo. É justamente esse segundo entendimento que permite aumentar a eficiência de nossa máquina. Portanto, podemos aprender a recarregar rapidamente o corpo tanto quanto aumentar sua capacidade de armazenamento de energia.

Não vou abordar técnicas para isso nesse momento. Já citei por aqui várias dessas técnicas. No entanto, entenda que esse é o caminho do iogue. Muitos confundem o caminho do iogue como um caminho mental. É fato que a mente participa desse desenvolvimento. No entanto, não é a mente intelectualizada que deve ser usada nesse contexto. 

Na semana que vem continuarei a abordar esse tema. Lembre-se de observar para onde está indo sua energia. Isso é um grande atalho no desenvolvimento, pois, nos diz muito sobre os “eus” que habitam nossa alma. Uma ótima semana de estudos para todos. 

Lauro. 

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