Eu tenho a Força!

O que move o universo é o poder. Poder da própria Vontade Divina. O raio da criação parte do uno, do todo. Esse todo se divide em dois. A partir desse momento uma força afirma uma vontade enquanto outra a nega. Portanto, é necessário um terceiro elemento que realize a harmonia entre as tensões. De outra maneira, se algo quer existir, outro algo de mesma proporção não quer existir. Assim, a existência somente é possível pela atuação dessa terceira força da qual passa desapercebida pela maioria das pessoas.

O Raio de Criação

No modelo cosmológico de Gurdjieff, O Grande Criador Absoluto doa parte de si para criar o próprio universo visível. No entanto, Ele passa a sofrer as influências do grande Heropass. Ou seja, a passagem do tempo. Para que o Grande Criador não venha a se exaurir pela atuação do tempo, é necessário que ele receba de volta o que foi doado. Assim, o universo é uma constate dinâmica onde energias partem da “Fonte Suprema” até a mais densas formas de existência, retornando a mesma Fonte Criadora. Outro ponto dessa cosmologia é dito que O Grande Criador Absoluto também tem de obedecer às próprias leis da criação.

O Ponto 9 do Eneagrama contém no Um as três forças de afirmação, negação e reconciliação de maneira indivisível. Contudo, ao manifestar essas mesmas forças no mundo, tais forças passam a atuar de maneira individual. Portanto, o Ponto 8 no Eneagrama apresenta a primeira fragmentação da Vontade Divina em três forças individuais. Dessa forma, o que foi criado então também se torna criador. Da mesma forma, é no Ponto 8 que começa o processo da “Queda” dos Anjos.

O poder corrompe até os anjos

A separação dessas três forças da própria Fonte Criadora permite que tais energias sejam usadas em um processo de cocriação. Ao mesmo tempo, o choque entre forças opostas faz surgir o conceito da dualidade até então inexistente no Ponto 9. Em outras palavras, se há ideias divinas deve haver ideais não divinas. Em suma, o aparecimento da dualidade, se por um lado permite o processo da cocriação, também traz o processo de livre arbítrio, da livre escolha. Além do mais, também traz o reconhecimento do poder que lhe foi dado. E justamente o reconhecimento do poder de fazer o que se quer fazer: O Poder da Vontade.

Contudo é aí que surge o mito da “queda dos anjos”. Assim, esse processo de queda começa ao se reconhecer o poder e o livre arbítrio de utilizar tudo a sua própria vontade. Ainda mais, toda a criação do universo acontece dentro de um processo extremamente caótico. Há uma disputa cósmica entre batalhas de forças. Grandes estrelas se formam e de suas mortes surgem os elementos químicos que compõem todo o universo. A realização de qualquer evento cósmico é uma batalha por recursos e territórios.

Poder do Caos e o poder da Ordem

Este caos sofre a interferência de uma outra força oposta que lhe impõe uma força de ordem.  Afinal, nada se consolida num universo em caos total. Tudo estará a se dissolver e expandir. Contudo, um universo em total ordem estará congelado e nada mais se transforma. Assim, para que a criação se realize, é necessário um terceiro elemento que regule tanto o caos quanto a ordem. Essa força é a vontade de conduzir o universo a um propósito de sua criação.

O que mantém a harmonia dentre as tensões de disputas das polaridades será um objetivo comum.  Um propósito universal que transcende a tensão das polaridades. A polaridade sempre tenderá a afastar e anular a presença de seu oposto. Contudo, é pela atuação dessa terceira força invisível que a harmonia é obtida. Mas tal forca atua em prol de um objetivo e de uma ação. Além do mais, atua pela força consciente de sua vontade.

O poder da vontade

Dentro do raio de criação, O Absoluto decide conhecer a si mesmo e se desdobra no tempo. Porém esse ato o torna passível a própria destruição pela ação do tempo. Para tanto O Absoluto recorre ao processo de cocriação seguindo as leis das oitavas. Assim, todo o universo contém fragmentos da Vontade Divina. No entanto, os intervalos do raio da criação são preenchidos pelo processo de cocriação.

Quanto mais afastado do raio da criação, menor são as influências Divinas diretas. Por outro lado, maior é a liberdade criadora. Não que tal liberdade esteja livre de qualquer regra ou lei. Ao contrário, quanto mais afastado, maior são os conjuntos de leis impostos. Porém, o que está no Absoluto só pode agir pela própria Vontade Divina do Absoluto. Afinal O Absoluto é um e indivisível. No entanto, o que se afasta do Absoluto deve participar do ato da criação, podendo até agir contra a Vontade de Deus.

O mito do anjo caído.

O mito mais famoso do anjo caído é de Lúcifer. De acordo com o Velho Testamento, Lúcifer é o anjo que desafiou Deus em permitir que lhe fosse dado a liberdade de ser tão poderoso quanto o próprio Criador. Lúcifer significa o portador da luz. Porém ter poder significa também ter responsabilidades sobre suas próprias ações. E essa é a grande questão. No momento em que falhamos, temos de lembrar que seremos julgados pela nossa própria consciência. Afinal é a nossa consciência a parte mais divina que possuímos. Quanto mais negamos o próprio erro, mais nos afastamos da nossa consciência. Logo, menos próximos estamos da Vontade Divina.

A liberdade de uso de sua própria vontade leva indubitavelmente a um julgamento moral. Daí nasce a polaridade entre o bem e o mal. Todavia, em Deus, perante a ação da terceira força conciliadora, não há bem ou mal. Há somente a própria existência e seus aprendizados. Há somente a redenção. No entanto, aquela força que nega a Vontade Divina, deverá se reconciliar. É justamente sobre essa reconciliação que Jesus fala na parábola do filho pródigo. O filho que tomou metade dos bens de seu pai. Somente depois de se arrepender de seus erros foi capaz de retornar “a casa de seu pai”. De outra maneira, somente quando reconciliamos a nossa consciência com nossas ações é que retornamos ao Absoluto.

Ponto 8, o ponto do poder

A personalidade que se cristaliza no Ponto 8 do Eneagrama lembra exatamente do seu próprio poder de vontade. Poder que permite cada um “ser o que quer ser” e “moldar sua realidade a sua própria maneira”. Tal poder não é de exclusividade do “tipo 8”. Todos os tipos possuem o mesmo poder. Tanto que a personalidade é imutável. O que muda é o nível de consciência e integração de uma pessoa. Portanto, todo o universo está imbuído do mesmo poder. Isso é uma lei universal. Porém, a personalidade do tipo 8 tem consciência disso.

Ao mesmo tempo, o tipo 8 sofre também do mesmo problema de todos os tipos: o processo de queda da consciência a medida em que se afasta da conexão da totalidade do raio da criação. A peculiaridade da cristalização da personalidade no Ponto 8 é levar a criação de uma falsa personalidade que crê ser dona exclusiva de tal poder.

O fato de lembrar da existência de tal poder permite que este seja usado. Daí o comportamento excessivamente energético da personalidade do tipo 8. Usar tal poder é direito nato a todos. E lembrar de sua existência e, ser capaz de usá-lo, é uma especialização do viés cognitivo do tipo 8.

A existência em contraposto ao nada

Como vimos no artigo da semana passada, tudo surge desse “nada Divino”. Porém, o processo de cocriação do universo traz uma questão. Faz com quem participa de tal processo parte divino também. Assim a criação da existência se contrapõe a não existência. É dessa tensão nasce o conflito da sobrevivência. Portanto, isso é um drama cósmico. Está presente nas próprias leis do universo e fazem parte das consequências da própria existência. De outra forma, a vontade de fazer e sobreviver é inata ao próprio processo de criação do mundo.

No entanto, a falsa personalidade do tipo 8 faz surgir uma ilusão de poder. Uma ilusão que tal poder que lhe foi concedido, lhe pertence somente para usufruto das próprias vontades. Ainda mais, quanto mais inconsciente a pessoa, mais manifesto será os traços da tipificação da personalidade. Em outras palavras, quanto mais “caído estiver o anjo” maior será a sua falsa personalidade.

Tensão x vontade

A consciência latente de que “nada lhe impede de usar a sua liberdade de aplicar sua vontade”, aos seus desejos, faz com que surja a emoção básica da raiva. Afinal, tudo que se apresenta como negação a própria vontade cria uma tensão. Tal tensão é uma clara demonstração de disputa de poder. Assim, a raiva surge como uma emoção que reage a contradição. Uma pessoa nada pode fazer quando desprovida de seus próprios poderes psíquicos. A raiva é uma emoção básica de ativação ao próprio instinto de sobrevivência.

Isso é um processo do Ponto 8 e não do tipo 8. O que difere nesse caso da cristalização da personalidade no Ponto 8 é a importância dada a questão da disputa de poder. Mas para a falsa personalidade do tipo 8 será pelo simples desafio de reforçar sua vontade. Tal reação é um impulso de reforçar sua própria existência. Contudo, um tipo 9 reage sob as mesmas leis. Ao tentar “manter a harmonia” está utilizando do poder de sua vontade em estabelecer seu viés cognitivo como uma verdade no mundo.

O Egoísmo Altruísta

O Ponto 8 nos lembra que todo o universo nasce de uma ação egoísta. A primeira ação egoísta é da própria criação Divina. Coube ao Absoluto decidir e fazer porque assim Lhe apeteceu. Tudo que existe só existe pela impressão da força da vontade. Participar da vida é participar de uma disputa de vontades e tensões. Contudo, o ato de cocriar é participar da ação mais divina do cosmos. Porém, toda criação requer que algo morra para o novo. O novo somente nasce do que já existiu. Por outro lado, o que existe quer sobreviver pela própria lei da ação da manutenção do universo. Assim como pelas leis que fornecem a ordem sobre o caos. No entanto, quando não se perde a perspectiva cósmica do Ponto 8, haverá o entendimento de que toda essa disputa, morte e transformação, faz parte de uma entrega voluntária da própria Vontade Divina. É o mais puro ato Crístico do Deus sacrificial.

A grande ilusão reside em crer que se é um. Assim a pessoa acredita ter uma vontade coesa e única. Enquanto a verdade é que tal vontade está fragmentada em múltiplas vontades. O verdadeiro trabalho do Ponto 8 é justamente essa depuração da vontade em torno de uma união que irá formar o próprio ser. Esse é o trabalho alquímico, tanto esotérico quanto psicológico. Por outro lado, a falsa personalidade do Ponto 8 crê que tal unidade já existe e que a pessoa é dona de sua vontade, livre para escolher e agir.

Também deve-se aprender que o verdadeiro combate é o combate interior. Ali que reside todos os conflitos do universo. Todos os conflitos exteriores somente existem como choques que expõem a verdadeira condição humana. Contudo, isso não significa abandonar o mundo exterior. Porém aquele que realizou o bom combate (Saulo) se torna centro magnético para a transformação de muitos outros seres.

Colaboração é a grande força

Por fim, vale lembrar que ninguém faz nada sozinho. O entendimento que o mais forte sobrevive nem sempre é verdadeiro. Na grande maioria das vezes não é a força bruta, mas sim a capacidade de adaptação que reside a grande força da vida. Então, o mais adaptado sobrevive. E isso inclui a capacidade de colaboração. Afinal, esse é o grande diferencial humano.

Uma personalidade tipo 8 pode ser um “elefante em uma loja de cristais”. Contudo, esse elefante pode ser um contorcionista. Mais ainda, elefantes não deveriam estar em lojas de cristal. Quanto mais consciência se tem de toda a disputa de poder cósmico e em si, mais a personalidade passa a ser um adereço. Além do mais, é somente uma de várias outras expressões.

Para quem interessar em entender mais sobre o tema sugiro a primeira trilogia de Star Wars:

  • Mestre yoda > a força passa por você, harmonia
  • Imperador (Darth Sidious) > a força passa por mim, faço o que é de minha vontade
  • Darth Vader (Anakin Skywalker) > o anjo caído que se redime perante sua própria consciência.

Também sugiro ver essas outras duas séries:

Lucífer (Netflix), conta a história do próprio que resolve abandonar suas obrigações e ir morar na cidade de Los Angeles. Durante as várias temporadas, Lucífer terá de enfrentar seus próprios “demônios interiores” em uma jornada psicológica de crescimento.

Mestres do Universo – Salvando Eternia (Novo He-man) (Netflix), a temporada 2 em especial apresenta uma boa reflexão entre He-man e seu arqui-inimigo Esqueleto quanto ao poder e a força. Afinal, EU TENHO A FORÇA! Mas para quê mesmo?

Uma ótima semana de estudos para todos vocês! E que a Força esteja com todos nós!

Lauro Borges

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