Você conhece o seu balanço?

Balanço é algo que nos leva de um extremo ao outro, mas, sempre acha um ponto de equilíbrio. Assim, algo que tem balanço consegue mover e retornar ao seu próprio centro. Do mesmo modo, algo desbalanceado vai querer trazer tudo o que está ao seu redor para sua excentricidade. A vida na personalidade é uma vida sem balanço. Uma vida que precisa servir um ponto que está fora do seu centro. Algo que está em sua periferia. Portanto, algo excêntrico a você.

Dizem que ricos não possuem nenhum problema, são todos “excêntricos”. Assim, a palavra excêntrico tornou-se um atributo positivo que justifica toda a ignorância de personalidades poderosas. Dizem que ser excêntrico é afastar-se do habitual e do comum. Contudo, não há nada mais comum do que acreditar em sua própria personalidade. Claro que tudo bem as pessoas terem gostos e interesses distintos. Nada de errado com isso. Não é sobre vestir de uma maneira ou pintar o cabelo de outra que realmente importa. É excelente ter uma personalidade que funciona como parte de um todo, mas, não é o centro desse todo. O problema é quem está no controle desse centro. Afinal, a localização desse centro que causa balanço ou desequilíbrio em um indivíduo.

Todo o trabalho de crescimento espiritual é uma busca por equilíbrio. Estamos cada vez mais desesperados por um balanço interior que nos ajude a distinguir limites adequados de nossos comportamentos. É certo que temos recursos limitados. Contudo, o mais limitado desses recursos é o tempo. Logo, como devemos investir nosso tempo? Como obter uma vida em equilíbrio com um apropriado balanço?

Devemos lembrar que somos inicialmente seres biológicos. E como tais, somos resultados de milhares de reações químicas de nossos organismos. Entre tais reações estão as dos hormônios. Esses complexos compostos fazem com que queiramos ser mais agressivos ou mais passivos. Criam maior desejo por relações sexuais ou desinteresse pelo tema. Outro fato é que nosso corpo muda ao longo da vida. A nossa vida química é diferente para cada fase da vida. Logo, o tal “balanço” pode ser mais difícil de se obter para determinados temas em determinadas fases de nossas vidas.

Somando a isso, devemos considerar que as preocupações que a vida impõe a nós também são diferentes para diferentes fases de vida. Por último, cada um de nós possui uma série de diferentes questões a resolver. Portanto, não devemos esperar que o equilíbrio de uma pessoa seja o mesmo equilíbrio de outro. Porém, temos esse péssimo hábito de comparar com os outros. Como não temos manual de instrução, comparar com os outros é uma maneira de obter algumas referências. Porém, na grande maioria das vezes irá nos faltar muitas outras informações sobre aquela pessoa que estamos nos comparando. Então, a comparação é muito incompleta para ser verdadeiramente útil.

Mas quando estamos em um grupo de trabalho, vemos pessoas mais experientes. Muitos desses são mestres, professores, sábios do conhecimento do trabalho. Só que não vemos o passado dessas pessoas. Também não vemos o tanto que essas pessoas foram capazes de aplicar em si a transformação do Trabalho. Já falamos aqui várias vezes que aprender sobre o trabalho toma tempo e esforço. Entretanto, aplicar o trabalho em si é ainda mais desafiador. Mais ainda é conseguir aplicar esse trabalho em si, por um tempo suficiente, a ponto de conseguir deslocar o seu centro da excentricidade da personalidade para o centro de seu ser.

Assim, se é raro ter mestres que sabem o caminho, é ainda mais difícil encontrar mestres que percorreram o caminho. Além do mais, esses mestres ou mestras que percorreram o caminho normalmente estarão mais próximos do fim de suas vidas que os outros que mais conhecem do que percorreram. Logo, os primeiros mestres são mais acessíveis. Também, muito mais provável que os primeiros mestres ainda sejam mais jovens. Assim, com mais energia e disposição para criar grupos e ensinar. Em outras palavras, são os que mais conhecem do que percorreram que acabam criando tendências.

Isso aconteceu com Gurdjieff e com outros mestres. Dessa forma, é normal observar que essa pessoa transmitiu ou defendeu ideias diferentes em diferentes fases de sua vida. Na verdade, encontrar defeitos, incoerências, falhas de comportamento ou de ensinamento de tais pessoas é a prova de que muito dificilmente alguém nasce perfeito. Acredito eu que isso não existe. Também mostra que por mais poderosa que seja a ideia de uma pessoa, ela pode ainda estar longe de ter conseguido realizar em si o que ela vislumbra.

No fim isso ocorre porque temos diferentes balanços para diferentes fases. Também, vamos amadurecendo nossos conceitos e entendimentos a partir do confronto com o outro. Enfim, ninguém sai inócuo da ação do próprio Trabalho a partir do momento em que se faz contato com ele. No fim das contas, o que se deixa na vida é a sua própria obra. E somente essa que pode ser melhor avaliada em uma perspectiva mais ampla.

Portanto, existem duas conclusões aqui. A primeira é se ainda vale a pena aprender sobre a obra de uma pessoa. Podemos somente concluir isso quando avaliamos a obra dessa pessoa e o que ela nos ensina para o nosso momento. A segunda conclusão é não idolatrar nenhum mestre. Claro, podemos ter afeto, carinho, sentimentos positivos. Podemos ter admiração, principalmente para aquilo que tal mestre/mestra ensina sobre o Trabalho. Porém, a pessoa humana deve ser sempre reconhecida.

Portanto, sugiro que reflita sobre a sua própria obra. Como tem se esforçado para aplicar o que sabe em seu dia-a-dia? Tem conseguido progresso? Você é capaz de enxergar suas excentricidades que lhe tiram do balanço de seu equilíbrio interior? O que o Trabalho e o exemplo de mestres e mestras lhe ensinam sobre isso?

Boa semana de estudos para vocês!

Lauro Borges

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