Me fizeram a seguinte pergunta pelo grupo de estudos: “Ouspensky ao explicar a materialidade do conhecimento diz que o conhecimento é limitado, pelo menos o esotérico. Não entendo o porquê o conhecimento esotérico ser limitado materialmente.”
Vou tentar responder pelo o que entendo ser a questão da limitação do conhecimento esotérico. Para tanto, precisamos entender ou lembrar de alguns conceitos sobre a cosmogonia de Gurdjieff. Em outras palavras, precisamos lembrar do modelo que Gurdjieff utiliza para descrever a origem do universo. Vou tentar colocar isso de uma forma simples que não necessariamente cobre todos os detalhes narrados por Gurdjieff em sua obra Relatos de Belzebu para seu neto.
Inicialmente temos somente o princípio criador, ou seja, o Todo Absoluto. Esse se divide em dois fatores. No entanto, ao fazer essa divisão o Absoluto viu-se em um processo de dissolução no tempo. Então, se fez necessário criar um processo onde parte Dele participa da própria criação.
Assim, a força Una tornou-se Triade. O nível de consciência da Tríade co-participa em criar o universo, desdobrando em uma sexta (6) . Dessa forma vai se desdobrando até os últimos níveis de consciência (12,24,48,96). Uma parte do Todo Absoluto continua a se desdobrar até a dissolução final. É como uma árvore que lança suas raízes ramificadas com seus caules e filamentos por toda as profundezas do universo.
No entanto, ao continuar esse desdobramento, há uma diluição da participação do Absoluto em cada nível de involução. Ou seja, a presença do Absoluto diminui a medida que se distancia do Criador. Nesse sentido, a Terra está em um “canto de universo” não muito privilegiado. Portanto, a participação ativa do Absoluto não é tão presente quanto no centro do universo.
Porém, a bondade do Todo Absoluto permite que haja um retorno de toda a sua criação para sua Fonte. Além de ser uma bondade, é também uma necessidade. Se as energias não retornarem a sua Fonte, o Todo Absoluto tornar-se-á vítima do “Impiedoso Heropass”, que significa o fluir do tempo.
Vamos agora lembrar do sistema solar. O nosso Sol está em um nível 12 de consciência e cria os planetas, incluindo a Terra, em um nível 24. A Terra, por sua vez, cria a matéria orgânica, nível 48, para levar sua energia até a Lua, que está em nível 96. Uma boa parte da cosmogonia de Gurdjieff é gasta explicando que foi necessário inserir algumas modificações em nosso nível orgânico para evitar que uma grande catástrofe ocorresse.
Resumindo a história, isso significa que a vida orgânica no planeta Terra tem um objetivo cósmico de estabilizar a transformação de energia vinda do Todo Absoluto até a Lua. Se interrompemos a história por aqui, teremos um entendimento que somos escravos de um deus demiurgo. Pela filosofia gnóstica, tal deus seria um ser que nos mantém escravos e distantes do Deus amoroso e verdadeiro. Esse deus demiurgo não pode libertar as pessoas de sua criação, pois, isso o condenaria à própria morte.
Gurdjieff tem um entendimento diferente e mais “maduro” disso tudo. Para ele, tal deus demiurgo não age por sentimentos malignos, mas, age por necessidade. Conforme colocado acima, o nível orgânico (48) precisa participar desse processo como uma maneira de estabilizar um acidente. Todavia, por ordem e compaixão superior foi nos dado a oportunidade de sair desse sistema. São duas as saídas possíveis: por cima e por baixo. A saída por baixo é a total aniquilação da existência onde a consciência se dilui até tornar-se o nada, torna-se o vazio. A outra opção é a saída por planos superiores em que a consciência é elevada, podendo alcançar o estado solar (12).
Porém, não importa a saída escolhida, ambas exigem um pagamento. Logo, o sistema é estabelecido a premiar aqueles que se voluntariam em sacrificar mais do que o necessário. Todos pagamos involuntariamente pela existência. E esse pagamento vem em forma de sofrimento. Não é necessário gerar mais sofrimento do que o naturalmente gerado. No entanto, uma pessoa pode escolher realizar seu sacrifício voluntariamente, ao invés de sofrer inconscientemente.
Agora chegamos ao peso do conhecimento esotérico. Para Gurdjieff, tudo é energia. E toda energia é material. Não há distinção entre energia e matéria. Veja que a teoria da relatividade foi publicada em 1905. Não posso afirmar se Gurdjieff foi influenciado pela ciência moderna, e em especial pela teoria geral da relatividade. Contudo, ele utiliza analogias a sistemas atômicos e hidrogênios por um longo período. É fato que buscava dar uma roupagem mais contemporânea aos antigos ensinamentos e sistemas esotéricos. No entanto, para ele existe o conhecimento direto e conhecimento indireto.
Para quem conhece mais dos estudos do Quarto Caminho, estamos falando de forças de influência da vida (forças A) ou forças de influencia esotéricas (forças B). O conhecimento esotérico só pode ser obtido pelo contato direto. Esse é o processo da Cabala. A palavra Cabala significa “Receber”.
Assim, todo o conhecimento escrito por todas as tradições religiosas, filosóficas e espirituais são a materialização do contato com o conhecimento direto. Porém, ao realizar a materialização desses conhecimentos, acontece uma passagem de energia de 12 para 48. Em outras palavras, todo o conhecimento esotérico materializado torna-se “ouro de tolo”. Ou seja, torna-se palavras vazias, sem sentido, sem espírito. Logo, se faz necessário usar de seu contato interior para dar vida aquele ensinamento. Como se diz no ensinamento alquímico, é necessário ter ouro para se fazer ouro. É necessário ter “um pouco” de energia 12 em si para atrair mais energia 12 para si.
Resumindo, as energias superiores não podem se fazer presentes nos processos inferiores em quantidades acima de um mínimo necessário por dois motivos. O primeiro para não interferir no processo inferior. Tal processo deve seguir sua própria regra e dinâmica. Afinal, tudo existe com um propósito e para atender um propósito mecânico. O crescimento pessoal é fruto da transformação por esse processo existente, por essa máquina (Deus ex machina) . O segundo motivo é que os níveis superiores também são limitados em sua energia. Por fim, talvez você comece entender que nada é de graça nessa vida. Nem mesmo a graça de respirar é de graça. Você cumpre um papel cósmico involuntariamente ou voluntariamente. O fato de um querer crescer além do tempo do processo global é uma opção individual. Haverá saídas e ajudas sempre disponíveis a quem rezar e se voluntariar a fazer mais conscientemente.
Por último, Gurdjieff diz e prova sabiamente que esse processo não é injusto, apesar de assim parecer. Pense que Jeff Bezos é o homem mais rico do mundo. Sua fortuna é de U$188 bilhões. A população da Terra é de 7,7 bilhões de habitantes. Se ele dividir toda a sua fortuna dará U$23,00 por habitante. No longo prazo Isso não vai resolver o problema de ninguém. Outro fato é que muitos simplesmente não querem receber. Essa é uma das mais dolorosas verdades. Muitos não querem nada saber ou receber das influências esotéricas. Então, aqueles que estão verdadeiramente buscando crescer não devem sentir culpa. Não estão roubando de ninguém. Estão recebendo o pagamento por seus esforços meritórios.
Então, fecho com o Raulzito pra descontrair.. ótima semana de estudos para todos vocês.
O homem apressado me deixou e saiu voando
Metrô 743
Aí eu me encostei num poste e fiquei fumando
Três outros chegaram com pistolas na mão
Um gritou: Mão na cabeça malandro, se não quiser levar chumbo quente nos córneos
Eu disse: Claro, pois não, mas o que é que eu fiz?
Se é documento eu tenho aqui
Outro disse: Não interessa, pouco importa, fique aí
Eu quero é saber o que você estava pensando
Eu avalio o preço me baseando no nível mental
Que você anda por aí usando
Composição: Raul Seixas