Quarto Caminho pelo mundo, entrevista M. Gururaj

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A postagem desta semana traz uma entrevista com um novo colaborador do site, meu amigo de caminhada de autodescobrimento M.Gururaj. Já o conheço alguns anos por meio de um grupo de estudos do Quarto Caminho, bastante heterogêneo, com a participação de pessoas de todos os continentes deste mundo. Fiz o convite para ele compartilhar sua experiência do Quarto Caminho aqui no blog, o que foi prontamente aceito. Assim, aproveitei para fazer esta entrevista com ele. 

Lauro: Meu querido amigo, como foi que você chegou nesta jornada de espiritualidade ao Quarto Caminho?

Gururaj: A uns 30 anos atrás (agora estou com quase com 59 anos), comecei a me perguntar sobre a vida e o ser. Até antes então, eu, naturalmente, seguia o fluxo da vida. Adorava esportes, ler, estar na companhia de amigos, fiz uma pós graduação e estar em um bom emprego. Mas, lentamente entrei em um estado sem alegria e sem entusiasmo. Eu estava passando por responsabilidades e situações da vida com a sensação de estar sendo sugado por esta.

Então, surgiu uma necessidade em mim de encontrar respostas para perguntas, que não eram muito claras para mim, em primeiro lugar. De qualquer forma, uma semente foi plantada para  explorar novos significados. Comecei com leituras das biografias de algumas pessoas santas (principalmente J.Krishnamurti e Ramana Maharshi), e, o que elas diziam tornou-se um assunto de meu profundo interesse. Pareceu-me que eles abordavam alguma realidade mais profunda. Fiquei impressionado com a maneira como eles viveram suas vidas e a sabedoria de seus conhecimentos.

Logo, alguém me arrastou para um programa que pertencia a um sistema em que os  participantes tinham que tentar abandonar toda resistência e condicionamento mental e procurar atingir objetivos muito específicos e precisos na vida pessoal. Eu estava sob essa nova influência por alguns anos, chegando a ser um treinador nesse sistema. A insatisfação que tive com esse sistema foi que os participantes não eram incentivados a usar o intelecto e perguntar sobre sua base psicológica e intelectual. Além disso, tornou-se quase impossível gerenciar essas responsabilidades de coaching junto com meu trabalho regular.

Nesse momento, ouvi falar sobre Gurdjieff e o Quarto Caminho, em um artigo de jornal que dizia que os princípios de Gurdjieff eram a inspiração por trás de muitos sistemas. Saí do sistema em que estava e a longa jornada do Quarto Caminho começou e ainda estou nele.

Primeiro, li com fome, toda literatura de Gurdjieff, que consegui. E, então, percebendo a necessidade de exploração prática dos princípios, também conhecidos como Trabalho, juntei-me a grupos de colegas exploradores – um virtual, usando a internet (foi aqui que nos encontramos) e, posteriormente, um grupo local na Índia, onde estou adquirindo a experiência de interações diretas, bem como dos exercícios especiais dos Movimentos de Gurdjieff, guiados por dois seniors do Trabalho.

Olhando para trás, o Quarto caminho, tem sido muito valioso por me fazer entender a distinção entre o conhecimento e o Ser. Além disso sobre a necessidade de se alimentar (apoiar) um ao outro em uma espiral ascendente de transformação. No início da minha vida adulta, a vida de pessoas santas me inspirou, com seu conhecimento. Mais tarde, o sistema orientado a objetivos em que eu estava, focava apenas em ser altamente eficaz na vida. Portanto, O Quarto Caminho acabou sendo uma abordagem abrangente que equilibra ambos, 

Além disso, define precisamente as realidades mais refinadas além de nossa existência material e, ao mesmo tempo, conecta a vida humana a uma perspectiva cósmica. Aprecio a maneira  muito prática em encontrar o nível em que estou neste momento e procurar observar  objetivamente como sou de momento a momento, em situação a situação, apoiado por um conhecimento único do design humano que está sendo lentamente confirmado pela psicologia moderna. Foi uma grande ajuda explorar o que significa estar verdadeiramente vivo e evoluir para mim e para outros com a ajuda do que parece ser um mapa preciso e muito detalhado da realidade, de um grão de areia em direção ao Divino.

M.Gururaj, nosso novo colaborador do blog!

Lauro: Existem muitas outras tradições na Índia. Pessoas do ocidente vêm à Índia para conhecer mestres de antigas sabedorias. Parece uma direção oposta, para um indiano, se inspirar no Quarto Caminho.

Gururaj: Diz-se de brincadeira, mas é bem verdade, que muitos indianos são “não residentes” (em comparação com “não-residentes indianos”, que são os milhões de indianos que emigraram

para países com mais alto padrão de vida). Graças à colonização pelos britânicos  anteriormente, o inglês se tornou o idioma usado, mesmo para pensar, por um grande número

de indianos, embora em suas casas eles ainda usam seus idiomas nativos. Eu sou dessa  classe de pessoas. Portanto, esse foi um fator para ser fácilmente apresentado ao Quarto  Caminho, e começar a ler sobre ele. Outro fator é a natureza do Quarto Caminho, e seus métodos e práticas. Até onde eu sei, não há nada semelhante nas tradições espirituais indianas e não há mestres vivos agora que eu possa seguir. De acordo com a perspectiva moderna atual, o que eu gosto no Quarto Caminho, é que ele tem princípios autênticos e confiáveis, com foco na verificação destes e uma história de formação de grupos que mantêm e apóiam os membros nesta investigação. Há uma quantidade bastante grande de leitura escrita por

Gurdjieff e aqueles que o seguiram, que servem como  maneiras poderosas e profundas para continuar nosso trabalho, mesmo que nenhum profissional experiente esteja lá para nos guiar de perto. Graças apenas a isso, sou capaz de entender e acessar a sabedoria não óbvia das tradições Hindu, Budista e Sufi da Índia.

Lauro:  Qual é a importância de um grupo no Trabalho?

Gururaj: O Quarto Caminho exige que questionamos os modos usuais de existência, enquanto ainda fazemos parte da vida comum. É um processo delicado de exploração que exige muito esforço e tempo. Assim, é como uma expedição e o apoio de uma estrutura de grupo é inestimável para avançar bem. As pessoas ao nosso redor, em nossas vidas, que não estão nessa jornada conosco, não possuem o contexto para entender o que estamos experimentando, embora acabem sentindo o nosso Ser, a medida que evolui. Somente os companheiros de viagem são confiáveis, não apenas para ajudar a manter nossos esforços, mas também para trocar descobertas. Existem muitos outros pontos sobre o trabalho em grupo, mas por enquanto, isso é o suficiente.

cont…

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Lauro: Você coordena um grupo de trabalho internacional e entramos em contato com pessoas de diferentes culturas. O que você aprendeu com isso?

Gururaj: De alguma forma, eu nunca havia pensado sobre isso antes, talvez, porque nenhuma diferença marcante tenha sido sentida. Poderia ser um indicador de que o design humano é basicamente o mesmo? Ou será que estamos sempre focados em um assunto comum, todos usando um idioma, o inglês? Mas, sim, lembro que, especialmente os membros mais antigos dos meus primeiros anos em nosso grupo (2007 a 2013), estavam falando mais sobre influências de seus respectivos contextos culturais – EUA, Canadá, América do Sul, Reino Unido, Europa e Austrália. Agora, de cada país somos apenas um, ou no máximo dois membros, e, talvez nos auto-censuramos para não expor muito o nosso contexto cultural nos posts que nós fazemos, em consideração pelos outros, que talvez não consigam se relacionar com aquilo. 

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1 comentário em “Quarto Caminho pelo mundo, entrevista M. Gururaj”

  1. Essa reflexão sobre a vida e o ser, citado pelo Gururaj, é algo que realmente impulsiona a transformação.
    Legal Lauro, valeu !

    Responder

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