Resolva isso antes de buscar mais autoconhecimento

 

Se você sente que tem patinado no seu progresso espiritual, é bem provável que esteja deixando para trás alguns conceitos básicos que não lhe foram explicados ou você não os compreendeu ainda. Entenda.

Na filosofia do Quarto Caminho, nos é explicado que possuímos dois centros de compreensão mental: o centro intelectual inferior e o centro intelectual superior. O centro intelectual inferior é chamado de centro formatório mental. É onde recebemos e agregamos as informações que nos chegam através de nossos cinco sentidos. São informações que viram conhecimento e que nos são úteis para a vida. Úteis para fazer coisas e resolver problemas da vida. O centro formatório é desprovido de criatividade e pensamento indutivo. É uma máquina, que dada uma entrada, buscará analisar e dar uma resposta programada. O centro intelectual superior é diferente. Lá se encontra a criatividade, o pensamento indutivo e a sabedoria de uma pessoa. É o que nos permite ver por detrás dos véus da realidade da vida, permite pensar por si e não pela cabeça dos outros.

É preciso entender a diferença entre a mente do centro intelectual inferior, formatório,  e o centro intelectual superior, pensamento. Podemos, por exemplo, conhecer a composição de um livro, descrever todo o material que o compõe, tintas, químicas, cola, fibras, letras, estruturas gramaticais e ortográficas. Podemos saber tudo do que é feito o livro, e até ler o livro. Mesmo assim, podemos não ser capazes de entender e interpretar o que está escrito dentro do livro. A parte de entender e interpretar o conteúdo do livro está ligado ao intelecto superior. Este centro é alimentado pela digestão e absorção do conhecimento do centro formatório.

O centro formatório, por ser uma máquina, necessita responder às necessidades de sobrevivência e de ação de nossa máquina biológica programada. Com isto, cada um dos nossos três centros de inteligência  possui seu próprio centro mental, pois, somos seres de “três cérebros”. Logo, o centro formatório se divide em três partes com suas funções 

  • pensamento instintivo e motor: controle da ação do corpo, equilíbrio  e automatismos biológicos

  • pensamento emocional: sentimentos, gostos e desgostos

  • pensamento intelectual: lógica, contrastes e polaridades

Podemos notar que as pessoas se dividem em grupos de acordo com tais capacidades. Os atletas normalmente possuem um pensamento instintivo refinado sabendo exatamente o que o corpo precisa fazer. Artistas e poetas tendem ao pensamento emocional enquanto filósofos, matemáticos e engenheiros possuem pensamento mais intelectual.  Bom, digo tudo isso somente para chegar ao ponto que temos vários centros mentais dentro de nós. No entanto, é normal ser especialista somente em um destes centros mentais. Isto ocorre de acordo com a predisposição e a formação recebida pela vida (criação familiar e ambiente). Então, como podemos falar uma linguagem universal se as pessoas se dividem em diferentes tipos de mente e interesses? Isto não é possível de ocorrer pela ação do centro formatório. Para isto é necessário desenvolver o centro intelectual superior e aprender a pensar por si. 

 

 

Boa parte da atividade de desenvolver o centro intelectual superior está associada à segunda educação. O verdadeiro pensar vem do centro do intelectual superior, que age em equilíbrio entre emoção, razão e a necessidade de ação. Por isto da necessidade de desenvolver os três centros simultâneamente. O verdadeiro pensamento é livre das influências formatórias dos três centros. Compreender o centro intelectual superior é como um raio que cai em nós, como se nos partisse ao meio e ao mesmo tempo ter uma sensação de completa compreensão do momento. Em outras palavras, é quando a “ficha cai”. 

 

O ensinamento em como desenvolver o nosso Ser não é de fácil compreensão. Isso porque recebemos a segunda educação através do centro formatório. Compreender é função do intelecto superior. E, para isso, precisamos desenvolver o intelecto superior. Por isso, as antigas tradições tornam este conhecimento sagrado. Este conhecimento deve ser tratado dentro do centro formatório como algo especial e que não pode ser misturado com as coisas da vida. Se misturar com as coisas da vida o conhecimento se dilui em mais contradições e fragmentos, afastando-se da compreensão necessária. 

 

Outro fato é que como o centro formatório aglutina e associa tudo que recebe da vida, logo, tudo tende a se misturar. Isto gera uma tendência de já achar que entendemos, que já estamos pensando e que já estamos fazendo o trabalho interior. O risco disto é que se use da falsa personalidade e do egoísmo para construir o Ser. Daí se pode afirmar que a ignorância é a base de tudo. A ignorância de não saber pensar pelo centro intelectual superior, fruto do risco de confundir o pensar pelo centro formatório com o correto entendimento. 

 

Não é fácil mesmo distinguir estas questões, toma um certo tempo de observação e estudos. Também vamos errar muito, confundir muito, tropeçar e cair muitas vezes na construção deste entendimento. O ponto aqui não é pregar que todos devem ter o correto entendimento antes de tentar algo. Claro que isto ajuda e lhe poupará muitos erros. No entanto, isto exige um sacrifício que não é plausível de ser feito por muitos. Logo, aceite o errar. Se você estiver em um processo contínuo de auto-observação e desenvolvimento, o seu erro lhe apontará seu desvio de compreensão. Porém, é necessário entender por si os conceitos básicos para não se perder nesta jornada.

 

  • fazer no nível do Ser requer construir este Ser

  • pensar pelo intelecto superior é o verdadeiro pensar

  • auto-observação é para ser feito todo dia

  • precisamos desenvolver nos três centros de inteligência (três cérebros)

  • o que é feito com consciência (presença e auto-observação) é útil e construtivo

  • tudo que fazemos de forma mecânica se perde para as forças da vida

 

Outro erro comum é acreditar que o entendimento, que a segunda educação é o Ser. Auto-observação não é o Ser. Conhecimento não é o Ser, assim como a prática de meditação, ioga e oração também não o são. São caminhos que nos levam até lá. O Ser é, tem presença, vontade, sentir e o pensar. A segunda educação é um esteio, uma escora, uma fôrma, um suporte que lhe dá um novo apoio ao crescimento. Inicialmente é ainda algo externo que nos chega pelo centro formatório. Não tem como ser diferente. O que pode lhe tornar diferente é a reverência que damos a esta segunda educação. Se a tornamos sacra, respeitosa e diferente do que recebemos na vida, será como uma ânfora nova para receber o vinho novo. E o vinho novo é o Ser. Será a base rochosa em que construímos a casa, a obra, e nesta morada habita o Ser.

 

No último século, o sagrado desvinculou-se das tradições esotéricas, que foram todas escancaradas. Símbolos de tradições sagradas viram estampas de camiseta, tatuagens, objetos de decoração em hotéis e bares. Entenda que isto não é um julgamento moral, mas, a consequência é a banalização do sagrado. Por consequência também se banaliza a segunda educação. Com isto as pessoas não entendem mais ou não conseguem mais fazer o Trabalho Interior. E por conta disto tem uma vida sem sentido e direção, sem um apoio concreto, construindo obras de barro. Depois despejam suas frustrações em grupos de oração, mesas de bares e festas insanas. E muitos vão procurar os psiquiatras e psicólogos para ver se eles resolvem seus problemas. Problemas que são fruto da falta de capacidade e aprendizado em trabalhar em si.

 

A segunda educação lhe leva ao verdadeiro pensar, a iluminação necessária da nossa realidade interior. Como podemos resolver um problema se nem o reconhecemos? Como podemos melhorar se nem sabemos o que somos, como funcionamos, como agimos? Mas o que mais se vê são pessoas tentando corrigir o mundo. E qual a garantia de que irão corrigir para a melhor direção se são cegos, simplesmente máquinas reagindo a uma carga de informação no centro formatório? Não menospreze a capacidade intelectual do centro formatório. Ali cabe muita informação, que combinada, gera soluções aparentemente inusitadas. Mas são aparentemente criativas porque somente associaram o que estava disponível. Uma solução criativa, do ponto de vista do trabalho interior, é uma solução que vem pelo centro do intelecto superior. Criatividade é para quem pode criar, isto é, para quem tem a vida. Não para quem é um reflexo da vida.

 

 

 

Por estas armadilhas do entendimento correto é que se reforça tanto a necessidade da tradição oral, entre Mestre e discípulo. Somente quem já percorreu um bocado pelo caminho pode ajudar quem vem atrás. Porém, a ausência de Mestres hoje deixa tudo mais difícil. A saída é encontrar bons professores e trabalhar em grupo. Professores que não são perfeitos, mas, que com o trabalho de mútua ajuda podem ir desvendando esse mistério. Professor e aluno devem esforçar para entender cada vez mais os conceitos básicos da segunda educação.

 

Trate o conhecimento da segunda educação como uma tese onde você é a antítese. A auto-observação lhe levará a síntese. Porém no momento, você é a tese (força ativa) e o conhecimento da segunda educação é a antítese (força passiva). E sem auto-observação, somente a força da vida, o automático, sonambulismo e identificação com tudo que ocorre a sua volta, não há força de harmonia. Se você auto-observar irá entender o que quero dizer, por um flash do centro intelectual superior. Isto elevará sua Consciência a lhe informar o nível do seu Ser. 

 

O conhecimento antecede a mudança, se não for assim não há mudança consciente. As coisas até podem mudar, mas, sem saber para onde estão indo. E provavelmente irão para lugar nenhum, uma soma zero.

 

Reflita:

Como sei se estou trabalhando?

Como sei se estou no caminho certo?

Como sei se estou no grupo certo?

Como meço meu progresso?

 

 

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