Para digerir as impressões temos de receber os três alimentos: comida, ar e impressões. Antes de mais nada, saber como receber e o que ingerir é essencial. Se você não sabe fazer isto, dificilmente poderá digerir e absorver adequadamente o que cada um destes alimentos lhe oferece para a manutenção e desenvolvimento de seu corpo físico, mental e emocional. Esta é a terceira parte do tema sobre os três alimentos. Você encontra aqui os textos anteriores.
Recebendo seus alimentos
Não pretendo aqui dar dicas sobre o alimento para o corpo físico. Para tanto sugiro buscar um profissional de nutrição caso tenha dificuldade nesse assunto. Claro que o básico pode ser dito. Uma alimentação saudável e balanceada sempre ajuda. Ouvir o corpo e respeitar o mesmo já é uma maneira e tanto de melhorar sua alimentação física. Além de tornar o ato de comer um exercício de auto-observação.
No entanto, o tipo de sua dieta não é o mais importante. Ao contrário, importa é perceber como você se alimenta. Você presta atenção no que come? Com qual velocidade? No sabor do que come e na quantidade? Sua atenção está dispersa em telas de tv e celular ou está percebendo o que coloca na boca ?
Você entende e reconhece que alguém trabalhou e se dedicou desde o campo até chegar a sua mesa para você se alimentar? Provável que você também trabalhou e teve como pagar por este serviço. Porém, imagine se você tivesse de cultivar todo seu alimento?
Você observa e lembra, apesar de um agricultora(o) se dedicar ao cultivo, é pelo graça concedida pela natureza que os alimentos crescem? Pela graça do sol e nutrientes da terra? Então, você não está simplesmente ingerindo comida. Você está se alimentando para manter-se e poder viver. O ato de comer é um momento sagrado. Desta maneira, comer um alimento para o corpo físico, realizando com presença e atenção, também traz consigo o terceiro alimento, as impressões. E quais impressões você colhe em engolir sua comida desta maneira?
A entrada do ar, o segundo alimento
O ar, ou prana Prāna (sopro de vida) é, segundo as antigas escrituras indianas, a energia vital universal que permeia o cosmo, absorvida pelos seres vivos através do ar que respiram. O segundo dos corpos energéticos ou Koshas.
Na filosofia vedanta , prana é a noção da força de sustentação dos seres vivos, a energia vital, originando a noção chinesa de Qi. Prana é um conceito central na Ayurveda e Yoga, onde acredita-se fluir através de uma rede de finos canais sutis chamados nadis. Prana foi exposta no Upanishads, onde é parte do reino mundano, físico, sustentando o corpo e a mãe de pensamento e, portanto, também da mente. Prana permeia todas as formas de vida, mas não é em si o Atman alma ou individual (Wikipedia).
Então, respirar não é algo puramente mecânico além da função de trazer oxigênio. Assim, lhe pergunto.. como anda sua respiração? Você nota sua respiração neste momento? Não há necessidade em alterar forçosamente a respiração. Basta prestar atenção a mesma que você notará seu corpo adaptando ao que for necessário. Por exemplo, sua respiração está curta ou longa? Tem pausas? O que acontece se você simplesmente para o que faz e dirige sua atenção a respiração?
Você nota alguma mudança de postura? Você nota algo relacionado a tensões desnecessárias em seu corpo? O que acontece se você mantém a atenção a respiração e permite seu corpo realizar pequenos movimentos? Como fica seus pensamentos?
Será que o fluxo e a qualidade dos pensamentos são os mesmos agora? E você presta atenção a respiração enquanto se alimenta?
Não há como ter presença e auto-observação sem notar a respiração. A respiração permeia a atenção e é a melhor maneira de sempre trazer nossa percepção sobre nós. Basta respirar, sem esforço. Deixar o corpo se adequar e permitir que uma certa abertura aconteça. Uma abertura que tem uma sensação de imobilidade e ao mesmo tempo de prontidão a ação. Uma abertura às impressões.
Recebendo as impressões
Veja que fica tudo mais fácil para receber as impressões com essa preparação. Assim nossa reação fica menos sensível. Não temos necessidade de reagir a tudo que nos chega, seja positivamente ou negativamente. Dessa forma, podemos notar como as impressões do mundo externo chega até nós. Você percebe como as impressões entra em você por seus sentidos ? Quais reações em seu corpo elas causam? Vontade de correr ou lutar? Calor ou frio? Tremor ou raiva?
Além disso, onde essas reações se alojam em seu corpo? Vão para a cabeça, membros , costas, ombros, mãos , pés ou maxilar? Que partes ficam tensas e quais ficam sem energia?
Junto com isto você pode começar agora a perceber seus sentimentos. Quais sentimentos são despertados pelas impressões que chegam a você? São sentimentos conhecidos? Provavelmente sim. Se fizer um pouco de esforço, mantendo a presença, rapidamente notará que tudo isso já lhe ocorreu muitas vezes. Todas estas sensações, emoções e pensamentos. E como somos repetitivos em ser sempre a mesma coisa, em reagir sempre da mesma maneira.
Trabalhando no momento ou qualquer momento
Após entender o processo de receber adequadamente os três alimentos, podemos começar a realizar o processo de digestão. Assim, você pode fazer este processo no momento em que recebe as impressões. Basta manter a presença e coletar o que lhe chega. Desta forma, note que o maior esforço de uma pessoa está em preparar e receber o alimento. Digerir em si ocorre sem a nossa atenção. Lembre-se que teu corpo tem todo o mecanismo para absorver e eliminar tudo que necessita.
No entanto, em muitas vezes, não estamos adequadamente em presença e não podemos receber as impressões da melhor forma. Porém, podemos aplicar uma segunda maneira de trabalhar com as impressões através de rememorar as mesmas.
Para tanto, podemos reservar uma parte do dia, de preferência ao fim do dia. Sente-se e sinta o pé no chão. Busque algumas respirações longas para poder “acomodar” em si. Após este pequeno relaxamento mantenha a atenção na respiração enquanto simplesmente relembra como foi o seu dia. Tente fazer isto momento a momento, passo a passo. Tente buscar o máximo de detalhes, porém, avance para os momentos relevantes e “veja” mentalmente o que aconteceu. Tente lembrar da sensação, sons, postura corporal, tom de voz. Enfim, tudo que conseguir associar.
O objetivo é sempre conhecer a si, ver como somos pela auto-observação. Não há necessidade e nem se deve julgar o que se vê. Não julgue, não reaja, não justifique e, principalmente, não engaje em argumentos internos. A auto-observação é um exercício de passividade, humildade e serenidade. O único objetivo é lembrar de si. Assim, quando conseguir estar presente em tempo real, poderá já saber com total antecedência, onde a impressão que chega em você irá te levar. Se você não reconhece o que você é, como parte de você mesmo e como ato seu, não há espaço para que uma nova alternativa aconteça. Isso ocorre porque, enquanto estamos fora do estado de presença, vamos acreditando que nossa reação, velha companheira de sempre, é algo novo e sempre apropriada. Enfim, somos vítimas de nós mesmos.
Digerindo o elefante
Digerir ou transformar impressões é como a jibóia que come um elefante. O trabalho verdadeiro e sincero é lento. Não existe muitos atalhos e requer paciência sempre. Não adianta acreditar que estará fazendo sempre. Isto é uma ilusão. Às vezes, certas impressões são tão pesadas, ou, deixamos acumular tanta coisa por tanto tempo que precisamos de ajuda. Essa ajuda pode vir de um grupo ou de um terapeuta. No entanto, se você não se dedica seriamente a este trabalho, precisará de ajuda constantemente e viverá em crises.
Em conclusão, temos a oportunidade de construir um Ser Humano que lembra de si. Um Ser que auxilia O Grande Criador Amoroso fundir-se com o Santíssimo Sol Absoluto. Um Ser real, não um “animal doméstico”. Um Ser que pode FAZER, mente ativa, gradação superior de razão. Imparcial, com consciência objetiva desenterrada pela prática dos esforços.
Aprendendo o que realmente significa VENCER.