Atenção, consciência e vontade.

A atenção é como uma tomada ligada a uma estação de energia. O que ganha sua atenção ganha também sua energia. Uma tarefa, atividade, obrigação, trabalho ganha energia se possui sua atenção. 

Algumas atividades podem ser feitas sem muita atenção ou até compartilhando a atenção. Isso porque nosso centro motor consegue atuar com energia própria uma vez que treinado. No entanto, contar uma sequência numérica e ler um texto simultaneamente é praticamente impossível. Exige  pelo menos o desenvolvimento de um treinamento intenso. 

Mas o que acontece se você disponibiliza sua atenção a uma tarefa e sua atenção não está concentrada na mesma? Nem vou entrar no mérito se você fará a tarefa com qualidade. Porém, o fato é que recebemos de volta um pagamento quando damos a atenção a uma tarefa. Esse pagamento são as impressões.

Por exemplo, você se põe a lavar as louças. Quantas impressões você recebe ao fazer essa tarefa? Existe a percepção da temperatura da água, da textura da bucha e das bolinhas de sabão entre outras. Também há a percepção do olfato. Acrescente a percepção visual que lhe informa se a tarefa é realizada com perfeição.

Todavia, ao executar essa tarefa temos também outras impressões mais sutis que podemos colher. A primeira em relação ao nosso estado emocional e mental. Estou fazendo essa tarefa com empenho? Me entrego a execução dessa tarefa? Ou será que minha atenção está dispersa em outros pensamentos e emoções que nada tem a ver com o momento? Nada tem a ver com a tarefa.

Esse pequeno exemplo pode ser exercitado para lhe mostrar como facilmente perdemos a atenção. Por consequência, perdemos muita energia com questões que nada têm a ver com o que precisa ser feito. Pode-se dizer que lavar louças não muda o mundo. Porém, mal conseguimos manter a atenção livre e disponível por 15 minutos para lavar louças. Imagine então o que acontece ao longo do dia. 

O que acontece é que sua atenção é consumida por ilusões, devaneios e fantasias. E qual a consequência disso tudo? A  consequência é gastar mais energia para fazer uma tarefa do que o necessário. Logo, é fácil entender porque as pessoas não conseguem guardar energia para o seu próprio desenvolvimento. Acabam por gastar mais do que possuem. Assim, estão fechando a conta corrente no negativo ao fim do dia.

A atenção direciona sua energia e essa é finita. Você precisa compreender isso para aprender a valorizar o que lhe é mais precioso. Somente assim poderá parar esse processo de saque ao seu bem mais valioso. De outra maneira, é sobre isso o que Gurdjieff chama de “aprender a roubar da vida”. 

No entanto, acredito ser mais correto dizer  parar de gastar seu mais valioso bem com bobagens. Não é necessário roubar da vida. Ao contrário, a vida lhe ludibria e você entrega tudo a preço de banana. Pior ainda, acredita que ao fazer isso está se sentindo ocupado, no controle, produzindo e vivendo. Se você observar, mesmo que por 10 minutos, notará o tanto de energia que direcionamos para nossas fantasias, ilusões e paranóias.

Há ainda um outro fator mais prejudicial: essa atitude impede de perceber as impressões mais sutis. Dessa forma, o alimento mais refinado não é absorvido. Sim, as impressões são alimentos. Lembra disso? E a falta da digestão das impressões é a grande causa da indigestão de pensamentos.

Portanto, gastamos mais do que temos. Além disso,  perdemos a oportunidade de absorver as impressões mais sutis que servem de alimento aos centros emocional e intelectual superior. 

Jean Vaysse diz em seu livro sobre a condição de nossa atenção:

“Na verdade, existem três faculdades fundamentais que se encontram sob vários aspectos em todas as formas de vida individual, onde, em conjunto, permitem uma individualidade relativamente autônoma, e onde sua qualidade é um indicador do nível de vida, do estado de  presença e o grau de ser. Esta qualidade, variando de acordo com o nível, caracteriza cada estado de presença e permite assim ser reconhecido e colocado.

Essas três faculdades, no caso de uma pessoa, são “atenção”, “consciência” e “vontade”.  Embora o homem geralmente os atribua a si mesmo em uma forma altamente desenvolvida, eles só existem espontaneamente nele em suas formas inferiores, que constituem seu modo de vida comum.  

Ele só conhece suas formas mais desenvolvidas acidentalmente por meio de flashes ou quando, como resultado de um longo trabalho sobre si mesmo, ele é capaz de realizar o estado de estar presente para si mesmo.  

Para uma pessoa cujos estados de presença estão em constante mudança e não têm a permanência que ele lhes atribui, as flutuações na qualidade de uma ou outra dessas três faculdades fundamentais são importantes porque isso lhe torna possível, a cada momento,  para saber o nível em que sua vida está fluindo.”

Assim, tudo começa em aprender a perceber a atenção como um direcionador de energia. O uso da atenção consciente cria o fortalecimento de sua “musculatura” e nos permite utilizar adequadamente a energia que dispomos para crescer além da mera atitude de simplesmente sobreviver.

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