Nossa psique necessita de raízes. Essas raízes criam conexões e linguagem de nosso mundo interior com o mundo exterior. Assim, os rituais criados pela nossa cultura humana nos ajudam a dar significado aos momentos e passagenspassagems de nossa vida. A celebração de um ano novo é um excelente ritual de passagem. Muito além de pular ondas ou comer lentilhas.
Mas o que é o Ano Novo?
Para começar, nem sempre o ano terminava em 31 de janeiro. Nem havia um padrão internacional de dias.O atual calendário que adotamos foi criado pelo Papa Gregório em 1582. Hoje tornou-se o calendário internacional, pelo menos do ponto de vista comercial. Para entender mais sobre isso você pode ver aqui sobre o calendário gregoriano. Além disso, muitas culturas e religiões adotam outros calendários para celebrar a virada do ano. O calendário lunar é usado no islamismo e o mixto entre lunar e solar são utilizados no judaísmo e chinês. Assim, os períodos passam a ser determinados pela lua e não pelas voltas da Terra ao Sol. Então, o que mais importa não é o evento cosmológico, e sim, o significado que damos a esse evento.
A passagem de Ano Novo em nossa cultura
A virada do ano em nossa cultura não está ligada a nenhum evento religioso ou cultural mais antigo. Não se coincide com o solstício ou equinócio. Também não há um símbolo ou evento religioso, seja judaico ou cristão. Logo, tornou-se uma festa puramente pagã. No entanto, devemos e podemos usar esse momento para fazer duas coisas importantes: rever o que fizemos ao longo do ano e definir as novas metas.
A vantagem de ser uma festa pagã, sem compromissos religiosos, é que a revisão de nossas ações ao longo do ano e definições de novos compromissos tornam-se simplesmente um compromisso pessoal. Isso é ótimo, porém, mais desafiador. Deixe explicar o motivo: O desafio fica maior porque temos mais facilidade em nos comprometermos com outras pessoas do que nos comprometermos conosco. É mais fácil um religioso se comprometer com sua religião que para com ele. É por isso que Gurdjieff dizia que antes de alguém aprender a comprometer consigo deve aprender a se comprometer com um mestre.
Você tem algum ritual de passagem?
A virada do ano, como ritual de passagem, vai além de marcar o tempo. Quando declaramos que aquele ano ou período acabou estamos deixando algo para trás. Não importa se este algo é bom ou ruim, mas, o que aconteceu ficou, acabou. Isso abre o espaço para que algo novo aconteça. De uma certa forma, temos em nós uma parte do ego que gosta de metas, de objetivos.
Somos descendentes de seres que aprenderam a observar os ciclos da natureza para poder sobreviver. Assim, aprenderam a hora de plantar, de colher, de caçar determinado animal, de migrar para regiões mais quentes ou abundantes. Dessa forma, também aprendemos a fazer determinadas tarefas e a concluí-las. Então, o ser humano é um animal que gosta do hábito de ter uma meta com um começo e um fim. Também de outra maneira, nascemos dentro de um “prazo” de nove meses e temos nossos ciclos de crescimento e desenvolvimento.
Suas rotinas são seus aliados e inimigos
Entretanto, nossas rotinas humanas e a atual desconexão com os ciclos naturais tornaram as festas de fim de ano época de beber e comer somente. Acima de tudo, como se vivêssemos um continuum de tempo onde vemos os ciclos e respondemos como máquinas. Seja como for, perdemos a capacidade de dar significado aos eventos. Nesse sentido, é Natal: compre presentes, come e bebe; é Ano Novo: faça festa, come e bebe. Veja, não há nada de errado em celebrar. Todavia, devemos celebrar lembrando o que estamos fazendo e porque se está fazendo. Em outras palavras, passa o ano, mas, não se passa a rotina e não se transforma o que somos. Ou seja, continuamos os mesmos, desejosos por mudanças constantemente engolidas nas primeiras semanas do ano.
Se algo você deve fazer – algum trabalho ou tarefa – você deve planejar com antecedência, você nunca pode fazer na hora certa, mas se fizer um plano exato antes de fazer, então é como se tivesse um objetivo e tudo se preparasse para isso.
Gurdjieff
Transforme o velho em novo, no ano novo
Em contrapartida, o que se busca no desenvolvimento interior é exatamente transformar o que é ativo (nosso ego mecânico) em algo passivo para que nossa essência (não mecânica) deixe de ser passiva para ativa. Por outro lado, não há como chegar a este resultado sem a participação do que somos hoje. Você não pode ser algo diferente no futuro só pelo desejo. São suas ações no agora que te trasnformarão, pouco a pouco, no que você deseja ser no futuro. Afinal, será com seu compromisso e dedicação que obterá resultados. Assim, estes resultados vão cristalizando e criando uma nova energia que, aos poucos, se contrapõe com que precisa ser transformado.
Como diz um amigo meu, é exatamente de onde se espera que não virá nada mesmo. Nada acontece se você não tornar-se sua própria esperança. Sua própria ação em direção ao quedo que procura.
Faça sua reflexão de passagem de ano novo
Portanto, te faço uma pergunta para esse início de ano. Você já fez sua reflexão sobre o que buscou alcançar no ano que passou? Quais resultados conseguiu alcançar? Consegue rever onde falhou? Não há intenção de transformar essa reflexão em julgamento. No entanto, este é um momento importante para começar a entender que nenhuma força do universo irá transformar você sem sua participação. Tal qual seja esta força criada por Deus ou pelos homens. De nada adianta pular ondinhas, embrulhar sementes em dinheiro ou usar amarelo. Agora, se você gosta de fazer isso, nada de errado. São símbolos e rituais que com significado nos ajudam a dar determinação aos nossos desejos.
Analogamente, a reflexão acima não se limita ao seu plano de desenvolvimento interior. Tais perguntas também devem ser feitas para o seu plano material. No Quarto Caminho não há distinção entre o plano físico e material do plano espiritual. Afinal, seu plano material é um reflexo do seu nível, do estado do seu Ser. Porém, isso não tem nada a ver com ganhar dinheiro para tornar-se rico. Tem a ver com REALIZAÇÃO. A pessoa que se compromete em realizar cria energia e confiança em si. Conforme já discuti em outros textos do blog, não há como crescer espiritualmente se não nos tornamos responsáveis pela nossa vida, o que começa pelo corpo material.
Ja tem seu planejamento para o ano que começou?
Finalmente, faça também sua reflexão sobre o que precisa manter e o que precisa mudar em seus compromissos. Como planejar suas atividades físicas? O quê irá estudar ? Quais práticas introspectivas/emocionais irá fazer (meditação, oração, contemplação)? Conforme dito, o crescimento interior também acontece pelo engajamento do ego. Ao passo que colocamos em nossa agenda o espaço e dedicação a nós mesmos. Desta forma, você terá um ano repleto de realizações. Não por ter usado branco, mas porque comprometeu-se em realizar os exercícios e aprendizagens necessários. Estes que lhe dão o suporte para o seu crescimento interior.inteiror. Dessa forma, também aprenderá um pouco mais o árduoarduo caminho de tornar-se mestre de si.
Para aqueles que se comprometerem consigo mesmo, um feliz ano novo!
1 comentário em “Ano novo feliz, mas, isso se aplica a você?”