Tudo se torna mecânico. Mesmo as nossas ações mais iluminadas tornam-se hábitos após serem apreendidas e compreendidas. Assim, o nosso mundo psicológico está sugeito as mesmas leis do universo. Logo, todo movimento busca o ponto de menor energia. Neste caso, nossas ações mecânicas na vida são os modos de menor gasto de energia.
Salve sua energia
Muito se fala no Quarto Caminho sobre a necessidade de atenção, presença e parar de desperdiçar energia. Somente assim poderá empregar a energia que lhe sobra a seu favor. A questão da energia é essencial. Agimos de forma mecânica além de um simples comodismo psicológico. É praticamente uma lei universal que podemos observar em todos os processos, sejam macros e micros. Tudo tem uma determinada quantidade de energia e uma hora essa energia se esvai. Logo, tudo acaba, pelo menos como se apresenta. O Sol tem uma quantidade de energia finita. Um dia o Sol vai se tornar uma estrela gigante vermelha consumindo todo o sistema planetário. No fim de seu ciclo será somente um monte de rochas de ferro. Com o fim do sol também irá o sistema solar e seus planetas.
Agora, imagine que não existam as forças de gravidade e as forças mecânicas clássicas que atuam sobre os corpos celestes. Então, para manter todo esse sistema de galáxias, estrelas e planetas coesos seria necessário gastar uma enorme parte de energia nisso. Desta forma, o movimento mecânico tráz estabilidade e economia de energia para que outros processos venham ocorrer. No caso da Terra, faz necessário a mesma estar estabilizada numa certa faixa de distância do Sol. Do contrário, não consegue manter a atmosfera e nem a água em estado líquido. Dois fatores determinantes para a produção da vida orgânica.
Então, nem todo movimentos mecânico é ruim.
Ao contrário, temos muito mais conteúdos mecânico positivos do que negativos. Isto é verdade tanto no mundo físico e corpóreo quanto no mundo psicológico. Graças ao fato de tudo se tornar mecânico, não precisamos pensar para respirar, fazer o coração bater, caminhar, digerir nossos alimentos ou manter todas as complexas funções biológicas, químicas e hormonais. O corpo humano, ou como dizia Gurdjieff, o nosso corpo planetário, é uma excelente máquina super eficiente. É tão eficiente que a obesidade tornou-se um problema de saúde global devido ao excesso de alimentos e aumento do sedentarismo.
O corpo e a mente aprendem de forma rápida. Exemplos como aprender a falar, a escrever e a andar de biscicleta ajudam a ilustrar como nosso corpo funciona. Temos um momento de maior aprendizagem na infância, porém, o tempo todo estamos aprendendo e corrigindo. Por outro lado, desaprender algo parece algo bem mais difícil. Podemos até esquecer algo, porém, ainda temos o aprendizado conosco. Tanto que se recebemos um impulso adequado este conhecimento emerge de forma surpreendente.
Agir pela mecânica ou ser mecânico?
Desta forma, a necessidade de economia de energia leva todas nossas ações a tornarem mecânicas. No entanto, as nossas ações não necessitam serem compreendidas para serem assimiladas. Não há necessidade de compreender algo para fazer. Uma pessoa pode até ser um bom profissional porque aprendeu um arcabolso de imitações e técnicas. Então pode até executar sua profissão magistralmente, como uma excelente máquina. Tanto que hoje máquinas estão substituindo muito desses excelentes profissionais. As pessoas tendem a acreditar principalmente que os processos do complexo mental-emocional não são mecânicos. É necessário um certo esforço e atenção para perceber como tudo vive em um movimento mecânico.
O trabalho interior não é deixar de ser mecânico. É aprender qual parte de nossas ações mecânicas são úteis, quais necessitam de refino e quais precisam ser eliminadas nos três centros de inteligência. No entanto, devemos aprender a participar de nosso processo. Devemos aprender a viver de verdade dentro de nós mesmos. Ninguém ou nada vai te transformar a não ser você mesmo.
O joio e o trigo, ambos podem ser mecânicos
Então, o verdadeiro trabalho interior começa quando separamos o joio do trigo. Dessa forma, é importante aprender a distinguir o que é o joio e o que é o trigo. Essa passagem bíblica é bem conhecida. É uma das parábolas que Jesus ensinou a seus discipulos.
Jesus lhes propôs outra parábola: O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Mas enquanto os homens dormiam, veio um inimigo dele, semeou joio no meio do trigo e retirou-se. Porém quando a erva cresceu e deu fruto, então apareceu também o joio. Chegando os servos do dono do campo, disseram-lhe: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? pois donde vem o joio? Respondeu-lhes: Homem inimigo é quem fez isso. Os servos continuaram: Queres, então, que vamos arrancá-lo? Não, respondeu ele, para que não suceda que, tirando o joio, arranqueis juntamente com ele também o trigo. Deixai crescer ambos juntos até a ceifa; e no tempo da ceifa direi aos ceifeiros: Ajuntai primeiro o joio e atai-o em feixes para o queimar, mas recolhei o trigo no meu celeiro.
Mateus 13:24-30
Você entende quem é o “dono do campo”? Por quê da ordem do dono do campo de não colher o joio antes do tempo? Quem são os servos do senhor? E o inimigo que contaminou o campo como o joio?
O campo é o seu corpo planetário, ou seja, você e seu corpo físico. Ele recebeu a boa semente, pois nasce da essência divina. Foi dessa essencia que esse corpo germinou e cresceu. O inimigo que semeia o joio é o que recebemos de cargas e influências dos erros e julgamentos da cultura, de nossa sociedade. É tudo aquilo que não tem origem na essência e por isso não tem vida. Os servos do senhor são os “eus” que possuimos dispostos ao trabalho interior. São os nossos servos, a nossa parcela interior que busca a transformação através do trabalho de crescimento pessoal.
Quem é quem nesse meu campo?
O joio é uma planta dura e ereta de raízes fortes, enquanto o trigo é maleável, soltando-se facilmente do solo. As sementes do joio nascem dentro de cápsulas. Essas cápsulas se abrem e espalham a semente. Ao colher o joio maduro nada achamos lá. São “sacos vazios” (angioespermas). Além disso, existe risco de intoxicação pelo joio para quem consome a planta. Entretanto, quando expostas a alta temperatura, o joio perde suas toxinas. Assim, se um grão de joio se misturar ao trigo, ele não fará mal, uma vez que o trigo será assado ou cozido. Na fase jovem as duas plantas são bastante semelhantes, a diferença se torna mais evidente quando alcançam a fase adulta.
O joio não tem valor para fazer o “pão da vida”, mas, sim o trigo! O joio rouba a energia do solo e compete com os nutrientes, reduzindo a produtividade do trigo. Então, por quê não arrancar logo a praga do terreno? Isso não seria a ação correta dos “servos”, ou seja, dos “eus” dispostos ao crescimento? E é aí que entendemos a necessidade de termos um “Mestre” nos guiando. Esse Mestre, o senhor dos campos, é o ensinamento ou infuência esotérica. Pode vir como entendimento passado de um mestre a um aluno ou de um mestre a um livro sendo interpretado por um professor. Neste caso, Jesus instrui sabiamente que não há nada que possamos fazer no início de nossa jornada espiritual a não ser observar a nossa mecânicidade. Assim, não interessa inicialmente se o que observamos vem da essência ou não.
Observe tudo que lhe é mecânico
Devemos observar nossa mecânica até aprender distiguir o que é o joio e o que é o trigo. Logo, esse aprendizado acontece quando deixamos que o joio cresça com o trigo até o ponto em que suas diferenças se tornem distintas. A observação, pela atenção sem julgamento, irá automaticamente trazer o entendimento do que é joio e o que é trigo em nossas ações e comportamentos na vida. Vamos ao exemplo: você sempre age de uma determinada maneira com uma pessoa.
É necessário observar seus pensamentos mecânicos, sentimentos mecânicos, posturas e sensações mecânicas várias e várias e várias vezes em um determinado momento ou situação. Isso irá te informar o que é joio e o que é trigo em seu comportamento mecânico. O entendimento, a compreensão simplesmente vem. Então, somente quando entender o que deve preservar e o que deve ser ceifado e queimado é que suas forças transformadoras devem realizar alguma mudança. Pode ser que deva simplesmente parar de exigir do outro certas coisas. Ou quem sabe parar de projetar suas frustrações no outro. Talvez tenha mesmo que se afastar dessa pessoa que é uma moita de joio sempre a te contaminar. Porém, poderá descobrir que você vem semeando joio no campo do outro.
Entenda a diferença antes de agir
Então, observe sua mecânica com carinho e atenção, sem julgamento. Isso é necessário até que se entenda a diferença dos bons hábitos que carrega e dos hábitos que deverá empreitar em transformar. Isso é o verdadeiro trabalho de crescimento contínuo e perene. Aproveito para desejar um excelente Natal a todos vocês amigas e amigos de jornada! Que o menino Jesus fortaleça a esperança de nossos processos de crescimento.