Vontade, emoção e intelecto na Lei de Sete.
Vamos continuar a investigar como funciona a Lei de Sete no Eneagrama, e, para isso, vamos estudar alguns processos. Se você não viu a primeira parte veja aqui. Para tanto, vamos definir processo
” um processo é uma relação de transformação envolvendo três partes”.
Por exemplo, eu quero ir ao aeroporto. Então existe um “eu” e um destino. Entre estes dois falta algo que me leve até o destino. Então, se chamo um táxi, este é o terceiro elemento da relação entre minha necessidade e o ponto de destino.
As relações das partes
Nesta relação entre eu, meu destino e o meio que me leva até o meu destino, todos são afetados de alguma maneira. Contudo, as partes são afetadas de maneira e proporcionalidade diferente. Logo, o táxi entra como uma força que ajuda a viabilizar minha necessidade. No entanto, o táxi não participa da minha necessidade. É um apoio que entra no meu processo, realiza sua função e vai para outra função. Isto é verdade pela ótica do meu processo. Porém, pela ótica do motorista do táxi, eu estou viabilizando o processo dele sendo passageiro. O processo do motorista de táxi é levar passageiros de um ponto a outro. E eu como passageiro faço parte do processo do taxista.
Se parar e pensar um pouco, veremos que temos vários processos ocorrendo o tempo todo. Alguns em sintonia e outros em conflitos com nossas vontades. Assim, hora estas forças ajudam e hora atrapalham. Como resultado, se diz que as forças atuantes hora são ativas e hora passivas. Portanto, a polaridade de uma força dependerá também de qual processo estamos observando.
Dessa forma, não temos um Eneagrama e sim vários Eneagramas acontecendo simultaneamente. Alguns em conflito, outros em sincronicidade, outros ainda em harmonia com determinados processos. Também temos Eneagramas dentro de Eneagramas, pois, existem processos de curtíssima duração e outros processos de uma vida inteira. Há ainda aqueles de ciclos de gerações. No entanto, cada um desses Eneagramas está seguindo sua própria Lei de Sete.
A figura usada como primeira imagem deste texto é uma minha tentativa de explicar o texto acima visualmente. Você pode notar vários Eneagramas em múltiplas relações e em diferentes fases.
Lei de Sete e ciclos da humanidade
Por exemplo, se olharmos o Eneagrama do ciclo da humanidade, observamos que estamos nos aproximando de um ponto de choque. Neste ponto, a Lei de Sete exige uma mudança de atitude, de rumo coletivo. Caso contrário, não haverá perpetuação evolutiva.
Ao passo que a exploração excessiva de recursos, associado a explosão demográfica, coloca em risco o progresso da vida humana. Apesar disso, a Terra, como planeta, não corre risco. Nesse sentido, o planeta Terra sobreviverá mais tempo que nós, humanos. Porém, nosso projeto “humano” pode sofrer sérios percausos neste choque com o ponto 6 dentro da Lei de Sete. Igualmente, podemos até ser “eliminados como projeto”, assim como foram eliminados os dinossauros.
Lei de Sete e o ciclo da vida
Podemos ter ainda um Eneagrama de nossas vidas. Desta forma, a figura abaixo mostra como evoluímos em um ciclo de vida.
Neste Eneagrama, o ponto 3, na Lei de Sete, é o momento da primeira cristalização, ou cristalização do ego. É um ponto importante que sofre influência dos eventos antecessores dos pontos 9, 1 e 2. Ao passo que estes traumas e virtudes, recebidas nas fases anteriores, irão cristalizar na personalidade do indivíduo. Assim, este indivíduo irá construir os próximos ciclos, tendo como base, o caráter que lhe foi encrustado até ali.
Continuando o desdobramento da Lei de Sete, no ponto 4 e 5, este indivíduo torna-se um ser social. Assim, também ajudará a carregar o peso da sociedade. Ao mesmo tempo, constrói a vida e gera retorno a comunidade.
Obedecendo o desdobramento da Lei de Sete, ao aproximar do ponto 6, chegará ao ponto do risco. Dessa forma, há o risco de que o adulto faça de sua rotina o seu próprio fim. Então, há uma cristalização mais forte sobre o caráter construído no ponto 3. No entanto, o esperado é que a pessoa reveja esta cristalização do passado, pondere suas escolhas, descubra o que realmente lhe pertence e o que lhe foi imposto pela vida, por outros, pela herança familiar e cultural.
Frequentemente, a passagem por este ponto 6 está associado a uma crise. É a famosa crise da meia idade. Todavia, se a descristalização ocorre muito cedo na vida do indivíduo, poderá faltar-lhe conteúdo para realizar a obra interior. Dessa forma, corre o risco de importar conteúdo de outros. Como resultado, a pessoa torna-se “religiosa” no sentido dogmática. Assim, torna-se um militante de bandeiras sociais ou crenças libertárias, trocando a crença em seu Ser outros crença exterior.
Nesse sentido, vale fazer um parentese de que um professor, mestre, terapeuta, o que for, somente consegue ajudar uma pessoa em suas evolução até este ponto de choque. Por fim, caberá ao indivíduo entender o processo da Lei de Sete e aceitar seu destino voluntariamente. Por isto, este ponto é como uma bifurcação. Progredir deste ponto em diante, é entrar em uma jornada cada vez mais individual.
Lei de Sete e a construção da alma
Se este indivíduo conseguiu passar pelo ponto 6, começará a construir sua alma. Passará a engajar verdadeiramente em um trabalho de desenvolvimento pessoal. Com o tempo sentirá a necessidade de compartilhar o que conquistou com outras pessoas. Passará a ajudar outros e assim também a trabalhar pelo Trabalho.
Desta forma, tendo realizado toda sua trajetória até o ponto 8, receberá a velhice com gratidão, buscando o descansar. Assim, estará em harmonia com seu passado. Entenderá que vive ciclos, sendo a morte uma continuação da vida. Desta maneira, torna-se-á um novo embrião, para uma nova jornada.
Lei de Sete e a rotina diária
Podemos também avaliar o Eneagrama pela rotina diária. Assim, saímos do ponto 9 onde estamos imersos em sono para despertar no ponto 1. Aqui somos impulsionados a cumprir compromissos e responsabilidades. Também no ponto 1, fazemos a primeira refeição diária. No ponto 2 começamos o trabalho, ainda tentando ver o que precisa ser realizado no dia.
No ponto 3, assumimos os compromissos diários como nosso. É o choque do “eu faço”. No ponto 4, aproximando do fim da manhã, já sentimos o corpo perdendo energia. Dessa maneira, a pausa para o almoço pode ser tranquila se o que tinha de ser feito no dia foi realizado. Caso contrário, pode sentir ainda a pressão do fazer vindo do ponto 3.
Ao passo que no ponto 5 retomamos o trabalho, mas, de uma forma mais lenta, impactado pela digestão. Posteriormente, ao chegar no meio da tarde, a passagem pelo ponto 6 representa o risco. Um imprevisto de última hora pode surgir e por em risco os planos da noite. Igualmente, aquela entrega que você estava trabalhando enfrenta algum problema e pode impedir de você sair no horário. Porém uma ajuda que até parece ter sido mágica aparece e tudo termina bem.
Passado o risco, o ponto 7 é o retornar para casa e desligar do trabalho. Buscar as crianças ou encontrar os amigos, ler livros ou ir para ginástica. Também é o momento da terceira refeição. Por último, o ponto 8 é o encerramento do dia. O que nunca é simplesmente ir dormir. Normalmente uma série de tarefas ainda precisam ser realizadas, somado a um momento de cansaço. Quem tem filhos pequenos sabe bem disso. Afinal, até mesmo deitar e dormir exige um esforço extra para fazer uma entrega ao sono, ou seja, retorno ao ponto 9.
Eneagramas, sistemas de sistemas
Em conclusão, temos vários sistemas acontecendo simultaneamente. Nossa capacidade de controle sobre tudo isso é mínimo. Praticamente impossível de gerenciar. Tudo praticamente acontece como um grande milagre. No entanto, o “praticamente” aqui é importante, pois, cada indivíduo atua como um fio em uma corda. Sozinho este fio pouco faz. Junto, muitos fios fazem cordas fortes e resistentes.
Então, temos responsabilidades pelas coisas boas e ruins de nossa vida humana neste planeta. Se agimos como máquinas sonâmbulas, automáticas, reagindo a programação exterior, podemos doar nossas forças para causas que discordamos. Mesmo que nossa escolhas sejam pequenas, ainda assim são significativas. São o nosso maior poder.
Vamos continuar a explorar a Lei de Sete em mais uma parte na próxima semana.
Continue lendo
- Mecanismos de Defesa do Ego: Navegando entre a Proteção e a Ilusão
- Formação do Ego e a Alma Primitiva
- A Primitividade da Alma
- Parte 2: A Digestão das Impressões e a Terapia de Vidas Passadas
- Os Mistérios de Nossa Alma
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