Introdução
Antes de falar do corpo, preciso dizer que o 4º Caminho se mostra sempre novo todos os dias. Frequento grupos há exatamente 10 anos. No entanto, me sinto como uma iniciante nesse Trabalho. Não apenas por ser um Caminho difícil de trilhar. Porém , por requerer algo mais. Um querer, uma vontade, atributos que não se mostram inatos para mim, e que sempre me escapam. Vez por outra, me vejo num pântano de devaneios, condicionamentos e reatividade que se impõem, fogem do controle voluntário.
Por já poder acessar essa realidade em mim, à qual a maioria de nós está estabelecida, e, me dou conta de que não adianta me desviar desta verdade. Logo, todos os dias reconheço uma necessidade de reafirmar a proposta deste Trabalho interior.
Estou longe de achar que vou alcançar um ideal no 4º caminho. No entanto, tenho uma sensação de que há uma urgência de abrir espaço para experimentar algo que não foi ensinado em minha criação. Tampouco nas escolas que frequentei até então. Esta impressão, de que algo me falta, mostra a precariedade e a incompletude de minha natureza. Assim, partir daí, tenho buscado como premissa aguçar a atenção. Permitir que minha percepção se volte a tudo o que estou fazendo, sentindo, pensando. Assim como pelo maior número de vezes por dia, por mais tempo que eu conseguir permanecer.
O que venho compartilhar aqui
Compartilho aqui a reflexão sobre a importância da estrutura humana e suas funções para o processo de observação e (re)conhecimento de si. De como a percepção do corpo pode auxiliar no Trabalho do 4º Caminho.
A maioria de nós se refere ao corpo na 3ª pessoa. Porém, o corpo não está separado do Eu. Ele abriga todos os fenômenos e a multiplicidade que representamos. O corpo, como estrutura e sistema, representante do nosso centro motor, é uma das partes que integram o Ser. Assim também, soma ao centro mental e ao centro emocional.
Este Ser, contudo, está recolhido por trás de um estado fragmentado e necessita de integração.
Quem está no 4º Caminho não nega e importância da atenção sobre si como recurso de integração dos 3 centros. Desta forma, busca uma possível evolução. Sabe que a estrutura que possuímos tem todas as conexões neurais, hormônios, biomecânica e funcionamento autônomo propícios para as nossas experiências, aprendizados. Para a interação do ser humano consigo, com o os outros e com o meio que habita. Mas é preciso reconhecer e aprender a aplicar esses recursos.
Vou abordar o “corpo” aqui. No entanto, não podemos excluir os outros dois centros, o mental – intelectual e o emocional. Visto que uma das intenções do 4º Caminho, é tornar o diálogo entre os 3 centros cada vez mais coerente nas ações cotidianas. Assim é, até onde pude compreender,
A partir dessa integração, a relação do ser humano com os outros seres, com o ambiente, o planeta e o cosmos pode tomar novas dimensões.
É a realidade que se encontra atrás da palavra estrutura – a observação dela, o entendimento dela, a compreensão de que ela pode ser mudada e o aprendizado de como a necessária mudança pode ser induzida.
Pois não é a estrutura sozinha, mas a integração da estrutura que é o segredo. Procuramos criar um todo que é maior que a soma de suas partes. (…) para favorecer o surgimento de um homem que possa desfrutar de um uso humano de seu ser humano.
Ida Rof
Nutrição
Vamos partir do princípio de que esta estrutura corporal para permanecer pulsante e viva precisa se nutrir.
Uma alimentação adequada é fundamental. Ainda mais para que essa máquina biológica tenha os seus tecidos bem construídos e com as trocas metabólicas necessárias. Para uma vida com saúde. Os animais selvagens sabem muito bem como se alimentar. Estes sabem o que devem e o que não devem comer. No entanto, nós humanos nos esquecemos disso e fomos nos distanciando da naturalidade do alimentar-se. Sucumbindo aos hábitos culturais e sociais, nem sempre propícios a gerar a energia que precisamos para viver, além das condições básicas.
Junto com a alimentação, o sono também tem um papel fundamental. Assim, nosso estilo de vida também tem interferido na função da glândula pineal. Esta capta a luminosidade do entorno, pelos olhos, para secretar melatonina suficiente, para que o sono seja reparador.
Outra forma de nutrição é a respiração.
Existe um fator que no ser humano traz nesta função uma complexidade bem especial. Esta é a única função vital de nosso cérebro arcaico que possui uma porção voluntária. Podemos prender a respiração até um certo ponto, mas sua porção automática sempre será soberana.
Esta função também tem sido afetada por hábitos posturais nocivos. Bem como por horas sentados e pouco tempo ao ar livre caminhando rapidamente. Pois foi para o qual nossa estrutura vertical foi programada. Porém, existem métodos terapêuticos e pedagógicos, criados por nós, que que interferem na função automática essencial da respiração. No entanto, precisam ser manejadas com muita responsabilidade.
Existe um outro recurso de nutrição que não se menciona: é vital para a vida humana colher impressões. Nossos órgãos dos sentidos possuem esta função importantíssima para a vida. Mas não só eles. Temos receptores de toda ordem, que nos trazem informações de postura e posição (propriocepção), de conforto e quietude (benecepção) e de desconforto e inquietude (nocicepção).
Essas funções apresentam um aspecto mecânico e funcionam no conhecido “piloto automático”. No entanto, todas elas apresentam componentes nos quais o centro mental e emocional atuam e interferem a todo tempo.
Não é possível separar nenhuma dessas formas de nutrição de seus aspectos mentais e emocionais.
Sendo este texto voltado para o corpo, como veículo e receptáculo do trabalho, vamos pensar que existem camadas. Estas camadas estão além do aspecto automático. Logo, precisamos levar em conta e começar a observar. A observação sem interferência de julgamentos ou pressupostos daquilo que acontece com nosso corpo é a primeira ferramenta que me foi apresentada pelo 4º Caminho.
Assim, pasee a levar em conta a importância de se “colher impressões”, com todos os recursos físicos que nossa estrutura corporal possui. Desta forma, começar a criar uma substância sutil, altamente refinada que é a atenção.
Podemos pensar num interesse em conhecer essa máquina biológica. Podemos fazer contato com as sensações, a emissão de sinais, não só de componentes físicos. Ao mesmo tempo, adicionar o quanto os fatores mentais e emocionais interferem em nossos gestos. Nas ações e respiração. Logo se cria referências importantes para uma orientação refinada a respeito do que acontece dentro e fora de nós. Consequentemente, agirmos a partir daí.
É muito importante, antes de tudo, reconhecermos a automaticidade de nossos movimentos, gestos, reações emocionais e pensamentos pré-concebidos. Isto é, ficarmos diante do fato de sermos mecânicos.
Podemos viver a vida muito bem com o “piloto automático” incrível que possuímos. Mas quando conhecemos o 4º Caminho, vamos nos dando conta de que há algo, há muito mais a se conhecer. Recursos a utilizar nessa máquina biológica que possuímos. E é neste momento em que apenas a decisão de trilhar essa viagem de autoconhecimento poderá nos trazer o que intuímos existir. Assim, não há nada que nos impeça de trilhar este Caminho que não seja um interesse e um apreço por este processo refinado de conhecimento de si. Que pode evoluir de acordo com o que temos de energia disponível para isso.
Nosso campo mental e emocional deverão caminhar junto com o corpo. Desta forma, para o desvelar de nosso Ser. Embora sejam fatores de atrito constante, para seguirmos esse caminho de expansão da máquina, para uma humanidade para além da máquina.
Mas como começar?
Sendo eu, como já disse uma aprendiz. Alguém que pouco sabe. Que sente uma aspiração. Um tipo de nostalgia do Ser que serve como um guia ou uma força motriz para este Trabalho. Dessa forma, só posso trazer neste texto algo que possa ser comprovado pela construção de minha própria experiência. DEsta forma, pelo fato de ser uma profissional “do corpo”, poderíamos até pensar que seria um passo a favor do Trabalho. No entanto, posso garantir que é o contrário. Conhecer e aceitar o chamado de um trabalho interior, como o 4º Caminho de Gurdjieff, me proporcionou uma possibilidade de observar. Bem como de sentir meu corpo e os corpos de alunos e clientes de uma perspectiva que jamais me foi oferecida por qualquer outra escola.
Todavia, só recentemente fui saber que os dois criadores dos métodos de educação somática, aos quais me dedico a praticar e estudar há quase 30 anos, tiveram influência do Trabalho. Dra Ida Rolf , do método Rolfing® e Moshe Feldenkrais, com sua proposta de integração funcional e consciência pelo movimento. Mas o reconhecimento dessa influência só acontece mesmo quando mergulhamos no Trabalho. Desta forma compreendemos na carne e na prática o que esses dois visionários almejaram para a evolução humana.
Trago aqui algumas referências que podem auxiliar nos primeiros passos para a observação de si que Gurdjieff propõe. Elas são apenas referências. Não guias. Cada um de nós, que escolheu fazer parte de um Grupo de Trabalho, de acordo com seus orientadores, terá muitas referências e propostas a seguir. Seguindo de acordo com as experiências pessoais colhidas de seu cotidiano e dos intercâmbios com o grupo. No fim das contas, apesar de ser essencial termos o suporte de um grupo, o caminho paradoxalmente evolui de acordo com o que individualmente somos capazes de dedicar em energia. Em interesse, apreço, escuta e muita, muita paciência com o processo.
Nossa Estrutura, o Apoio e o Espaço
Chegamos a uma estrutura que, diferente de todos os seres viventes que se locomovem, se pôs na posição vertical.
A verticalidade nos liberou os braços, pôs o nosso peito à mostra; nos proporcionou uma visão horizontal. Nos trouxe liberdade, mas também muita complexidade. Nossos cérebros se desenvolveram em camadas e nos tornamos seres “conscientes”. (1)
Antes de tudo, precisamos nos lembrar de uma força à qual nossa estrutura obedece: a gravidade. Nosso corpo foi adaptado e desenvolvido evolutivamente sob essa lei. Assim, seus segmentos precisam estar em constante comunicação para que a verticalidade se apresente de forma fluida e livre. Desta forma com o mínimo de desgaste e tensão possível. Permitindo também que nossos gestos, locomoção e respiração sejam funcionais e econômicos.
A verticalidade também nos trouxe complexidade. Nosso desenvolvimento neuro -motor, desde que nascemos até atingirmos maturidade, está vinculado às nossas experiências. Somam ao desenvolvimento de nossa autoimagem, ao contexto social e cultural ao que fomos submetidos. Essas experiências criam nossa identidade, não somente em termos psíquicos. Todavia, em nossa maneira de responder mental e emocionalmente a tudo o que acontece dentro e fora de nós. Logo, elas também moldam nossa maneira de nos movermos.
Existe um processo automático na relação com a gravidade, que garante nossa locomoção sem que nos preocupemos com ela. No entanto, esta relação depende também de como percebemos a nós mesmos e o mundo.
Desta percepção nasce também uma coordenação, uma maneira de nos movermos que também possui uma identidade.
Tudo isso vai construindo ações condicionadas, onde nos movemos, pensamos, reagimos e nos comunicamos de forma previsível e automática. Estas ações condicionadas vão “amortecendo” e reduzindo nosso potencial de ação voluntária. Bem como acabamos criando tensões crônicas, que vão gradativamente diminuindo nosso espectro de movimento, percepção e expressão gestual. Do mesmo modo, reduzindo nosso nível de energia.
Essas tensões também nos afastam de um “sentir” mais refinado. Aquele a partir do qual temos referências para modificarmos aquilo que é necessário, dentro e fora de nós. Além disso, para nos adaptarmos ao contexto que se apresenta e que muda constantemente, dentro e fora de nós.
Quando essa mecanicidade se estabelece, sem percebermos, enrijecemos nossos músculos e vamos nos afastamos da resiliência, adaptabilidade e criatividade.
Isso afeta também o pensar. Da mesma forma, quanto mais condicionados são os pensamentos, mais tensões carregamos. Definitivamente, nos tornamos seres fragmentados, que pensam, agem e sentem de forma incongruente.
É preciso, como premissa, percebermos que nos falta integração.
O Trabalho do 4º Caminho necessita do corpo como um receptáculo para as experiências. Igualmente que esse corpo esteja sensível ao que acontece dentro e fora simultaneamente.
Em outras palavras, Observar nossos próprios movimentos, nossa postura, o tom de nossa voz e a respiração pode nos trazer luz para as tensões e bloqueios. Assim, partir dessa percepção, temos também o trabalho sobre os outros centros, sempre na busca de um diálogo cada vez mais refinado entre eles.
E como podemos, de forma sistemática. Como criar um ambiente interno e externo para que essa observação nos traga referências suficientes para fazermos o que for preciso para recuperarmos nossa integração?
Da perspectiva do corpo existem 3 referências a partir das quais poderemos nutrir e desenvolver o Ser integrado. Não só pela respiração e nutrição e sono, condições básicas da vida como já mencionado, mas também pelas impressões que somos capazes de colher.
1 Grounding , a percepção do apoio:
O Grounding está relacionado diretamente com nossa capacidade de perceber a força da gravidade, passando sobre nossa estrutura. Ao mesmo tempo, recebendo energia que a Terra como empuxo, criando vetores que nos garantem um diálogo constante com esse contexto de natureza imutável. Disso depende nossa verticalidade.
À medida que somos capazes de perceber que esta força é definitiva, e não resistimos a ela, recebemos de volta uma energia. Nesse sentido, uma liberdade que nos ajuda a reconhecer onde e como estamos.
É importante que este empuxo seja percebido.
Muitas de nossas tensões surgem dessa relação com a gravidade. Se nos agarramos ao chão ou nos mantemos suspensos perdemos espaços internos importantes e geramos um grande desgaste de energia vital .
Cada pequeno movimento que fazemos gera um deslocamento de ponto de apoio. À medida que desenvolvemos atenção a esta força de atração da Terra, podemos compreender nossa fragilidade. Porque muitas vezes nos agarramos também aos nossos pressupostos, crenças e emoções reativas.
Uma relação amistosa e dialógica com a gravidade nos possibilita encontrar suporte dentro de nós mesmos para movimentos livres e seguros.
Podemos nos perguntar:
- sou capaz de me entregar à força da gravidade?
- seria a verticalidade algo penoso para mim?
- o que me impede de chegar ao chão com todo o meu peso e confiar que o chão irá devolver a energia que preciso para ficar de pé?
- o que precisaria modificar dentro de mim para que meus movimentos tenham suporte suficiente do chão para me mover com o mínimo esforço possível?
Dialogando com a gravidade. Abrindo a percepção para ela. Podemos descobrir muitas coisas sobre nós mesmos. Ao passo que o centro mental e o emocional como aliados são imprescindíveis para fazer as associações. Simultaneamente tão necessárias ao processo e descobrir as emoções reativas que estão envolvidas nessa interação com a fora de atração da Terra. E sempre, em primeira instância, investigando sem interferir.
2 Awareness , a percepção do espaço
O chão não é a nossa única possibilidade de apoio perante a gravidade. Nossa percepção periférica dos sentidos também pode nos dar referências de orientação. Os olhos, a pele e os ouvidos são órgãos importantes para fazermos os ajustes. Nesse sentido, adequam a direção e movimentação de nossa estrutura no espaço que nos rodeia. Assim também, de acordo com o que somos capazes de perceber deste entorno.
Nossa cultura é fragmentada. Frequentemente favorece a percepção focal. A ação linear e subjetiva no sentido das crença. De pensamentos encapsulados numa maneira mecânica de funcionamento, nos rouba a percepção global do que se apresenta. Simultâneamente isso também interfere em nossos sentidos. A percepção de nossa integralidade, o deslocamento de nossa estrutura, de acordo com o que se percebe, nos fornece referências para adaptabilidade. Ou seja, para o apoio no espaço contribuindo fisiologicamente para a tridimensionalidade dos movimentos, a partir da liberdade de nossos músculos e articulações.
O pensamento focal, assim como a visão focal e as respostas emocionais reativas, vão gerando tensões. Desta forma reduzem nossa capacidade de percepção espacial, reduzindo também o espectro de nossos movimentos. Assim como num círculo vicioso que acaba roubando potencial e vitalidade por nos impedir gradativamente, de “colher impressões”.
Podemos nos perguntar:
- durante o dia, como tenho usado os 5 sentidos?
- sou capaz de me conectar ao espaço tridimensional que me rodeia enquanto faço minhas atividades cotidianas?
- quanto tempo tenho passado com os olhos focados sobre uma tela?
- E o que isso me conta no fim do dia? Sou capaz de colocar atenção nisso?
- o que acontece com minha respiração quando aguço a percepção de minha pele sob a roupa ou através do toque sutil do ar?
- o que acontece com minha postura quando procuro me atentar aos sons distantes do ambiente onde estou?
- sou capaz de sentir meus pés tocando o chão pela percepção de minha pele? O que acontece quando levo minha atenção a isso?
Ao abrirmos a percepção para o espaço que nos rodeia ativamos funções gravitacionais importantes à nossa verticalidade. Mas não só isso, temos a capacidade de receber informações do entorno e abrir um espaço para reconhecer as impressões que chegam até nós. Essas impressões também trazem informações sobre nossa reatividade e também a respeito de nossa desatenção cotidiana.
3 Presença
Embora lapsos do estado de presença sejam alcançados, após um tempo maior da prática de atenção sobre si, podemos, em primeira mão, pensar em presença. Esta é como a capacidade de estarmos conectados com o entorno, com a gravidade e também atentos ao que sentimos dentro de nós ( felt sense). As sensações internas de quietude e inquietude que nos acompanha desde que nascemos, as mudanças de humor, as respostas automáticas em tudo o que fazemos. Tudo isso pode ser sentido em nossas “entranhas”. Desde uma intuição mais primitiva da situação de perigo e prontidão, necessária para nos movermos adequadamente. Igualmente até aquela sensação mais refinada de microtensões que acontecem dentro de nós. Acima de tudo, quando somos contrariados ou a agitação de uma euforia momentânea.
Estar presente é como estar em casa no próprio corpo. É reconhecer aquilo que é habitual e condicionado em nós, tanto no campo físico quanto no campo mental ou emocional. Logo, tudo é sentido e recebido nesse receptáculo altamente complexo que é nosso corpo.
Podemos aqui fazer as seguintes perguntas:
- sou capaz de realizar uma tarefa cotidiana e ao mesmo tempo e prestar atenção ao fluxo de meus pensamentos e sentimentos?
- sou capaz de reconhecer no meu corpo uma emoção reativa?
- sou capaz de identificar minhas as afirmações e pressupostos em minhas tensões crônicas?
- sou capaz de identificar as pequenas e grandes tensões que me acompanham no dia a dia?
Reflexão
Num texto que traga o 4º Caminho como perspectiva jamais poderia elaborar alguma conclusão. Por isso escrevo aqui uma reflexão para finalizar.
Sendo um caminho de escolha, não necessita que sejamos seres especiais para trilhá-lo. O que torna o 4ª Caminho, por outro lado uma escolha especial, é que ele nos convida a mergulhar de corpo e alma ao que não se sabe. Desta forma, ao que não está escrito, ao que está composto muito mais por perguntas do que por respostas.
Até onde pude compreender, e isso se modifica todos os dias, o 4º Caminho não nos traz exatamente a felicidade e completude dentro de seu conceito ordinário. O 4º Caminho nos encoraja, antes de tudo, a reconhecer que algo nos falta. Assim que uma grande parte desta falta se dá pela precariedade. Pela fragilidade que compõe a nossa existência e que criamos subterfúgios para evitar a dor e a frustração que isso representa.
Este Caminho se constrói a partir paradoxalmente de nossa capacidade de entrega a algo que não governamos. Juntamente, com o reconhecimento da importância desta entrega. Nesse sentido, de que o movimento individual de busca por Consciência interfere na evolução de cada um de nós.
A compreensão de que movemos e somos movidos, respiramos e “somos respirados”. Que como diz um grande mestre da India, Anandamurti, “A força que guia as estrelas nos guia também”.
Reconhecer, sucumbir a essa força, abrir-nos a ela e sermos capazes de testemunhar todos os fenômenos dentro e fora de nós. Além disso, pelo alinhamento de todos os centros que compõe o ser, com toda a sua precariedade, deficiência pode ser libertador. Logo, necessita de um corpo dinamicamente ancorado.
Abrir-nos a esta força pode modificar nosso estado interior.
Como diz Mme De Salzmann, “A necessidade de abrir-se a esta força é o que chamamos de oração.
- A palavra consciência tem muitos significados e neste artigo não pretendo me aprofundar nesta questão.
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