Música, choque e transformação

Este artigo é a segunda parte da postagem Música e vontade de transcender que você encontra aqui.


Tenho por hábito colocar exemplos práticos da vida quando vou partilhar de algo que vivenciei, de algo que possa enriquecer a mim e aos outros, tanto numa conversa como em outros meios de comunicar. Por isso, continuamos nossa reflexão sobre música e transcender com exercícios de imaginação. O dia não foi dos mais fáceis…você chega em casa um pouco cansado, mas o cansaço é mais interior que do corpo. Estranhamente, nesse dia, um recado de um amigo distante chega até você, falando de coisas boas que viveram, que virá visita-lo na cidade depois desses anos todos. Subitamente seu humor melhora, é como se não tivesse um dia difícil, a simples lembrança daqueles momentos bonitos do passado, vem até o cheiro do café daqueles dias em que viveram.

Música e movimento

Pois bem, certamente que você conseguiu visualizar o que foi citado anteriormente, talvez até tenha vivido essa situação em algum momento de forma semelhante. Por que nosso humor muda de cor tão rápido? E por que, a partir de uma lembrança doce, somos capazes de nos transportar ao passado, sentir o cheiro do café da tia Maria, talvez lembremos até o gosto e isso nos traz tanta satisfação e quiçá uma certa felicidade. De certa forma, sem entrar na definição psicanalítica de id, ego, superego, podemos dizer que somos muitos. em muitas situações. Somos o que vivemos no passado, somos o que vivemos agora, somos nossas metas futuras sendo construídas agora. O desequilíbrio desses digamos ‘eus’, ‘egos’, queremos dizer, a não conexão com a essência, pode nos levar a um estado de dispersão, uma certa ‘distração’ de si mesmo.

Ascensão de Cristo

(A Ascenção de Cristo, Salvador Dalí).

Conversamos na primeira parte de nossa reflexão sobre choques, sobre colocar choques voluntários, mudanças, cores diferentes em nossas vidas, evitando que a vida nos pegue de calças curtas e faça ela mesma o trabalho de trazer os ventos da mudança e quando a mudança vem assim, sem a gente esperar por ela, nós reclamamos e em geral não nos preparamos adequadamente para subir na espiral da vida. A tal da escada, a tal da escala musical, a tal das sete notinhas que subimos e descemos ao nosso bel prazer assim que temos profundidade de vivência em uma questão em nossa vida, as notas do, re, mi, fa, sol, la, si e do oitava acima. Mas essas notas já estão organizadas em uma escala, em um sistema musical que chamamos de escada, escala musical de do maior, de sete notas organizadas, uma depois da outra, nessa ordem, como um método a ser seguido e exercitado. Toda evolução precisa de um método, embora ela não seja o método, a metodologia dá a forma para que possamos organizar a evolução pessoal. Ao lembrar do passado, ao lembrar do cheiro do café da ‘tia Maria’, você revive um fragmento de alegria. São músicas que você viveu, cantou e encantou. E por uma capacidade cognitiva saudável do seu cérebro, tão saudável e maravilhosa que você foi capaz de quase sentir o cheiro da cozinha da época. O gosto, o cheiro, são frequências, bem como as notas musicais também. Naquele momento em que sentiu alegria, um fragmento de sabedoria, um fragmento da sua essência se manifestou, houve um momento que podemos chamar de ‘presença’.

(A Escada de Jacó, William Blake).

Música, presença e harmonia

Como nos perdemos da presença? Como desanda a harmonia, como a canção desafina?
Uma única nota possui outras muitas notas. Chamamos de série harmônica. De um único sentimento, do amor por exemplo, podemos criar caridade, devoção e ternura, compaixão e coragem, alegria, pureza, enfim, muitas notas musicais!
De um estado de vibração de presença, de equilíbrio, de harmonia entre os ‘eus’ se preferirem entender assim, para que tenhamos uma forma mais acessível de imaginar a presença, já que nós não matamos os eus, não matamos as notas, as canções boas e ruins do passado, nós ‘integramos’ elas. Transmutamos, fazemos um arranjo mais agitado, tipo um rock, ou mais calmo, mais bossa nova…


Da nossa nota base, da nossa raiz digamos assim, a nota do, podemos extrair várias notas. Se você puder observar um violão, o que acontece quando se perturba a corda do violão (veja que usei o termo ‘perturbação’ pois é assim que se fala quando se toca a corda e também acredito no sentido metafórico do termo ‘perturbação’ não como coisa ruim e sim como gera uma ação de algum tipo), acontece que a nota do, por causa do deslocamento, vai vibrar a metade, depois metade da metade e assim sucessivamente, formando a série harmônica. Tudo isso dentro de uma simples nota ‘do’.


Vou descrever a série harmônica, por favor não fique preocupado em entender teoria musical, apenas fique atento ao fato de que, de uma única nota que sofreu uma perturbação na corda, gerou-se 16 notas que podem ser medidas, embora a série continue vibrando se não houver o atrito, pensa que ela continua vibrando! E gerando mais sons!

Música e geração

Como som gerador, vamos usar a nota do. Teremos a sequência:

Perceba que temos, do fundamental, do oitava acima, sol (quinta), do (duas oitavas acima), mi (terça), sol, si bemol, do, re, mi, fa # sustenido, sol, la si bemol, si bequadro, do.


Observa que na sequência da escala temos do, re, mi, fa sol, la, si, do, sendo que o mi, é a terceira, certo? Volte ali e conte, a nota mi, é a terceira, chamamos de terça, volte ali na escala e conte qual é a nota sol, vais perceber que é a quinta, chamamos, mi de terça, sol de quinta.


Vamos colocar aqui uma imagem da escala e das teclas para você poder visualizar e contar de 1 a 7, observando os sete sons. A imagem está com a notação américa, começa na letra C, que é do, e assim sucessivamente, D é re, E é mi, F é fa, G é sol, A é la e B é si. Não precisa tentar entender os sustenidos # e bemóis b agora, vamos nos concentrar em entender que a escala de do maior são sete sons, cada degrau da escada é um grau que se sobe até chegar na nota do de cima. Como é nota do de cima, chamamos do agudo ou do oitava acima.


O importante é que mesmo sem ter estudo musical aprofundado, observe as notas, observe a sincronicidade com o número sete e outras correspondências interessantes com o trabalho interior para crescimento pessoal.

Música, frequências, matemática e geometria

Feita essa observação, lembra que conversamos, sobre lei do 3, lei do 7, de nosso querido mestre G. Tente fazer suas associações do trabalho interno com a matemática perfeita da música.


A série harmônica nos mostra que, a partir de uma frequência geradora, podemos gerar todo o resto, pois esse é um fenômeno natural, da acústica, da física da natureza.


A sugestão de trabalho com música e transcendência, é usar esse fato acústico concreto como metáfora para seu trabalho interior. Como vibra minha nota interior agora, nesse momento que leio isso? Ou, quando você estiver num momento só seu que possa fazer reflexões, pergunte a si, que nota vibro hoje? Em que oitava? Estou alegre, muito, pouco? Estou triste, muito, pouco? Que melodia lembra meu estado hoje?

Tente se lembrar de uma canção, ou notas musicais, você escolhe o que for mais acessível. Desejo manter esse estado, por exemplo, tristeza. Vou manter esse estado, observá-lo, cantá-lo, vibrá-lo até que se dissipe? Ou vou buscar outra nota, outra canção?

Qual a sua nota geradora?


Eu gosto de pensar, o trabalho interior com o ego, para ativar a presença, ou ao menos exercitar estados mais positivos, gosto de pensar que o estado que estou, independente que seja, é a nota do. Vou usar por exemplo a tristeza. E vou vibrando esse do, cantando mesmo que internamente, assim: dooooo como se fosse uma música, só pra mim. Por que exercitar o do dessa forma? Pense comigo, a mente está sobrecarregada de pensamentos de tristeza, que sobrecarrega o sentimento e nubla a vontade ao ponto de pessoas tristes se sentirem cansadas. Se você foca sua mente em algo positivo ou neutro, no caso a nota do, você ‘dá serviço’ para sua mente, para que a vibração do do, lembre-se que a música é invasiva se você entoar alto todo seu sistema corporal e sistema nervoso vai ter que vibrar no do mesmo que não queira. No mínimo é um exercício que tira o foco da tristeza profunda e isso já é por si só uma ação da Vontade, oque é excelente, pois pelo ato de concentrar a mente na nota já ativou a vontade!

Até que a tristeza, essa espécie de ‘eu’, comece a se movimentar. Vou vibrando com muito amor, o amor que move tudo afinal, o amor é a força vital pra Freud, afinal de contas ele tem razão…e me permito vibrar nessa nota do, que nesse momento representa a tristeza, com ao consciência de que não sou a tristeza, sou a essência.

Talvez eu não saiba da essência, mas ao lembrar dela, não me preocupo, pois ela sabe de mim muito e eu dela pouco, ainda assim, se eu vibro na intenção de buscá-la, ela vibra comigo, ainda que eu seja uma única notinha, a nota do.
Ao vibrar essa nota do, na tristeza, a tristeza, essa espécie de ‘eu’, começa a se movimentar e percebo uma alegria. Continuo vibrando a nota do, cantando em minha cabeça dooooo (ou cantando alto, seria melhor por causa da vibração física).

Assim começa a vibrar uma alegria interna, algo sem motivo. Alegria sem motivo, sinal de quem? Da amiga essência. Agora, de posse dessa alegria, me pergunto, com amor, de que preciso para subir a oitava, só por hoje? Só pela presença, agora? E me vem na cabeça, sem demora, a orientação: resiliência.


É uma experiência bonita, com música, com presença, com trabalho interno. Olhando do ponto de vista racional, o que é uma pessoa triste, se não é uma pessoa cansada? Sendo a essência a fonte de toda energia, lembrando também de Freud, que falava da força amorosa que move o mundo, a energia psíquica libido, a alegria pode ser sustentada pela resiliência, a capacidade de suportar situações difíceis por alguns momentos. Sem fugir da situação, às vezes presença é não escapar da tristeza e sim vibrar, vibrar, até que a essência se mostre.

Experimente sua música?


Você não gostaria de experimentar?
Se quiser experimentar e contar como foi, será enriquecedor, pois as experiências podem ser diferentes, cada um com sua canção.
Uma nota do, cheia de amor pra você, então, dooooooo.

*para quem gosta de teoria musical, mais um exemplo.
Aqui é um exemplo do Música sem segredos, nota geradora la. Não se preocupe em tentar decorar ou entender a teoria musical aqui, apenas estou mostrando que pode ser outra nota geradora, que a sequência da série harmônica é sempre a mesma, preste atenção no fato de que, qualquer que seja a nota, ela gera uma série de outras notas, matematicamente correspondente igual.

110 Hz – A1
220 Hz – A2 (oitava justa)
330 Hz – E3 (quinta justa)
440 Hz – A3 (oitava)
550 Hz – C#4 (terça maior)
660 Hz – E4 (quinta justa)
770 Hz – G4 (sétima menor)
880 Hz – A4 (oitava)
990 Hz – B4 (segunda maior)
1100 Hz – C#5 (quinta justa)
1210 Hz – D# (4 aumentada)
1320 hz – E5 (quinta justa)
1430 Hz – F#5 (sexta maior)
1540 Hz – G5 (quinta justa)
1650 Hz – G#5 (sétima maior)
1760 Hz – A5 (oitava)

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Veja também:

Textos utilizados:

  1. Os poderes da música e a alma em Platão: tons, movimentos e harmonia de Diogo Norberto Mesti.
  2. O que é a Série Harmônica? (dezembro 8, 2016 guitarpediaCuriosidades)
  3. O que é a série harmônica na música. Música sem segredos.

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