Quando falamos de alimentos, você logo entende o quê? Um alimento é algo que nos dá energia para que a máquina continue a operar. Alimento é toda substância digerível que sirva para nutrir e assim sustentar e manter nosso corpo planetário em funcionamento.
Alimento e digestão
Uma das idéias mais importantes do Trabalho é em relação aos alimentos e a digestão. Um alimento ingerido é então digerido e absorvido pelo organismo. Desta maneira, transforma e absorve uma matéria exterior, que se apresenta em uma escala inferior, em algo útil para a construção e manutenção do nosso corpo.
Como estamos falando de transformação, vamos mais uma vez falar da Lei de Sete. Mas, antes, devemos entender do que nosso corpo planetário é constituído, e, quais são os alimentos a serem empregados para a construção e manutenção destes corpos.
Corpo físico, corpo mental e corpo emocional
Podemos dar vários nomes as diferentes partes do corpo. Por simplicidade, vou adotar o nome usado para designar os centros de inteligência. Temos, então, um corpo físico que sustenta os demais corpos e participa executando toda as funções vitais. Enquanto o corpo físico permanecer vivo, dizemos que a pessoa está viva. Acho que podemos concordar com isso de forma geral. Uma pessoa pode ser mantida viva, em aparelhos ou não, mesmo não expressando mais nenhuma outra reação além das biológicas mais básicas. É igual a ter um carro abastecido e ligado na garagem, mas, sem um motorista. Ficará pronto esperando o comando enquanto tiver alimentado, ou seja, com combustível.
Corpo mental e emocional
O corpo emocional precisa receber seu alimento também. Dizemos que os centros atuam individualmente enquanto não estivermos atentos ao que acontece conosco. A energia do centro emocional está ligada principalmente a satisfação do que gosta e a evitar a tudo que não gosta. Logo, busca com isso satisfação emocional em tudo que o corpo está a realizar. Assim o corpo passa a ser escravo dessas emoções.
O corpo intelectual é um centro binário, onde busca informações o tempo todo, e, faz julgamentos do que é certo e errado, do que é bom ou ruim. É o centro mais lento entre os 3 centros. Também é o mais maleável, mais plástico.
Respiração e impressões, os outros alimentos
Além da alimentação que já discutimos (comida e líquidos), devemos acrescentar mais dois alimentos. O segundo alimento é a respiração. A respiração pode ser entendida de duas formas. A primeira em trazer o ar para dentro de nosso corpo. Somos uma máquina térmica que necessita de oxigênio para realizar suas reações químicas. O ar, entra como um segundo alimento, que combinado com os líquidos e sólidos ingeridos, digeridos e absorvidos, irão fornecer energia para operar o que chamamos de “eu”.
Este “eu” que é um complexo emocional e intelectual, habita um corpo. Ainda não somos capazes de transferir nossa consciência para outra máquina. Então esse “eu”, que forma a nossa psicologia, somente pode existir porque recebe essa energia biológica do corpo pela combinação dos alimentos “comida” e “ar”
Receber, digerir e utilizar a energia do primeiro e segundo alimento é uma função básica do organismo mecânico. Assim, está função básica mantém tanto o próprio corpo quanto a nossa psicologia mecânica e automática. Uma psicóloga que foi recebida e formada por associações do ambiente que crescemos. De outra forma podemos dizer que é a psicologia herdada de nossos ancestrais, pais, família, sociedade. Logo, também podemos chamar de uma psicologia coletiva.
O terceiro alimento
O terceiro alimento são as impressões.Sabemos que uma pessoa pode viver semanas sem comer, dias sem beber, minutos sem respirar. No entanto, para Gurdjieff, uma pessoa não viveria um só segundo sem impressões.
Uma maneira de tentar entender o que são impressões é imaginar-se surdo, cego, mudo, desprovido de tato, olfato e paladar. Ou seja, totalmente desprovido de seus sentidos. Como exemplo, faça uma pausa e experimente por alguns segundos se ver assim. Realmente é algo assustador.
Assim, podemos entender impressões como tudo que nos chega pelos sentidos. Mas não são somente as impressões capturadas pelos sentidos que absorvemos. Entretanto, há ainda impressões mais sutis emanadas por outras pessoas, planetas e sistemas solares. Assim, é interessante notar uma ligação que Gurdjieff faz com a astrologia. Ele reconhecia essas influências cósmicas que nem sempre são positivas.
Para Gurdjieff, tensões extraplanetárias são geradas pela mecânica do universo. Como, por exemplo, a proximidade de um planeta a outro que ocasiona atrações e repulsões gravitacionais. Essas tensões chegam a atmosfera da Terra e são absorvidas pela vida orgânica. Na verdade, esse é o papel da vida orgânica: absorver essas energias e transmutar para a Terra e para a Lua. Então , o papel do ser humano é ser esta ponte cósmica.
A digestão das impressões
Assim como temos de digerir os alimentos que ingerimos, também precisamos digerir as impressões que recebemos. Recebemos uma quantidade imensa de informações todos os dias. Atualmente, com os celulares e redes sociais, estamos a todo tempo sendo bombardeados de impressões. Todo este conteúdo é recebido em nosso inconsciente e acaba por associar-se aos diversos temas contidos em nossa psique.
Se não estamos presentes, quando recebemos uma impressão, haverá reações mecânicas automáticas. Por exemplo, seu filho chega a você e lhe diz que tirou nota ruim em uma prova. Isto entra em você e aciona automaticamente a associação de você ser um pai/mãe displicente com a educação de seu filho.
Em seguida, acontece uma reação a este pensamento que coloca a culpa em seu filho que é um malandro. Tudo isso também te faz recordar das vezes em que você fracassou e recebeu castigo de seus pais.
Antes mesmo de seu filho terminar a frase, você já explodiu com ele e deu um discurso de 50 minutos e tomou o celular dele. Claro que tudo isso lhe faz sentir bem, poderoso (a) por ter controlado a situação. Daí, vem um sentimento de remorso, que você exagerou e deveria ter ouvido mais. No entanto, logo vem outra voz e te diz pra ficar quieto (a), que ele tem de aprender. Afinal, tudo foi feito com amor. No fim, você abre uma cerveja e vai navegar nas redes sociais pra te chatear com o governo ou a oposição. No entanto, sua frustração não mais está direcionada a você, graças às novas impressões.
Se observarmos, vamos pulando de impressões a impressões, deixando o mundo nos levar. Então, tudo isso vai acontecendo, como se não tivéssemos centro, vontade própria ou livre arbítrio.
Você reconhece as impressões?
Bom, acho que aqui é um excelente ponto para parar nesta postagem. Assim, fica como sugestão você observar como está sua harmonia entre seus três centros de inteligência. Também pode observar como você tem relacionado com os três alimentos (comida, ar e impressões). Como tem feito a ingestão e digestão destes alimentos? Como isso pode estar relacionado ao seu nível de atenção, estado de presença e harmonia?
Se não estamos presentes em receber e digerir o terceiro alimento, tudo vai ser consumido pelos centros mecânicos. Com isso, não há energia disponível para o desenvolvimento da consciência.
3 comentários em “Alimento: Você tem fome de quê?”