Reinos ou níveis de consciência não é um assunto novo. Se prestarmos atenção nos textos sagrados achamos várias referências a diferentes reinos, ou seja, diferentes níveis de percepção sobre a realidade.
“mas os santos do altíssimo receberão o reino e o possuirão para sempre; sim, para todo o sempre’.
Daniel 7:18″
Nos textos sagrados podemos facilmente encontrar várias citações sobre a distinção entre o reino da terra e o reino do Céu.
Jesus disse: E eu digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la. Eu darei a você as chaves do Reino dos céus; o que você ligar na terra terá sido ligado nos céus, e o que você desligar na terra terá sido desligado nos céus”.
Mateus 16:18-19
Nessa passagem há uma citação direta a Hades, reino dos mortos da mitologia grega. Então, temos pelo menos três reinos nessa passagem: o reino dos mortos (Hades), da vida orgânica (Terra) e do espírito (Céus). Dessa forma, temos em nós diferentes forças com diferentes propósitos. Ou seja, possuímos potência da morte, da vida e do espírito.
Em outra passagem Jesus ainda disse:
Naquele momento, os discípulos chegaram a Jesus e perguntaram: “Quem é o maior no Reino dos céus?” Chamando uma criança, colocou-a no meio deles, e disse: “Eu asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus. Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus.
Então disse Jesus: “Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas”.
Mateus 18 e 19:14
Note que as crianças são as que mais se aproximam de um Ser preparado para viver em um nível superior de consciência. Mas o que isso significa? Que crescemos e perdemos a nossa conexão com a nossa consciência e por isso precisamos retornar ao estado de inocência e humildade das crianças.
São várias as referências, em diversas tradições, sobre a necessidade de morrer em vida para um novo renascimento. Faço as referências à tradição cristã por me ser mais conhecida. Todavia, a essência de existir um reino onde habita os mortos, um reino da vida onde habita os prazeres e um reino do espírito onde habita a sabedoria é algo comum de ser encontrado no budismo, judaísmo e islamismo. Da mesma maneira, encontramos esses ensinamentos na tradição hermética, alquímica e xamânica. Em suma, todas as grandes influências esotéricas de nossa cultura ocidental.
Mas como associar esses três reinos a diferentes níveis de consciência? Vivemos em um planeta baseado em uma vida orgânica. Além disso, vivemos através de uma organização social. Em outras palavras, vivemos dentro de uma cultura. Boa parte de nossa cultura possui raízes muito profundas. Essas raízes vão além da nossa capacidade de compreender o surgimento de determinados comportamentos culturais. Provavelmente remontam aos primeiros grupos de hominídeos. Dessa forma, podemos dizer que vivemos sobre os restos dos que morreram. Assim, vamos chamar essa força de 1.
Todavia, a vida está em constante desenvolvimento. Igualmente, de tempos em tempos a cultura precisa se modificar para se adaptar às novas necessidades. Entretanto, a cultura tende a manter seu status quo. Ao passo que a vida orgânica, como força 2, sempre caminha para a desordem. A vida orgânica se limita às suas próprias necessidades que não incluem as necessidades humanas.
Nesse sentido, o reino dos Céus entra nessa equação como força 3 através da força do espírito. Assim, essa força 3 age como uma força rejuvenescedora e renovadora da força 1, força da cultura. Como exemplo, há 2000 atrás não havia tanta preocupação com a ecologia como hoje. Isso porque não tínhamos tantos seres humanos e tanta pressão sobre o meio ambiente. Assim, a consciência ecológica emerge como força reformadora da cultura para esse momento.
Em suma, quanto mais uma pessoa vive imersa pela força 1 da cultura menos ela possui o espírito rejuvenescedor. Da mesma forma, mais age pela programação mecânica. Podemos trazer esse entendimento para uma situação prática da vida. Lembre de uma determinada situação em que deve agir, tomar uma posição. Você age pela cultura ou pela sua própria sabedoria. Ou seja, pelo seu próprio discernimento ou pela sua programação cultural? Programação esta recebida de seu ambiente familiar e social.
Acontece que quanto mais sabedoria mais virtudes temos. Dessa forma podemos colocar virtudes como um resultado da sabedoria. Sabedoria é enxergar a realidade objetivamente e agir adequadamente. Não é saber de tudo. Entretanto, é saber agir de forma apropriada.
No texto anterior expliquei que o homem 1,2 e 3 encontram-se no mesmo nível de sabedoria. No entanto, agem em centros diferentes. Dessa forma, estão presos em um entendimento subjetivo sobre a realidade de um centro dominante e vários “eus” fragmentados. Da mesma forma estão fragmentados sua vontade e seus desejos. Nesse sentido, uma decisão tomada por um centro, não informa ou não leva em consideração outros centros. Logo, sua força de manter decisões é mínima. Assim, imediatamente justificam de maneira subjetiva quaisquer contradições. Dessa maneira, não há sacrifícios de sua personalidade cristalizada.
O homem 4 nasce a partir do momento em que a pessoa toma consciência dessa situação, começa a trabalhar para integrar e harmonizar os três centros. Logo, o homem número 4 começa a criar seu próprio centro. Este novo centro liga a consciência (reino dos Céus) ao reino da Terra. Contudo, esse novo centro não cresce naturalmente. Assim, será fruto de uma escola ou linha de desenvolvimento juntamente com seu esforço e dedicação pessoal.
“O conhecimento do homem número quatro é um tipo de conhecimento muito diferente. É o conhecimento que vem do homem número cinco, que por sua vez o recebe do homem número seis, que o recebe do homem número sete. Mas, é claro, o homem número quatro assimila esse conhecimento apenas o que é possível de acordo com seus poderes. Mas, em comparação com o homem número um, o homem número dois e o homem número três, o homem número quatro começou a se libertar dos elementos subjetivos em seu conhecimento e a se mover ao longo do caminho para o conhecimento objetivo.”
Ouspensky, Fragmentos de um ensinamento desconhecido
Você não irá criar do nada esse conhecimento que lhe traz a possibilidade de integração e harmonia. Nem mesmo grandes mestres agiram deslocados de suas culturas. Dessa forma, Buda, jesus e Maomé foram reformadores da cultura através do entendimento do espírito. As tradições e escolas são força 1 da cultura. Assim, um professor ou mestre age como força 3, trazendo vida e entendimento correto aos ensinamentos.
O caminho de tornar-se mestre de si começa por enxergar a dualidade e subjetividade do centro dominante. Dessa forma permitir a atuação harmônica dos três centros. Ou seja, ir da dualidade para o triângulo. Do dois para o três. Essa ação não acontece de forma voluntária. Logo, a ação da vontade em realizar essa harmonia cria um novo centro. Este novo centro é uma quadratura. Seu símbolo é a pedra cúbica ou pedra filosofal. O quatro é estabilidade, solidez, concretude e perfeição.
Os demais níveis de consciência do homem 5, 6 e 7 são frutos contínuos desse trabalho. Daí em diante, o entendimento sobre trabalhar em si muda muito pouco. No entanto, o Ser é fruto desse trabalho e não somente do entendimento. Então, o que muda é o nível de sacrifícios pessoais que cada um tolera voluntariamente a realizar. Assim, a diferença entre pessoas desses níveis superiores tem a ver com resultados conquistados. Em outras palavras, com a qualidade e quantidade de concentrações superiores obtidas. Pelo fruto do seu próprio trabalho interior de transformação.
Na próxima semana falarei mais sobre os níveis 5, 6 e 7. Já deixo em adiantado a velha frase de que o mestre sempre aparece para o aluno preparado. Também vale lembrar que o aluno sempre aparece para o mestre preparado. Mas o que é um mestre preparado? E o que é um aluno preparado?
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