Personalidade e essência podem ser harmonizadas? Será que minha personalidade é um problema? Não há problemas em sua personalidade e sim no que lhe é falso.
Teste sua personalidade
Existem vários modelos da psique humana que tentam explicar o comportamento do indivíduo. Um dos modelos mais antigos foi proposto por Hipócrates em 480ac. Sua teoria se baseia na existência de 4 tipos de temperamento refletindo os quatro elementos. Mais recentemente, Carl Jung criou um dos mais complexos modelos da psique humana. Em seu modelo a personalidade é por assim dizer uma subfunção do self. Então ele modelou a personalidade dentro de quatro eixos. Um eixo consciente e outro inconsciente que fazem uma cruz. Também acrescentou o conceito de introvertido e extrovertido. Dessa forma, uma pessoa pode ter a personalidade mais ligada a uma função, porém, fazer que a mesma se manifeste internamente e não externamente ou vice-versa.
Foi com o modelo de Carl Jung que vários outros testes de personalidade surgiram. Entre eles o Quati. Também o MBTI de Myers-Briggs. O próprio modelo de temperamento também sofreu atualizações modernas baseado na teoria de Carl Jung. Contudo a tentativa de entender o comportamento humano não para por aqui. Cada um desses métodos possui vantagens e desvantagens sobre os outros. No fim das contas, estamos falando de modelos. Portanto, um modelo é tão bom quanto sua capacidade de representar a realidade. Porém, nunca será perfeito. No entanto, modelos nos permitem perceber o complexo de nossa psique em “caixinhas” mais simplificadas.
Gurdjieff e o Eneagrama
Gurdjieff não chegou a modelar a personalidade usando o Eneagrama. No entanto ele possuía uma intuição de que tal modelo era possível. Para ele a personalidade se confunde com a própria essência sendo que ela nasce como um desdobramento da essência durante o desenvolvimento do indivíduo, do feto a juventude.
Todavia, ele usava o conceito de falsa personalidade. Para Gurdjieff, a falsa personalidade é uma distorção da personalidade verdadeira causada pelo mal desenvolvimento pessoal. Em outra palavras, personalidade reflete o papel e motivação do indivíduo. Assim se torna o que é observável da essência. Ou seja, é a materialização da própria essência do ser. Enquanto a falsa personalidade são conteúdos herdados de ancestralidade, conteúdos de traumas e choques. Também são conteúdos da educação exterior, da cultura de um povo, religião e tempo histórico.
Eneagrama e astrologia
Foram os alunos de Gurdjieff, entre esses Rodney Collin, que propuseram o Eneagrama como um modelo para refletir a influência planetária. Assim, seria possível observar como cada planeta transmite suas influências aos outros planetas. Principalmente o quanto a influência ao planeta Terra e todos os Seus seres e habitantes. Assim foi ligada a tradição de interpretar a personalidade do indivíduo com mapas astrais e o Eneagrama.
Mapas astrais fazem parte da cultura humana a mais de 3000 anos antes de Cristo. É dito que ao nascer trazemos ou recebemos as influências astrais (influências cósmicas) Que moldaram a personalidade do indivíduo. Assim, o mapa astral traça as principais características da personalidade e também suas motivações e desafios. Então, podemos dizer que o mapa astral busca descrever também a essência do indivíduo.
Talvez seja a crença na tradição astrológica que sustenta o modelo da psique de Gurdjieff de essência e personalidade. Uma crença que temos uma motivação “a priori”. Ou seja, algo já predisposto que nos acompanha desde o nascimento (ou quem sabe até antes). Todavia, podemos substituir sem prejuízos o entendimento astrológico por um entendimento mais materialista ou evolucionista. Tal carga comportamental da personalidade pode ser também explicada como heranças genéticas. Aqui não quero defender uma tese em detrimento de outra. Isso é irrelevante e não temos hoje a capacidade de provar nem uma e nem outra.
Sua personalidade é seu tesouro, o problema é o que lhe é falso
A essência é algo indivisível e faz parte dessa grande escala cósmica. É a partir dessa essência que personalidade se desdobra como um reflexo exterior. É como se a essência da árvore fosse sua semente. Dela nasce caule e raiz. Será essas raízes e caule que darão a estrutura para a personalidade que nesse exemplo são suas folhas, flores e frutos. Na verdade, neste exemplo não há uma divisão entre essência e personalidade. Contudo, imagine essa mesma semente crescendo em um vaso suspenso. O crescimento dessa semente estará limitado ao espaço confinado do vaso. É exatamente o que a falsa personalidade faz.
A falsa personalidade é inútil do ponto de vista do desenvolvimento espiritual. Ainda mais, é dela que vem todos os ladrões de energia. Isso não significa que não há conflitos e dificuldades na personalidade. Também não significa que há respostas para tudo. Somente que a personalidade está livre de condicionamentos que a impedem de agir adequadamente. A personalidade alinhada a sua essência é capaz de manter-se conectada a sua fé (razão), esperança (emoção positiva) e amor (compreensão e tolerância para consigo e com os outros). Dessa maneira o indivíduo é capaz de participar do mundo como um ator. Em outras palavras, o indivíduo pode agir cada vez mais pelo fruto de sua própria vontade e desejo e não por meros condicionamentos.
Para quê estudar a personalidade?
Estudar a personalidade é útil sob duas condições. Afinal, estudar a personalidade é estudar a mecânica de nossa própria máquina. Então, estudar a personalidade pode ser útil em entender como tornar a sua personalidade ainda melhor para seus objetivos. No entanto, essa é a motivação menos útil desse processo. A condição mais útil de estudar a própria personalidade é compreender seus vieses cognitivos, reações e emoções que lhe favorecem e te prejudicam. Como máquinas, cada personalidade possui uma espécie de especialização. Assim, alguns traços de personalidades serão melhor adaptados para determinadas situações enquanto são prejudiciais para outros casos. Afinal, crescer espiritualmente é conhecer a ti mesmo. Então, devemos saber como nos comportamos e como tais comportamentos moldam a nossa visão de mundo. Por fim, a sua personalidade também afeta a própria maneira de enxergar a espiritualidade.
Entretanto, o Eneagrama se destaca dentro destes vários modelos de estudos da personalidade por ser capaz de explicar as principais motivações de cada um. Modelos da personalidade de Carl Jung são muito bons para mostrar como a personalidade funciona ou em que precisa melhorar. No entanto, não conseguem dizer as motivações e nem o porquê de determinadas reações. Dessa forma, o Eneagrama é talvez o único modelo completo quando o estudo da personalidade está associado ao Trabalho e a filosofia do Quarto Caminho.
Porém, nenhum modelo é perfeito. Também, há sempre a tentação de olhar externamente “os outros”, colocando todos em “caixinhas”. Com isso, tentando explicar e justificar o “péssimo comportamento” dos outros. Muito mais difícil é olhar para si. Portanto, não considere nunca o estudo do Eneagrama da personalidade como um atalho, pois não é.
Esse texto é uma introdução ao tema do Eneagrama da personalidade. Tratarei desse tema nos próximos artigos do blog. Iremos explorar a conexão do raio da criação com os traços de personalidade. Dessa maneira, é possível entender o Eneagrama de uma forma muito mais dinâmica e completa.
Uma ótima semana de estudos para todos vocês!
Lauro Borges