Dodecafonismo na música: É muita nota (areia) pro meu caminhão

Tem um livro sagrado que diz que ‘no princípio era o verbo’. Pois bem, que quando perturbamos uma única nota, na corda de um violão por exemplo, ela vibra pelo menos mais 16 outras notas, que chamamos de harmônicos. Seriam infinitos se não houvesse atrito. No princípio era uma única notinha, que gerou várias e várias…

E de uma única nota do, gerou-se do do sol do mi sol si bemol do…e muito mais…seguiu para o re, mi, fa, sol, la bemol, si bemol, si bequadro (natural) e do novamente!

Essas notas que seguem uma ordem, uma série, chamamos de Série Harmônica. Qualquer nota que você perturbe gerará naturalmente, ou seja isso é algo orgânico aqui no do nosso querido planeta Terra, gerará essas notas auxiliares, que chamamos de harmônicos.

Permitam-me mais uma inferência, ainda naquele livro sagrado se fala também do três, depois do verbo que se fez carne… ‘Há três que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue; e os três são unânimes’.

Posto que, na música também temos nossos três testemunhos, que aliás chamamos de tríade, olha o nosso 3 aparecendo aí de novo! O três é um número interessante, aparece na filosofia como tese, antítese e síntese:

‘’’ Hegel criou um sistema chamado dialética, que é um processo espiral sobre o conhecimento, partindo da uma ideia base que é chamada de tese, contrariada por outra ideia, chamada de antítese e chegando a uma conclusão chamada de síntese, que passa a ser uma nova tese, por isso, espiral, algo que não tem fim, mas uma evolução de ideia’’’.

Se trabalhamos com o 3 numa base quadrada, temos os três caminhos que se digladiam e encontram certo ponto em comum, criando um quarto caminho, uma base estável. Mas nós conhecemos essa figura, são as pirâmides.

Voltemos lá do Egito Antigo para nossa tríade, 3, três notas importantes, perceba que na Série H. aparecem notas que se repetem. A nota que mais se repete é a dona da Série, na Série Harmônica de do, aparece bastante do, indicando dentro da própria natureza a importância da nota fundamental dentro de uma música, dentro do contexto tonal chamamos de Tônica.

Qual a Tônica do seu trabalho interior? Qual a sua notinha principal? Em que direção você segue diligentemente na sua reforma interior, observando o ego, na unidade da sua Essência?

Algumas ruminações interiores para você fazer enquanto lê. Que tal, enquanto pensa nisso, mesmo que você não saiba o tom correto, pensar em tudo isso e ainda cantar dentro da sua

cabeça a nota doooooooo……longamente como você já deve ter ouvido aqueles monges fazendo ooooooooooommmmmm. Quando se repete com intenção sagrada dentro da cultura do oriente, se chama mantra. Quando se repete, por exemplo a nota do que propusemos acima, várias vezes, se chama ostinato.

Nosso acorde, notas tocadas ao mesmo tempo, são o acorde perfeito maior das notas do, mi e sol, para os íntimos conhecido como acorde de C, povo que toca violão é um dos primeiros acordes que se aprende, bem como a escala de do maior uma das primeiras que se aprende ao piano.

Bonito esse nome, não é mesmo? Perfeito Maior. O acorde perfeito maior possui uma terça maior e uma quinta justa, mas insisto ainda na nossa boa e velha dialética, sabe aquela discussão acalorada? Como você tem se saído nessas ‘saias justas’, hein? Tem conseguido perceber uma idéia que se opõe a outra, uma certa conciliação e após essa certa conciliação, você tem conseguido permanecer calmo, concentrado em si, para perceber uma quarta opção? 

Fica a sugestão de você escutar esse Bach maravilhoso recheado de acordes perfeitos maiores e fazer a reflexão de alguma discussão que meio que ‘deu ruim’…será que não faltou respirar fundo e permanecer centrado na argumentação, não para ‘ganhar’, mas para se chegar a uma solução não mecânica para todos! Escuta, reflete e conta para a gente como você fez.

Alexander Jocheles plays Bach Cantata BWV 36 : Aria

E pra quem gosta de fazer essas reflexões visualizando junto, segue uma imagem do acorde Perfeito Maior.

Harmonia Funcional Introdução à teoria das funções harmônicas

Seguimos pensando e observando a Série Harmônica, a unidade, o aparecimento das oitavas, da terça, da quinta.

No começo da S.H. temos a repetição da nota do, oitava acima, depois duas oitavas acima,

depois mais oitavas acima.

Você já parou para pensar em que oitava se encontra? Quanto do meu conhecimento eu consigo aplicar em mim e no próximo, de forma amorosa, obtendo por resultado a minha evolução constante, ainda que sem aplausos da platéia e ainda ajudando ao próximo no processo evolutivo?

A cada sete notas, se repete a sequência. Chamamos isso de oitavas. Tem várias notas do no piano, tem várias oitavas, sete para ser mais precisa no piano e mais no Grandioso Órgão de Tubos.

Que tal fazer uma reflexão sobre suas oitavas…

A Aria na Corda Sol de Bach possui um belíssimo baixo em oitavas para você apreciar.

Podemos pensar ainda no intervalo de quinta, ou a quinta nota afastada da nota do na S.H.

O arquétipo do cinco é fácil de imaginar, é um dos mais difundidos por aí, até um pouco banalizado, o pentagrama. Poderíamos pensar também no famoso Homem Vitruviano.

O 'Homem Vitruviano' de Leonardo da Vinci está liberado para exposição no  Louvre - GQ | Cultura

Já disse o grande magista E. Levi, é preciso ‘amar sem querer’, uma grande chave de criação do próprio destino, o exercício da Vontade, em equilíbrio ao desejo, passando pelos 5 elementos.

Na S.H. depois da repetição de oitavas da nota do, aparece a nota Sol. A nota sol é a que dá nome para a Clave de Sol, clave de Chave, a Chave do Sol, o G na notação germânica, o G maçônico, sim, por que não, já que essa notação antiga vem da Idade Média, onde as ordens secretas e sagradas trabalhavam em secreto na Grande Obra.

Observemos as notações antigas das Claves, CHAVES, clave de Sol e outras.

Strabelli Musical: As Claves e sua evolução.

Já comentei que podemos inferir uma reflexão musical no nosso trabalho interior do 4 C, pensando, sentindo e agindo em relação a nossas atitudes para com o desejo? Dentro dos quatro elementos, como trabalhamos com nossos vícios? No ar, mente, na terra e ação física, no fogo, sentimentos abrasados ou violentos, quentes, na água, desejos profundos e ocultos, segredos no abismo do mar…Podemos observar cada elemento em nós e como o desejo que leva a perdição age…comer doces tendo diabetes, usar da violência verbal e abuso de poder para sobrepor aos demais, enfim, coisas para se melhorar não vão faltar para a gente observar com carinho, e deixar-se absorver pela nossa Amada Essência, criando assim a quintESSÊNCIA, o Éter.

Fica o Assim Falou Zarathustra, por ter intervalos de quinta muito expressivos já no início da peça, com a Sinfônica da Petrobrás.

“É muita areia pro meu caminhão.” Agora são doze notas! Já ouviu essa expressão? Então, quer dizer que estamos caminhando na música, com escalas (vamos chamar todo mundo de escala pra facilitar nosso entendimento, mas sabemos que são modos e escalas) que possuem cinco sons, pentatônicas diversas, seis sons (escala Debussyana), sete sons (modo jônico usado como referência mundial, a escala de do maior que tem a seguinte sequência matemática, tom, tom, semitom, T, T, T, st, portanto, todas as escalas chamadas maiores vão possuir essa sequência matemática, mudando a nota em que se começa a escala).

Gostaria que você, caro leitor, ouvisse os exemplos, para que esse conhecimento seja melhor absorvido.

Penta blues – https://www.youtube.com/watch?v=zwgXuL6Uay4 (Bud Guy).

Penta chinesa- https://www.youtube.com/watch?v=66xu3kn3Jc4 (Sheng).

Debussy para orquestra- https://www.youtube.com/watch?v=FOCucJw7iT8

Haydn, sistema ocidental sete sons- https://www.youtube.com/watch?v=OitPLIowJ70

Modal, o antecessessor do sistema de sete sons- Jethro Tull https://www.youtube.com/watch?v=B0jMPI_pUec

Ou Medieval mesmo

Hildegard – https://www.youtube.com/watch?v=Ei88J4lERbk

Pois bem, acontece que um estudioso e músico pensou que pudéssemos como cultura em evolução, ir além do sistema tonal, sem ter que retornar ao modalismo para desenvolver algo realmente novo.

Do ponto de vista da natureza, todas as notas possuem série harmônica, então nosso ouvido vai acabar ‘puxando’ o entendimento da música atonal para o tonalismo, porque é algo que acontece na natureza, é orgânico. Para evitar as séries harmônicas, tem que produzir chamados tons puros em laboratório, ou frequências de outros planetas, as quais ainda não se tem estudos consistentes ainda, a Nasa dispõe no site a tradução de frequências de planetas em música (porque tudo são notas, um perfume tem acordes, por exemplo, uma comida tem ‘harmonia’ de sabores, são vibrações por segundos mais altas ou menos altas).

Mas, a pesquisa e a capacidade de experimentar de Schoenberg, nos idos dos anos 20, nos leva a um paradigma que ficou esquecido dentro das universidades. Estranhamente, a música voltou para dentro da universidade, como ela começou a se organizar há mil anos atrás, na Idade Média, com uma diferença, a música dodecafônica não se popularizou e não se mesclou a música do povo, como acontecia na idade Média; essa música permaneceu com os engenheiros de som, estudantes de musicoterapia, estudantes de musicologia, enfim, cientistas da música em geral e também os físicos do som, na acústica e outras áreas de aplicação da vibração. Algumas trilhas de filme se utilizam da técnica, alguns compositores de trilha se inspiram na técnica, mas usar do jeito ortodoxo não, isso ficou confinado aos estudiosos.

Coisas interessantes sobre Schoenberg, ele tinha triscaidecafobia, o medo do número 13. Ele nasceu dia 13 de setembro e morreu dia 13 de julho, às 23h47min, 13 minutos antes da meia-noite, numa sexta-feira 13.

Uma das suas obras do início, ainda não era o auge do seu estilo.

A regra seria o seguinte, você vai utilizar as doze notas, sem HIERARQUIA, aliás esse é o princípio norteador, não pode repetir nenhuma das notas anteriores, sem antes terminar a Série, por isso, serialismo, série dodecafônica.

Do do# re re# mi fa fa# sol sol# la la# si, essa escala cromática pode ser misturada, pode ser

feito um espelhamento, pode fazer de trás pra frente, pode brincar com a análise combinatória com esses doze sons, mas não pode repetir nota antes que todos tenham sido contemplados.

Lembrando de Cromática vem de Cromo, Cor.

Alguns autores dizem que, há influência de uma motivação política e um ideal de igualdade por parte de Schoenberg já que ele sofreu a perseguição nazista durante a guerra.

Mas não sabemos, ele não escreveu especificamente afirmando isso.

‘’’’’ A produção musical de Schönberg pode ser dividida em quatro períodos: um primeiro período tonal, assumidamente na esteira da tradição romântica alemã (Ex:Noite Transfiguada op.4, Gurrelieder); o segundo período a partir de 1908, atonal (6 Peças para piano op.19); o terceiro período de 1920-1936 de base dodecafónica e serial (Variações para orquestra op.31), e finalmente o quarto período onde se dá o “reaparecimento intermitente da tonalidade” onde tenta uma síntese entre tonalidade e serialismo (Sinfonia de Câmara nº 2).

Schönberg foi uma figura extremamente controversa: criticado pelos conservadores por abandonar o sistema tonal, e igualmente criticado pelos vanguardistas (em particular por Boulez) por não ter levado o dodecafonismo até às últimas consequências.’’’’ (Casa da Música).

Aqui as variações sobre orquestra op 21

Honestamente falando, ele mesmo não segue a regra que criou, começa a obra já repetindo nota pedal, mas sem dúvida criou um novo paradigma organizado para os compositores do futuro, que desejam expandir a música como ciência.

Pensando, agora, em como utilizar isso num processo de trabalho interno, acredito que, o procedimento é o mesmo, gerar um choque, observar a reação, conexão com a essência, observação das sequências de notas como qualidades, absorção dessas qualidades, sendo o uso de algum arquétipo útil para visualização.

Por exemplo, eu pessoalmente, sou estudante de música, não gosto de música erudita contemporânea, como eu já conheço e fui obrigada a estudar, não me causa espanto, mas uma pessoa que não conhece, ao ouvir, tem até um certo choque. Coisa que é muito positiva, pois queremos que haja essa movimentação psíquica do novo, que saia da mecânica do ego inconsciente de si. Sendo assim, a simples audição dessas obras, por cinco minutos que seja, já é um trabalho interessante, se for esse caso de pessoas que desconhecem essa música.

Análise da Pintura A Última Ceia de Leonardo Da Vinci - Cultura Genial

A Última Ceia de Leonardo da Vinci.

Pode-se também, associar com 12 qualidades, por exemplo, podemos associar com a simbologia cristã, os discípulos e Cristo, observar cada qualidade de cada discípulo de Cristo em nós, Judas a provisão, Lucas a medicina; algumas pessoas associam os 12 apóstolos com os 12 signos do zodíaco. Gostaria de não me alongar nessas listas e esquemas, porque acredito que essa pesquisa deve ser feita de dentro para fora, buscar se isso tem ressonância no conhecimento que você busca nesse momento. Ainda assim contemplar a obra de Leonardo da Vinci é certamente um bom CATALISADOR para nosso auto burilamento, ao buscar refletir em 12 aspectos positivos a serem desenvolvidos, ou vícios a serem curados. Sim, a arte é um catalisador, um acelerador de processos desde que usado com prudência e intenção.

Podemos associar as 12 notas com doze planetas, mas uma pessoa com tendência materialista vai bloquear o conhecimento porque talvez não goste de astrologia. Cada planeta tem realmente uma frequência traduzida pela Nasa como música, mas daí a trazer como símbolo para o trabalho interior, já é algo de foro íntimo. Existe ainda autores que associam o 12 com doze qualidades de Deus, dentro de uma linha de conhecimento que chamamos Grande Fraternidade Branca, popular nos EUA nos idos dos anos 60, os primeiros a citarem o termo Nova Era. Para quem gosta de planetas, astrologia e percebe que tem ressonância no seu trabalho interior exercer essas associações, podemos recomendar a Sinfonia dos Planetas, não trabalha com doze notas e sim com doze características de cada planeta, interessante para ouvir em presença, em atenção, em meditação, reflexão e compreensão além do gosto musical, além do gosto ou não gosto.

Holst- https://www.youtube.com/watch?v=Isic2Z2e2xs

Se bem que o Holst não considera o Sol e a Lua como entidades energéticas, como é dentro da astrologia, então ‘falta’ planeta para trabalhar o doze. Mas é uma atividade válida, lembra música de filme, meio Guerra das Estrelas em alguns momentos.

Outro exercício interessante é a observação e anotação de aparecimento de imagens, sensações e lembranças ao ser exposto a um material musical. Faço isso com meus clientes, de idades variadas, quando os exponho a escalas variadas, sendo aula ou terapia mudando apenas a abordagem, percebendo que, por exemplo, ao expor clientes diferentes de idades diferentes e situações de personalidade muito diferentes, há reações parecidas quando expostos as escalas pentatônicos de sabor chinês. Por que ao retirar a tensão, para nós do 4C trata-se da retirada dos choques, por que dá a sensação de calma, relaxamento profundo, sono. Então, se expor diretamente ao ouvir a escala de doze sons, que chamamos de cromática, é um exercício  

interessante, porque a escala vai passar pelos dois choques, mi fa, si do, mas vai passar com mais coloridos, com mais notas, porque vai passar toda com semitons. Se antes estávamos trabalhando com uma situação com sete matizes, sete notas, sete características, agora passamos por essa situação com mais detalhes, não é mais apenas do, é do#, não apenas re, e sim re#.

Parece-me que há um aperfeiçoamento na observação, uma atenção aos pequenos detalhes da situação. Não dizem ‘o diabo mora nos detalhes’, (?), pois então parece realmente muito útil, tentar se expor a escala cromática colocando a intenção de colocar mais luz sobre uma questão. Claro que, a percepção sempre vai mudar de acordo com o nível de ser e circunstâncias específicas pessoais, momento histórico, etc; ainda assim, certamente que causará estranhamento, porque não se ouve de forma comum a escala cromática e sim a escala de doze sons.

No jazz se usa o cromatismo como forma de aproximação de uma modulação para outra, interessante observar essa simbologia, se é usado como aproximação cromática de modulações, isso entra em consonância com o fato de a cromática trazer atenção aos detalhes, sendo uma forma de conectar uma coisa a outra aproximando-as, desde que dentro de um contexto musical tonal (se falando de jazz, é claro).

Thelonius e Coltrane, puro charme.

A melhor forma de entender é vivenciar, vamos experimentar escutando jazz, percebendo como os músicos em seus improvisos se utilizam do cromatismo para passear pelas tonalidades, às vezes muito afastadas e também observar nossas reações ao ser exposto a escala cromática pura e simplesmente.

Nesse link tem explicações das escalas e áudios para você poder fazer esse exercício.

http://www.deniswarren.com/?page_id=2386

Nesse outro link, uma sugestão de ouvir John Coltrane, az da improvisação do jazz. Excelente para perceber as aproximações cromáticas e se perguntar, como posso me aproximar das pessoas, cromaticamente, sem conflito e depois sair dessa aproximação e voltar para minha própria tonalidade pessoal?

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